Uma mulher singular

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Luzia Schiapim dos Santos

Luzia Schiapim dos Santos é a presidente
do Conselho de Mulheres da Associação Comercial de São Paulo –
Distrital Lapa e sócia de uma empresa de segurança e medicina do
trabalho, juntamente com o marido. Além das atividades profissionais,
gosta de ser lapeana (mora no Alto da Lapa) e de cozinhar, joga vôlei
três vezes por semana e dedica boa parte do seu tempo aos quatro netos.
Nesta entrevista, revela uma história pessoal interessante e peculiar,
e esperamos desta maneira, homenagear as nossas leitoras, em
comemoração ao Dia Internacional da Mulher, no próximo dia 8 de março.
Conte um pouco de sua história. A senhora nasceu onde?
Sou
do interior de São Paulo. Nasci em Igarapava, cidade próxima a Ribeirão
Preto. Me mudei para cá quando tinha 16 anos. Hoje, tenho 61 anos. Faz
um bocado de tempo. Aqui, fiz colégio e faculdade de pedagogia. Me
formei pela Faculdade Campos Sales, aqui na Lapa.

E desde então que a senhora tem ligação com a Lapa?
Me
considero lapeana. A Lapa é minha casa. Quando vim para São Paulo,
primeiro morei na Pompeia e depois na Lapa. Foi quando entrei na
Polícia Militar.

O que ou quem a motivou seguir a carreira militar?
Eu
tenho um tio, que hoje é major aposentado. O filho dele atualmente é o
comandante do canil da PM. Eu e minha irmã entramos juntas na Polícia
Feminina. Na época em que nós entramos tinha a Polícia Feminina e a
Força Pública. Depois, com a junção das duas, virou Polícia Militar de
São Paulo. Naquela época, era preciso ter no mínimo colegial. Entrei
como sargento. Fiz um curso de seis meses. Entre mais de mil candidatas
e eu e minha irmã ficamos entre as trinta primeiras.

E o que a carreira militar lhe proporcionou?
Foi
muito útil até hoje. Ajudou na maturidade da vida. Hoje em dia, com o
problema da segurança, a gente aprende a ficar mais atenta. Qualquer
coisa estranha, você consegue detectar alguma coisa estranha.

A senhora fazia patrulhamento nas ruas?
Sai
às ruas poucas vezes. Trabalhava em comunicações, mais internamente.
Fiquei dois anos. Foi lá onde aprendi para-quedismo e conheci meu
marido Lys.

O para-quedismo entrou como na sua carreira?
Fui
convidada e aceitei. Fui da primeira turma de para-quedistas da Polícia
Militar. Meu brevê é número 5. Saltava de 1500 metros e fiz uns 11
saltos.

Aonde a senhora fazia seus saltos de para-quedas?
Em Mogi e também em Boituva, no interior.

Seu marido (Lys dos Santos) também era militar?
Não. Ele era civil. Fez o curso junto com a nossa turma e a PM era quem ministrava esses cursos na época.

Foi na PM que a senhora aprendeu a atirar?
Eu
fazia tiro ao alvo como treinamento militar. Embora não usasse armas,
fazia parte do treinamento, o tiro ao alvo. Uma vez por mês, ia até o
stand de tiro treinar. Eu atirava bem. Mas depois, deixei de lado.

Ainda pratica tiro ao alvo?
Não,
hoje não. Hoje em dia, não aconselho ninguém a ter uma arma em casa.
Você nem sempre está em casa. Algum bandido pode entrar na sua casa e
achar a arma, mesmo que escondida. Não aconselho ninguém ter arma em
casa.

E saiu da PM por que?
Eu fiquei dois anos.
Minha irmã ficou um ano mais e depois saiu também. Eu e o Lys estávamos
para casar. Ele estava com um trabalho fora de São Paulo e não estava
conciliando meu trabalho com o dele. Eu trabalhava no centro de
comunicação, trabalhava muito a noite. Ele trabalhava de dia. Então não
ia dar certo. Tirei uma licença e depois não voltei.

E depois?
Fui
dar aulas em escolas, depois virei diretora de escola no bairro do
Ipiranga. Depois fui ser orientadora de escola. Tempos depois, larguei
tudo e fui trabalhar com o Lys na empresa. Ele precisava de alguém.

A senhora já era esportista?
Sempre
pratiquei muito esporte. Quando jovem, joguei vôlei no colégio e
participei de muitos campeonatos na cidade, dos Jogos Abertos do
Interior. Ainda hoje, jogo vôlei três vezes por semana na ACM-Lapa com
uma turma de amigos.

