Morador da região do Alto da Lapa há meio século, o cineasta e escritor Chicralla Haidar tem aos 92 anos muitas histórias para contar.
Nascido no Rio de Janeiro e descobriu a arte graças ao cinema que fazia divisa com sua casa. Conta assistia os filmes ao lado do pianista que na época era quem fazia a trilha sonora dos filmes.
A partir daí, o garoto Chicralla começou a fazer com caixas de sapato seus projetores. Anos mais tarde, seguiu para Los Angeles, nos Estados Unidos, para estudar cinema na University of Southern Califórnia. Depois de concluir o curso, foi contratado pela International Film Productions, em Hollywood, escrevendo roteiros e dirigindo filmes.
Sua carreira de cineasta, o levou a filmar no Canadá, na Bolívia, no Brasil e em Serra Leoa.
Na temporada nos Estados Unidos, conheceu muitas pessoas do meio. A cantora e atriz Carmem Miranda (1909/1955) era uma dessas pessoas que ele conta ter convivido muito. “Além de ser muito simpática e simples com todos, não tinha vaidade. Eu ia muito à casa dela e na época era o maior salário na indústria do cinema”, lembra ele.
Durante uma filmagem de dois filmes educativos na África, ele contraiu malária que quase lhe custou a vida. “Fui salvo graças aos médicos ingleses que circulavam pelo país prestando atendimento à população branca”, conta ele. Teve que retornar para o Rio para se tratar melhor.
A volta ao Brasil o levou a organizar o setor de cinema da então Campanha Nacional de Educação Rural. Fez vários filmes educativos em colaboração com o Instituto Nacional do Cinema Educativo, que tinha o cineasta e mais tarde grande amigo de Chicralla, Humberto Mauro. “Ele era muito culto e habilidoso. Fui muito amigo do filho dele, Zequinha Mauro, um dos maiores câmeras que conheci”.
Entre os filmes preferidos, cita “A Estrada” de Federico Fellini. “Para mim, os filmes italianos são marcantes e gosto dos filmes ingênuos do Humberto Mauro”.
Quando parou de dirigir filmes, Chicralla se dedicou a escrever. Publicou, em 2007, o livro “Contos para Cinema e Televisão” (Scortecci Editora), que também remetem ao cinema e à televisão.
Casado com a educadora Maria de Lourdes, tem dois filhos, Alberto que mexe com informática e Mário, que trabalha na O2 Filmes.