Prevenir é a solução

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Foto: Tiago Gonçalves

Tiago Gonçalves
Daniela Pedroso

A psicóloga Daniela Pedroso trabalha há 22 anos atendendo vítimas de violência sexual em consultório e em um hospital público especializado. E aqui ela fala sobre o assunto e o que se deve fazer para prevenir.

Daniela é formada pela Universidade Mackenzie é mestre em Saúde Materno Infantil pela Universidade de Santo Amaro (UNISA) e moradora da Lapa.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 70% da vítimas de estupro no Brasil são menores de idade. E entre 2012 e 2015, foram reguistrados mais de 120 casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes segundo o Disque 100 (Disque Direitos Humanos) do governo federal.

Para Daniela, “O assunto passou a ser mais comentado nos dias atuais. Isso é positivo e o tema deixou de ser tabu. As crianças e adolescentes que sofrem essa agressão devem receber atendimento não só psicológico como também de saúde física. É o crime mais subnotificado no mundo. Acredita-se que apenas 10% das vítimas procuram ajuda e tratamento.”

As marcas por conta de violência sexual não são esquecidas pela vítimas. “Mas quando a vítima busca um tratamento especializado, essas marcas podem ser minimizadas.” O não tratamento pode causar outros danos às vítimas. “A criança ou adolescente que sofreu violência sexual, pode se tornar um adulto com comportamento agressivo, se envolver com drogas lícitas e ilícitas e em alguns casos, até se tornar um agressor sexual também”, diz Daniela.

A psicóloga informa que“a violência sexual acontece em todas as classes sociais, econômicas, culturais, religiosas, raciais, e em todo o mundo, sem distinção. Os abusos em classes com maior poder econômico é menos denunciado do que em classes mais pobres.”

É preciso estar atento aos sinais que a criança apresenta. “Qualquer mudança de comportamento da criança ou adolescente merece atenção. Essas mudanças precisam ser observadas, mas isso não quer dizer que seja sinônimo de violência sexual. Alterações no sono, na alimentação, pesadelos, agressividade, brincadeiras violentas com colegas ou violência contra animais, medos diversos, comportamentos regressivos, queda no rendimento escolar”, explica.

Para evitar isso “o melhor caminho é conversar sobre isso. Saber o que está incomodando essa criança ou adolescente. É importante e fundamental dar credibilidade e ouvir essa criança. Essa criança precisa se sentir acreditada no seu relato. O adulto que acha que ela está inventando ou fantasiando pode causar tantos danos quanto a violência em si”, alerta.

Entre os agressores de violência sexual, segundo Daniela é “o pai biológico, o agressor sexual mais comum contra as crianças e adolescente. Depois são os padrastos e parentes como avôs, tios e vizinhos. São agressores próximos das vítimas, muitas vezes dentro da família”, diz Daniela. Ter sofrido violência sexual uma vez ou por algum tempo vai fazer parte da vida dessa vítima. “Mas, com tratamento especializado por profissionais experientes, elas podem resinificar a vida e essa lembrança pode ser minimizada e a vida prosseguir. Os tratamentos com melhor resultado são os que acontecem logo que possível”, lembra.

A criança ou adolescente, em situação de violência sexual deve procurar e receber ajuda o mais breve possível. Seja atendimento médico, para prevenir e detectar possíveis doenças sexualmente transmissíveis, inclusive o HIV, ou atendimento psicossocial. Ele/ela precisa ter acesso a um adulto, pais ou responsáveis que seja de sua confiança e possa falar sobre um tema tão delicado e dolorido. Há uma série de profissionais habilitados e experientes que podem dar esse atendimento particular e público. Entre eles, o Hospital Estadual Pérola Byington (Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 683, Bela Vista) presta atendimento 24 horas para o público em geral e é referência nacional. Embora especializado no público feminino, o hospital também atende meninos com até 14 anos para esses casos de violência sexual. Os meninos com mais idade são encaminhados para outros serviços públicos. (GA)

Daniela Pedroso, Psicóloga – CRP 06/51647, dani.pedroso@uol.com.br

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