Há muita diferença entre mulher e homem? Quais os pontos fortes de cada um?
A
mulher empreendedora tem um perfil. A dona de casa tem outro. A que
fica em casa tem mais medo de se atirar, do novo. Não tem muito
incentivo. Talvez falta a família incentiva-la. Eu acho que a mulher é
muito capaz. Uma mulher quando quer, ela mostra que é capaz. A mulher
bem preparada administra melhor do que o homem. Ela consegue ser mais
sensível e ser mais emocional. O homem é racional. A mulher é racional
e emotiva.

A senhora é uma mulher de atitude…
Sempre
trabalhei fora. Sempre fui independente. Trabalhei em banco e depois
fui ser militar. Mas quando o Lys foi presidente do Rotary-Lapa, eu fui
presidente da Associação das Famílias de Rotarianos da Lapa (Asfarla).
Fazemos toda a parte social do Rotary-Lapa. Temos um bazar permanente.
Ajudamos muito a diversas entidades. Criamos a campanha de material
escolar. Neste ano, arrecadamos material junto com outras entidades
aqui do bairro.

A senhora sempre fez esse trabalho social?

fui governadora do clube social que funciona dentro da ACM-São Paulo.
Viajei por vários paises como Canadá ou outros na função.

Explique o trabalho do Conselho da Mulher na Associação Comercial de São Paulo-Lapa…
O
Conselho da Mulher da ACSP-Lapa faz uma parte social. Antes era chamado
de Conselho da Mulher Empreendedora. Ele já tem 6 anos. Hoje não
precisa ser uma mulher empreendedora. Basta ser mulher. Todas as
esposas de conselheiros da ACSP-Lapa participam. Hoje somos 26 ou 27.
Todas são lapeanas.

Atuam em que?
Fazemos muitas
campanhas. Em maio, lançamos a campanha do agasalho. Em junho e julho
já passamos os donativos para as entidades, todas são daqui da Lapa.
Tem idosos, crianças, portadores de HIV.

Quais as campanhas que vocês promovem no ano?
Em
agosto, a gente promove a campanha dos brinquedos. Em setembro a gente
arrecada os brinquedos e entrega em outubro. Em novembro, a campanha do
material escolar. Arrecadamos em novembro e dezembro e entregamos em
janeiro. Sempre promovemos reuniões com a comunidade. O ingresso é um
kit de material escolar, por exemplo.

A comunidade tem participado dessas campanhas?
De
2007 para 2008 crescemos bastante. Antes a gente fazia a campanha meio
em cima da data da entrega. Hoje, promovemos um evento, um chá ou um
desfile e vem todo mundo. A gente entrega os donativos junto com a
comunidade. Entregamos para as crianças do orfanato do Padre Tarcísio.
E para os Rogacionistas. Antes a gente levava até o local, hoje, as
entidades retiram aqui com a gente. Funciona melhor.

Como a senhora concilia a vida profissional com a familiar?
Cuido
da família com prazer. Levanto cedo, preparo o café da família, vou
fazer alguma coisa, volto para casa, faço o almoço e levo para o Lys e
nós almoçamos juntos quase todos os dias. E os meus quatro netos, são
tudo para mim. Duas meninas e dois meninos. Sempre estamos juntos.

A senhora se diverte com que? Livros, cinema?
De
cinema, gosto do Richard Gere, como ator. De livros, gosto de romance.
Leio muito Sidney Sheldon e livros espíritas. Sou católica, mas gosto
desses livros. Leio muito e gosto de distrair a mente. Adorei o livro
do Amyr Klink (100 dias entre o céu e o mar) que ele descreve a
travessia a remo entre a África e o litoral da Bahia.

A senhora se considera feliz?
Sou
aposentada, mas continuo trabalhando normalmente. E não tomo nada de
remédio. A única dor que sinto é quando um músculo dói pelo esforço com
o vôlei.

A impressão que a senhora passa é que no seu relacionamento tudo funciona muito bem…
Sabe
qual é o nosso segredo? Meu marido é apaixonado por mim e eu por ele. A
gente não consegue ficar longe um do outro. Um respeita muito o outro.
Sem respeito não dá. Dentro de casa, no trabalho, em todos os lugares.
Somos parceiros em tudo. Antes, eu tinha medo de trabalhar com ele,
porque pensava que não iria dar certo. Mas correu muito bem e eu até me
arrependo de não ter ido antes.

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