O futebol além-mar

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Renan Augustinho Marques

Renan Augustinho Marques nasceu em Fernandópolis (SP) e veio morar na Vila Leopoldina quando completou um ano de idade. Como a maioria dos meninos, sempre gostou de futebol e aos 8 anos começou a jogar na várzea. A habilidade com a bola o levou a clubes como Palmeiras e Corinthians, onde treinou nas categorias de base. Depois de passar por diversos clubes brasileiros, foi jogar na República Tcheca. A partir daí sua carreira ficou focada na Europa e na China, onde jogou em dois clubes. Atualmente, o centroavante defende o clube Santa Clara, da segunda divisão do campeonato português, da Ilha dos Açores. O jogador, em férias no Brasil, falou com o Guia Daqui Lapa/Leopoldina no dia seguinte à vitória do Brasil frente a Costa do Marfim e conta um pouco da sua vida de jogador de futebol e seus sonhos.

Onde você começou no futebol?
Jogo futebol desde os 8 anos. Comecei na várzea jogando no Engenheiros de Pirituba. Joguei uns cinco anos lá.

E da várzea você foi para onde?
Recebi um convite do Paulo Borges (ex-jogador de futebol) para treinar no Corinthians. Em 97, fui para o Palmeiras e saí no final de 2003, por discordar da maneira como eles queriam fazer um contrato comigo.

Você já recebia salário?
Sim, desde juvenil eu recebo para jogar futebol.

Por onde você já passou?
Em 2004, joguei no Juventude de Caxias do Sul (RS). Em 2005, joguei no Juventus (tradicional equipe da Mooca), onde fomos campeões da série A2 e subimos para a primeira divisão. Em 2007, fui para o Botafogo de Ribeirão Preto. Fiquei pouco tempo, porque recebi o convite para jogar no Dynamo de Ceské Budejovice, equipe da primeira divisão da República Tcheca.

Como foi a experiência?
Fiquei só quatro meses, não me adaptei, principalmente com o frio.

A língua foi um complicador?
Dentro de campo nem tanto. Fora de campo é que era difícil. No time, eu era o único sul-americano. Saí e fui para Portugal, onde tinha um amigo. Fiquei treinando à espera de uma nova oportunidade.

É quando você foi para a China?
Pois é. Eu nem imaginava que um dia iria jogar na China. Eram umas 10 horas da noite, o telefone tocou e meu empresário me avisou que no dia seguinte eu iria para a China jogar. Até pensei que ele estava brincando comigo. Mas era verdade.

Foi o tempo de arrumar as malas e ir para o aeroporto?
Na hora, liguei para os meus pais. Para mim, eles são primordiais na minha carreira. Meu pai me deu força e disse que se era esse o meu sonho, que eu deveria ir. E fui.

Jogou em que clube?
No Sichuan, da segunda divisão do campeonato chinês, de Chengdu, capital da província de Sichuan. Eu estava lá quando, em maio de 2008, aconteceu um terremoto de 8,1 graus na escala Ritcher que matou muita gente.

Como foi isso?
Foi algo que aconteceu na minha vida que eu não indico para ninguém. O prédio onde eu e um colega de Cabo Verde morávamos tremeu muito. Foram dois minutos de tremor e de susto. Eu estava tomando banho e só tive tempo de vestir uma roupa e sair para o pátio. Dormi duas noites fora de casa. Foi horrível.

Apesar do terremoto, você continuou por lá?
Pois é, joguei dez meses, todo o campeonato. Voltei para o Brasil de férias e aqui conheci meu atual empresário, que é chinês e cuida dos interesses do Hernanes e Marcelinho Paraíba (ambos jogando atualmente no São Paulo F.C.). Graças ao meu desempenho, fui contratado por um clube da primeira divisão, o Xiangxui Eisiti, de Shinzen, próximo de Hong Kong, um lugar muito legal.

Que dificuldades você encontrou na China?
O mandarim é muito difícil. Com uns colegas eu falava em inglês e tinha um colega que falava português. A comida, no início, era meio diferente e muito apimentada.

Você sentiu saudades da “comida da mãe”?
A pessoa que realmente quer chegar a algum lugar precisa fazer alguns sacrifícios. Tinha saudades da minha mãe, do meu pai, do meu irmão e da minha noiva. Mas tinham outras opções como churrascaria, cantinas italianas. Poderia comer fora todos os dias, sem problema.

E conviver com os chineses?
O chinês, no início, é reservado e desconfiado. Mas a partir do momento que eles entendem que você faz parte do grupo, todos são muito bacanas. Fiz boas amizades com os chineses. Querem que eu volte.

