Disposição para a vida

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Kelly Monteiro
9h30 da manhã. O advogado João de Sá, 68 anos, chega ao seu escritório, na rua Clélia, para esta entrevista sobre os benefícios da atividade física. “Saí da academia e já atendi dois clientes antes de vir para cá”, diz ao entrar na sala de reuniões, com um sorriso no rosto, esbanjando disposição e satisfação, características de quem está em plena forma e vive bem.
Casado, três filhos, João de Sá construiu uma sólida carreira na Lapa, onde mora desde que veio de Portugal, aos 12 anos de idade. Durante nove anos foi diretor da Sub-Seção Lapa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e atualmente preside a Comissão Eleitoral da OAB-SP – 2006, entre outras atribuíções e uma participação ativa na comunidade.
Mesmo assim, ele encontra tempo para o atletismo, participando de provas como a Corrida de São Silvestre. Em uma época em que a vida moderna é, por natureza, sedentária, João de Sá prova que a atividade física traz inúmeros benefícios: “Pessoas ativas têm vidas mais intensas. Resistem às doenças e permanecem em forma. São autoconfiantes, menos deprimidas e mesmo com idade avançada continuam trabalhando com grande energia e até iniciando novos projetos”.
Conheça mais sobre o senhor João de Sá: um incentivo para melhorar seus hábitos de vida.
Quando o senhor começou a correr já pensava em competir?
Quando me associei ao Clube Jaraguá, há 30 anos, participava de um grupo de educação física. Na época, o cooper estava em moda. Era preciso percorrer 2.400 metros em 12 minutos para fazer um tempo bom. Com a criação de um departamento de atletismo surgiu um clima novo porque quem gostava de correr começou a participar de provas fora do clube. Foi o meu caso. Mas ainda não pensava em competição. Corria os 2400 metros, mas queria mais! Precisava de um condicionamento físico melhor, ginástica específica e avaliação médica. Fiz uma série de exames e estava bem para a corrida. E aí veio aquela animação! Corri dez quilômetros em um tempo que era extraordinário para mim naquela ocasião. A meta seguinte era baixar o tempo. Foi quando saí da recreação para a competição. Fazia dez quilômetros em uma hora. Quando consegui fazer os dez quilômetros em 50 minutos foi um troféu que ganhei! Estava tão entusiasmado que treinava cinco vezes por semana. Em 1999, eu participei de mais ou menos 40 provas.
Tinha que idade quando participou destas 40 provas?
Estava com 60 anos. Às vezes corria no sábado e no domingo. O desgaste físico era razoável, mas eu tinha uma boa condição. Nesta ocasião, ganhei cerca de 37 medalhas e meia dúzia de troféus. Tem provas que basta completar o percurso para ganhar medalha. E tem as provas classificatórias. Destas, participei de um circuito litorâneo e na etapa do Guarujá fui o primeiro na minha categoria. Foi extraordinário! (risos).
Qual sua melhor classificação na São Silvestre?
Teve um ano que, na minha categoria, fiquei em 16º lugar. Foi uma classificação razoável. Eu já estava com quase 60 anos e consegui fazer cada quilômetro em cinco minutos. É um tempo bom. Hoje, participo das provas mais por recreação.
O que mudou na sua vida com a prática esportiva?
Mudou bastante coisa. O esporte te educa na alimentação, nos hábitos; tem que descansar mais e instintivamente passa a escolher o que vai comer. Eu, que sou português da Ilha da Madeira, sempre fui ponderado quanto à alimentação. Mas quando comecei a praticar esporte, me eduquei de vez. Hoje, minha alimentação se constitui de fruta, verdura, vegetal. Reduzi substancialmente o consumo de carne vermelha. Antes, fazia ginástica porque teria mais agilidade, reflexo e velocidade. E com o passar do tempo perdemos massa muscular e ganhamos gordura, problemas nas articulações. Conscientizei-me disso e vi os benefícios que o esporte me trazia.
Hoje, sua condição física é parecida com a de 30 anos atrás?
Sim, a minha qualidade de vida não mudou. Claro que há as limitações da idade, mas eu gozo a vida plenamente. Participei de um estudo no Hospital das Clínicas que mostrou que quem pratica esporte com freqüência, com orientação e regramento, têm o sistema imunológico 52% mais resistente do que o dos sedentários.
Essa resistência se verifica também de outras maneiras.
Sim, por exemplo, a memória fica mais ativa e a auto-estima mais elevada. Também aprendi que uma das causas do estresse nas pessoas é trabalhar com má vontade. O esporte me deu condição de fazer tudo com alegria, disposição e alto astral. Vejo pessoas desanimadas, barrigudas e que não se preocupam com isso. Ao tomar consciência, muda-se a vida. E além disso preciso dormir que nem bebê: oito horas por noite!
O que mais faz parte da sua rotina para se manter em forma?
Eu vou quatro vezes por semana, pela manhã, à academia. A noite, treino no Clube Jaraguá. Uma coisa fundamental na minha faixa etária é o alongamento, por causa das articulações. Na academia faço exercícios para as articulações, para a musculatura, para a flexibilidade. O exercício retarda a perda de massa muscular. Portanto, tem-se mais tempo para aproveitar as coisas boas da vida.
O que diria para quem quer começar a praticar atividade física?
Primeiramente é preciso fazer uma avaliação física. E os exercícios devem ser de acordo com a sua capacidade. A gente não pode fazer em um mês o que não fez em dez anos. O nosso organismo sente. Cansaço é próprio de um esforço feito. Dor é um alerta.
O senhor acredita ter começado a correr muito tarde?
É, eu podia ter começado antes, mas as circunstâncias eram outras. Enfim, foi no tempo certo. Minha qualidade de vida melhorou. Deixei de perder os domingos dormindo até o meio-dia; levanto cedo, vou ao clube, faço ginástica, tomo uma cervejinha…
Tomar uma cervejinha não influi no condicionamento físico?
Não, não! E tomo um cálice de vinho à noite… Português gosta de vinho, não é? (risos). Naturalmente que o esporte faz com que isso seja muito moderado. Essa disciplina vem para a sua vida social, profissional e familiar. É muito bom também quando você vê que o seu comportamento passa a ser uma referência para outras pessoas. E idade é questão de mentalidade. Sei das minhas limitações. Mas não me sinto velho. Sinto-me bem com 68 anos e não perco nada nesta vida!

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