Ao som da sanfona

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Renata Sbrighi

Aos 78 anos, a maestrina nascida na Lapa esbanja vitalidade e uma enorme alegria de viver ao lado de sua inseparável sanfona. O sorriso aberto é uma das marcas registradas de Renata Sbrighi, que carrega em seu currículo inúmeras vitórias, entre as quais fundar a primeira Orquestra Sanfônica do Brasil. 

Sua paixão pela sanfona (também chamada de harmônica ou acordeom) começou ainda na infância. A mãe de Renata, Elvira Sbrighi, conheceu um dos maiores mestres do instrumento, em 1947, e por sua influência começou a estudar sanfona. “Eu era criança nessa época, quando minha mãe conheceu Agibi Francisquini, maestro que trouxe as técnicas de acordeom para o Brasil e desenvolveu métodos especiais para a mão esquerda e para a direita, que usamos até hoje. Entre os métodos de estudo do maestro para o acordeom estão ‘O Harmonicista Perfeito’ e ‘Manejo dos Baixos’. Ele e minha mãe chegaram a tocar várias vezes juntos, fazendo inclusive a primeira apresentação em formato de orquestra com 50 harmônicas, que eu assisti maravilhada”, conta a maestrina.

De acordo com Renata, Agibi teve papel fundamental para a disseminação da cultura da sanfona no Brasil, desde a compilação de métodos em formato de livros que fez, até a aprovação de leis para o ensino musical específico que ajudou a promover. Isso ocorreu na década de 1950, uma das épocas áureas do instrumento, que também fez surgir a UBA (União Brasileira de Acordeonistas), primeira associação do gênero em nosso país. “Agibi se formou com o italiano Pietro Deiro (1888 – 1954), um dos mais influentes acordeonistas de todo o mundo, considerado ‘o pai do acordeom’. Não foi à toa que, quando Agib foi embora, eu me senti até na obrigação de continuar sua obra.”

E assim foi. No ano de 1954, Renata formou-se pelo Conservatório Conselheiro Lafaiete e tornou-se professora. Em 6 de abril de 1958, data do aniversário de Renata, ela e sua mãe inauguraram o Conservatório Musical da Lapa, por onde passaram inúmeros alunos. Esse local permaneceu ativo até maio de 1976, quando suas atividades foram encerradas. Nesse meio tempo, muito coisa aconteceu na vida de Renata. Ela casou, teve filhos, mas nunca se distanciou de sua amada sanfona. “Em 1959, chegamos a tocar no Teatro Municipal de São Paulo com uma orquestra de 110 acordeons. Foi uma grande apresentação… mesmo assim, nessa época, a sanfona começou a perder seu espaço para as guitarras, as baterias, e até era vista com certo descaso pelo público, mas eu continuei ensinando e tocando”, revela a maestrina.

Finalmente em 1988, Renata funda, juntamente com a Escola Livre de Música, a Orquestra Sanfônica de São Paulo, a primeira a receber o nome de “sanfônica” e que, com o passar do tempo, foi dando frutos e se multiplicando pelo país afora. A insistência de Renata em continuar adepta da sanfona foi coroada de sucesso. Numa época em que o ensino musical foi abolido nas escolas e que o acordeom não tinha muito espaço nas mídias, a maestrina foi reconhecida e homenageada por importantes nomes de nossa música, como Osvaldinho do Acordeom, Dominguinhos, entre outros. Ela e sua Orquestra Sanfônica participaram de muitos programas de TV, como o “Viola Minha Viola”, de Inezita Barroso, e também fizeram apresentações no Brasil e no exterior, continuando seus shows até hoje. Em um livro feito em homenagem a Dominguinhos, de nome O Milagre de Santa Luzia, Renata Sbrighi é a única mulher sanfoneira a ser citada em meio a muitos outros músicos. Tocando os mais variados estilos, entre eles valsa, tango, chorinho e peças de música erudita, a Orquestra já esteve presente também no importante Concurso Internacional de Castelfidardo, na Itália. “Já fomos muitas vezes para a Itália, eu já contabilizei 13 vezes. Fazemos apresentações em igrejas, principalmente”, diz.

Dentre os troféus, diplomas e outros prêmios que Renata e sua Sanfônica receberam, e que ela nem consegue contabilizar a quantidade, a maestrina mostra um dos mais recentes. “Eu recebi o troféu de ‘Destaque 2014’, da Distrital Oeste da Associação Comercial de São Paulo, numa cerimônia que aconteceu no final do mês de setembro”. No começo deste ano, Renata recebeu uma homenagem inesperada: o bloco Bagaça, da Lapa, fez uma apresentação no qual destacou a sanfona em seu samba-enredo e a Orquestra Sanfônica participou do evento em grande estilo. “Achei importante resgatar o carnaval antigo, principalmente porque hoje vejo jovens interessados pela sanfona. Eu, que estou acostumada com idosos tocando o instrumento, sinto uma enorme felicidade ao ver que pessoas mais novas gostam de nossa música e querem aprender a tocar.”

A Orquestra Sanfônica, que atualmente tem mais de 60 músicos de idades que variam entre 13 e 91 anos, está com a agenda sempre repleta. Neste final de ano, Renata e sua orquestra farão diversas apresentações, que podem ser acompanhadas na sessão “Agenda” no site da Sânfonica. Pelo quarto ano, a orquestra se apresentou no Dia de Finados na capela do Cemitério da Lapa, seguindo depois em viagem para Campinas, no interior. “Dia 9/11, estaremos na Associação Esperança e Vida, uma entidade que cuida de pessoas com Aids, e a orquestra toca lá desde 2002”, informa o amigo e empresário Evaldo Capelloto, responsável pela agenda de shows.
Evaldo também está preparando um livro sobre a Sanfônica, que ficará pronto em abril de 2015. “Pretendo lançar o livro no dia do aniversário da Renata. Atualmente estou compilando informações, que são muitas. É um trabalhão”, finaliza. (ND)

Orquestra Sanfônica de São Paulo
Rua Pio XI, 570, Alto da Lapa
Telefone 3834-1512
www.sanfonica.com.br

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