Heróis de verdade em filme

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Neste ano, será lançado o longa Xingu, o Filme, produzido pela O2 Filmes e com direção de Cao Hamburguer. O filme narra de maneira ficcional a história dos irmãos Villas Boas (Orlando, Cláudio e Leonardo), que participaram da ocupação da região central do Brasil. incluindo a fundação em 1961 do Parque Nacional do Xingu, que abriga diversas nações indígenas brasileiras. Para saber sobre o filme, entrevistamos o filho mais novo de Orlando, Noel Villas Boas, morador do Alto da Lapa. Ele conta como a família contribuiu para que essa história fosse contada.

Como foi sua infância enquanto seu pai Orlando Villas Boas (1914-2002), atuava junto aos índios na região do Rio Xingu.
O trabalho de campo era bastante difícil. Quando nasci, em 1975, meu pai continuou ligado à Funai (Fundação Nacional do Índio), mas o trabalho de campo dele foi diminuindo. Meu tio Leonardo (1918-1961) morreu cedo e o meu tio Cláudio continuou com o trabalho lá no Xingu. Enquanto meu pai ficava no Alto Xingu, meu tio Cláudio ficava no Baixo Xingu. Meu irmão Orlando Filho chegou a morar com meu pai até os 5 anos. Quando coincidiam as férias escolares, íamos sempre para a região do rio Xingu.

Como era sua convivência com a população indígena?
Foi muito boa. Nos postos indígenas onde ficávamos – hoje, Posto Leonardo Villas Boas – tinha a casa dos meus pais e o posto era frequentado por índios de várias etnias, mas tínhamos mais contatos com os índios Yawalapiti.

Você ainda tem amigos daqueles tempos?
Sim. Mantenho amizades com muitos daquela época, principalmente com o pessoal do Alto Xingu. Sou muito ligado aos índios do Xingu.

Você pescava, caçava com os fazia as crianças indígenas?
Sim. Eu vivia com eles. A gente fazia o que criança gosta de fazer, nadar no rio, pescar e brincadeiras como toda criança.

Quando e por que a família veio morar na Lapa?
Morávamos no Jardim Paulista e meus pais queriam morar em um lugar mais tranquilo e acharam esta casa aqui no Alto da Lapa. Nos mudamos em 1987 e desde então estamos aqui. Meus pais sempre gostaram de morar aqui e eu gosto muito. É tranquilo e o meu irmão Orlando Filho também mora aqui perto da gente.

Vocês têm um grande acervo de objetos que seu pai e seus tios recolheram lá da região central do Brasil. Vocês pretendem expor todo esse material?
Essa é a ideia. Esperamos que seja criado no Parque Orlando Villas Boas (localizado na Vila Leopoldina) um museu ou um memorial e um centro de estudos indígenas. Temos um grande número de objetos que meu pai e seus irmãos utilizavam: máquinas de escrever, rádios, cartas, mapas, fotografias, diários, filmes e muito mais. De objetos de origem indígena, temos cocares, flechas… São mais de 1.200 peças. Temos mais peças que o Museu Rondon, no Mato Grosso.

Vocês pretendem fazer?
O material não será doado em hipótese nenhuma. Queremos que o material fique aqui no Brasil e temos conversado com autoridades municipais, estaduais e federais. Todo mundo se interessa. Mas, se por acaso ninguém se interessar, não descartamos a hipótese de remeter todo esse acervo para entidades do exterior. Já perdemos muita coisa que meu pai doou para vários museus do Brasil e do exterior.

Sobre o longa: Xingu, o Filme já teve as gravações encerradas e agora está na fase de acabamento. Quem teve a ideia de fazer o filme?
A ideia foi minha. Queria transformar em filme a história dos irmãos Villas Boas. A medida que o tempo vai passando as pessoas vão esquecendo. A maioria dos jovens desconhece o que eles fizeram pelo Brasil. E por isso pensei em fazer o filme sobre eles.

Como você chegou ao diretor Fernando Meireles, sócio da produtora O2 Filmes?
Achei que ele seria a pessoa certa para fazer esse filme. Foi o primeiro a ser procurado e levou algum tempo para ele dar uma resposta. Mas quando veio, foi positiva e fiquei contente.

Vocês gostaram da escolha do diretor Cao Hamburguer pela O2?
Quando a O2 nos informou que quem iria dirigir o filme seria o Cao Hamburguer, ficamos bem seguros no resultado final. Ele tem uma grande sensibilidade e nas conversas que tivemos sentia a curiosidade e o interesse dele pela história.

O filme é uma biografia?
É baseado na história deles. Mas o filme é ficcional com episódios verdadeiros. Não sei como o Cao Hamburguer vai retratar isso tudo na tela. Nós, a família, contribuímos contando o que sabíamos.

A escolha dos atores para representar os irmãos Villas Boas e sua mãe agradou?
Sim. Minha mãe, será representada pela atriz Maria Flor. Meu pai por Felipe Camargo, Caio Blat será o meu tio Leonardo e João Miguel, meu tio Cláudio. Eu e meu irmão eu não sei seremos representados, talvez como bebês ou crianças pequenas.

E quando será o lançamento do filme?
No próximo mês de maio.

O que você acha que o público vai descobrir vendo o filme sobre os irmãos Villas Boas?
Espero que o público conheça o trabalho deles e como foi a história da ocupação do Brasil Central. Isto também marca a interiorização do Brasil, naquela época, anos 1950-1960. É bom que se saiba que o Brasil não surgiu do nada e esses homens estavam na vanguarda. É uma mostra do trabalho deles. A marcha para o Oeste ajudou a vencer todos os obstáculos – e o índio era um obstáculo. Os irmãos Villas Boas, com seu trabalho, protegeram as nações indígenas. Senão eles poderiam ser massacrados. É um trabalho grande e não pode passar em branco. Hoje os jovens conhecem detalhes do jogador Neymar, mas precisa também conhecer outros brasileiros. E também é uma oportunidade do cinema brasileiro mostrar outra história além daquelas dos morros cariocas.

Você acha que esse filme pode incentivar outras produções?
Tomara que com o Xingu, o Filme, venham filmes sobre o Marechal Rondon, o antropólogo Darcy Ribeiro e o sanitarista Noel Nutel. É a História recente do país.

Esta é a primeira vez que se filma a história deles?
Na verdade não. Em 1987, a rede inglesa BBC pretendia contar a história deles. Tenho recortes que diziam que Marlon Brando faria meu pai e Anthony Queen, meu tio Cláudio. Mas o projeto não vingou.

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