Amor|de circo

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Amor de circo

Hugo Possolo, um dos fundadores do grupo Parlapatões, fala de sua paixão pelo circo.

Em parceria com Raul Barretto, Hugo fundou, em 1991, o grupo Parlapatões, que tem uma sólida carreira no cenário artístico paulistano. A dupla, além de atuar, escreve, dirige e produz seus espetáculos, que geralmente são encenados no Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt. Eles mantêm também na Vila Romana o Galpão Parlapatões com 400 m2 divididos em espaços para atividades de circo e teatro, com todos os equipamentos de segurança e equipe de instrutores e monitores experientes que recebem artistas e crianças de todas as idades. Na entrevista feita no dia 27/3 – Dia do Circo, Hugo fala de sua paixão pela arte circense, a trajetória do seu grupo e muito mais. 

Quando teve início seu envolvimento com o circo?
Desde a adolescência. Me formei palhaço e trapezista pela Escola Circo Picadeiro. Trabalhei muito fazendo apresentações nas ruas com vários colegas de profissão. 

A escolha pela rua foi uma opção ou falta de espaço para mostrar sua arte?
Por opção mesmo. Aliás, até hoje, os Parlapatões mantêm quatro espetáculos em seu repertório que foram pensados para serem apresentados nas ruas. Na rua, o artista aprende muito. O público precisa ser conquistado, já que não tem o conforto das poltronas e o espaço é improvisado. 

Como os Parlapatões surgiram?
Na escola Picadeiro. Eu e outros artistas nos unimos e criamos o grupo. Tivemos várias formações até que encontrei o Raul Barreto. 

Cada um de vocês tem função definida?
Não. Fazemos de tudo um pouco e de forma natural cada um defende suas ideias. Hoje, trabalho mais escrevendo e dirigindo, mas também atuo. E nunca deixei de me apresentar como palhaço, que eu adoro. 

Tem nome seu personagem?
Fui batizado como Tililingo na escola, mas hoje isso praticamente não existe. Para mim, a importância do palhaço está mais na maneira e no espírito com que ele se apresenta para o público. 

Como foi a experiência dos Parlapatões com o Circo Roda Brasil?
A parceria com o grupo Pia Frau durou oito anos. Resolvemos depois que era hora de cada um trilhar caminhos distintos. Nos separamos, mas mantemos a amizade. Fizemos muitas temporadas rodando pelo Brasil. Uma delas foi com o espetáculo Oceano, que se apresentou por semanas no Memorial da América Latina e depois excursionamos pelo interior paulista com o patrocínio da CCR Rodovias. 

Qual é sua opinião em relação a incentivos e patrocínios?
Acho que há vários mecanismos para apoiar a cultura. A Lei Rouanet despertou as empresas para patrocinar a cultura e a arte por conta de incentivos fiscais. É válido, mas as empresas deveriam patrocinar a cultura por acreditar e reconhecer a importância da arte. Nos Estados Unidos, as empresas fazem isso sem incentivos fiscais. Lembro que quem mais recebe incentivos no Brasil são as indústrias. E se tem incentivo para elas, por que não ter também para a cultura? 

O vale cultura chega em boa hora?
Sim. É bom para todos, artistas, produtores e, principalmente, para o público, que poderá ter acesso à cultura de maneira direta. 

Muita gente procura cursos para aprender a arte circense. Por quê?
Para realizar um desejo, assim como alguém procura uma escola de violão, mas não necessariamente quer ser um músico. A arte circense é um híbrido entre arte e esporte. É um desafio físico que diverte e tem arte. No Galpão Parlapatões mantemos um curso de artes circenses. 

Como você define o trabalho dos Parlapatões em relação ao circo?
Nossa característica é fazer um trabalho de pesquisa e buscar uma nova linguagem. Fazemos um trabalho mais artesanal e mais brasileiro. Queremos resgatar o circo popular e batalhamos por uma forma diferente de fazer arte circense. Como palhaço e trapezista, sou apaixonado pelo circo. 

As cidades deveriam ter espaços fixos para os circos?
Ainda faltam espaços para os circos. Existe um grupo, Aliança pró-Circo, que busca terrenos públicos para eles. Felizmente, a prefeitura tem ouvido nossos pedidos. Mas, com a especulação imobiliária, fica mais difícil encontrar esses espaços. Acho que é importante que a cidade tenha espaço para os circos tanto na periferia como nas áreas centrais, onde o acesso é mais fácil para o público.

Vocês já ganharam vários prêmios (APCA, Coca-Cola Femsa, Shell). Fale sobre eles.
O significado é grande para quem ganha. Mas nenhum artista faz espetáculo pensando em ganhar prêmios. O prêmio é um reconhecimento pela qualidade do seu trabalho. E é bem-vindo. O artista precisa fugir da cilada de fazer espetáculos para ganhar prêmios. Antes de tudo, o espetáculo precisa ter uma ideia e inspirar reflexão ao público. Ganhar prêmios ajuda a divulgar o trabalho e isso é bom. 

Como é formado o repertório dos Parlapatões?
Encenamos textos de Dario Fo, Shakespeare, Karl Valentin, e os nossos. Reinventamos os clássicos dentro das nossas características, como é o caso de Molière. Trabalhamos com o teatro popular e procuramos dar aos textos clássicos nossa roupagem e estilo. Os clássicos sempre podem ganhar novas interpretações e roupagens. 

A melhoria da Praça Roosevelt leva mais público?
Aquele espaço estava deteriorado e abandonado pelo poder público. A recuperação da praça ajudou a nós e aos outros teatros do entorno. Fizemos várias ações pedindo melhorias. Retomar um espaço público é uma vitória da população. Hoje, a praça recebe skatistas, crianças e todas as praças precisam ser ocupadas pelas pessoas de bem, que é a maioria. Se isso não acontece, a bandidagem ocupa. O espaço público é da população. 

Como vieram parar na Vila Romana?
Na verdade, há tempos vínhamos procurando espaço para guardar nossos objetos e acervo, bem antes de termos o teatro na Roosevelt. Dividíamos o espaço com os colegas do Pia Fraus. Quando desfizemos a sociedade, reformamos o lugar e fizemos as adaptações necessárias. Hoje ele funciona como espaço para ensaios, aulas de circo, workshops, eventos corporativos e vivências de circo para crianças. É um lugar onde damos continuidade às nossas pesquisas.

Que trabalhos vocês estão fazendo?
O Raul está no elenco da novela Meu Pedacinho de Chão. Eu estou ensaiando um novo espetáculo, a comédia A Besta, de David Hirson e direção de Alexandre Reineck e produção nossa em parceria com Giuliano Ricca. É a primeira vez que conseguimos juntar essa turma de amigos para trabalhar juntos. O diferencial desse espetáculo é que ele é todo falado em versos. 

Quem mais está no elenco?
Estou acompanhado por Ary França, Priscila Fantin, entre outros. Nossos ensaios acontecem no Galpão Parlapatões. A estreia será em maio, no Teatro Gazeta. 

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