E por que trocou a China por Portugal?
Sempre quis jogar na Europa. Em 2009, quando o campeonato chinês entrou em férias, surgiu o convite do Santa Clara, dos Açores. Eu ainda não tenho o passaporte da comunidade europeia, mas em breve terei, por conta da minha avó ser italiana. Com esse passaporte, muitas portas serão abertas.

Como foi a última temporada?
Não correu como a gente queria. Não subimos para a primeira divisão. O Santa Clara ficou em terceiro, a três pontos do segundo colocado. Mas apesar disso, a temporada, no geral, foi boa. Tenho contrato até junho de 2011.

Você quer jogar no Brasil?
Acho difícil. Quero jogar na Europa. Se até o final do contrato não surgir uma proposta interessante, é bem provável que eu volte para a China.

Você não tem mercado aqui?
Como saí cedo, não fiz nome aqui. Agora, com 27 anos, os clubes acham que estou ‘velho’. Na Europa e na China ninguém vê assim. Como o Brasil tem tantos moleques, a concorrência é muito maior. Na Europa, acreditam mais e não tem problema com relação à idade.

Você já tomou calote desses clubes em que você jogou?
Graças a Deus nunca tive esse problema. Sei de muita gente que tomou calote. São poucos os jogadores que não têm ações contra clubes.

Onde você gostaria de jogar?
Tenho vontade de jogar no Oriente Médio. O mercado é interessante e pagam muito bem. Eu penso muito no meu lado financeiro. Se hoje tivesse que escolher entre jogar aqui ou ali, eu pensaria primeiro no financeiro. Futebol é minha vida. Mas jogar e ganhar bem fica muito melhor (risos).

Você quer jogar até que idade?
Até me sentir bem. E depois que parar de jogar futebol, quero terminar a faculdade de administração que parei no terceiro ano. Com o dinheiro que já ganhei no futebol, investi aqui e futuramente quero abrir um negócio meu.

Vai continuar no futebol?
Não pretendo. A vida de jogador de futebol é bem difícil. Mesmo jogando no Brasil, você joga quarta e domingo, raramente fica em casa. Na Europa, embora os jogos sejam nos finais de semana, também é um sacrifício.

Vale a pena ser jogador?
Sim, não me arrependo de nada.

Tem saudades da Leopoldina?
Basicamente dos amigos, da família e da minha noiva, que também mora aqui. Ela já foi algumas vezes me visitar lá nos Açores.

O que você acha dos jogadores que trocam de nacionalidade?
Acho que é válido. É uma oportunidade de jogar uma Copa e aqui seria difícil. A seleção portuguesa tem três brasileiros: Deco, Liedson e Pepe. Eu nunca recebi nenhum convite nesse sentido.

Aqui você torce para qual clube?
Sou palmeirense. Apesar de ter jogado no Corinthians. Meu pai ficou decepcionado (risos) mas depois aceitou.

Os técnicos no exterior valorizam o jogador brasileiro?
Sim, muitas portas me foram abertas por eu ser brasileiro.

Com qual jogador da atualidade você se compara?
Ao Adriano, o Imperador. Não da parte extracampo. Eu e ele somos canhotos, temos um estilo parecido, e lá no Sichuan me chamavam de Imperador, pelo chute forte e semelhança física. Para mim, o Ronaldo, o Fenômeno, é espetacular e não tem igual. Gosto do Cristiano Ronaldo.

Que tal a seleção do Dunga?
Do primeiro jogo não gostei. Mas, contra a Costa do Marfim, gostei do esquema tático e da disposição dos jogadores.

Pretende jogar uma Copa?
Sem dúvida. Em 2014, vou estar com 31 anos. Se eu jogar num clube maior, de maior expressão, quem sabe… É um sonho que me faz batalhar ainda. Enquanto eu sonhar, vou continuar jogando.

Mesmo em férias, você cuida da parte física?
Sim, todos os dias. De manhã, corro no Parque Villa-Lobos. À tarde, vou na AllFlex, aqui na Leopoldina. Preciso me manter bem e evitar lesões.

Graças ao futebol você já conheceu muitos países…
Viajei bastante. Conheço muitos lugares graças ao futebol. E pretendo viajar muito mais ainda. Com isso cresci e amadureci como pessoa e pude ver a vida de uma outra maneira.

Para encerrar, que final você gostaria de ver na África do Sul?
Brasil e Argentina. Seria muito interessante ganhar deles (risos).

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