Leopoldina em vídeo

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Coletivo mostra a história do bairro em documentário atualizado e despojado, que aborda desde a ocupação das antigas glebas alagadas até a especulação imobiliária atual.

O coletivo Casadalapa, formado atualmente por 17 artistas independentes, lançou há pouco mais de um ano o documentário “Leopoldinas”. Pouco divulgado até por conta de seu edital, que não pedia a divulgação pública do vídeo, ainda é desconhecido da maioria da população que mora na região. “Existe um edital da prefeitura de São Paulo sobre histórias de bairros que já é bem antigo – tem fácil aí uns dez anos, que, após contemplar locais maiores, como a Lapa, por exemplo, abriu também para a Vila Leopoldina, que foi um dos últimos pedidos. Então, nós enviamos uma proposta que fugia dos formatos mais quadrados e lineares e que era mais a nossa cara, um vídeo mais atualizado e despojado”, relata Júlio Dojcsar, grafiteiro, cenógrafo e diretor de arte, e um dos participantes do documentário.

Júlio conta que o trabalho se iniciou com uma pesquisa aprofundada, primeiramente da parte geográfica do bairro. “A Leopoldina era considerada o charco da Zona Oeste, onde a antiga Light demarcava as terras após a enchente do rio, ou seja, ela fechava as comportas e esperava o rio encher mais para melhor demarcar os terrenos. Na realidade, a área nunca teve muita importância, como mostram os documentos. Ela foi a esquina da ocupação portuguesa contra os índios, e historicamente tem várias versões de quem loteou o primeiro terreno – uma delas conta que o primeiro loteamento não deu certo porque encharcou e mostra ainda uma narrativa dos interessados tomarem chá antes de sair em um barco para ir de um terreno ao outro”, revela o artista.

Essa fase de pesquisa foi realizada juntamente com um levantamento de fontes para entrevistas. Alguns ícones do bairro aparecem no vídeo, dando depoimentos, contando coisas tristes e engraçadas, como Gláucia Prata, presidente do Movimento Popular, que lutou para tirar o lixão do bairro; os representantes da Associação dos Amigos de Vila Leopoldina, srs. Clodoaldo e Antônio; o músico João Mourão, que sempre morou no local; José Carlos de Barros Lima, historiador e diretor do tradicional Colégio Santo Ivo; Noel Villas Bôas e Marina Lopes de Lima Villas Bôas, respectivamente filho e viúva do indigenista Orlando Villas Bôas; entre outras personalidades. “No documentário, nós procuramos entrevistar as pessoas próximas à comunidade, aqueles que vão na padoca, que andam na calçada – e não com alguns dos empresários que chegaram há pouco e que não estão nem aí com a história do bairro e com as pessoas de seu entorno. Diferente de outros vídeos documentais, demos um tom crítico da ocupação, da atual especulação imobiliária, filmando inclusive um novo morador em seu apartamento, de onde ele avista o cadeião e o rio sujo”, diz Sato do Brasil, jornalista e artista, que iniciou o coletivo juntamente com o Júlio, entre outras pessoas.

Sato continua dizendo que, como o Casadalapa trabalha com muitas intervenções de rua e com ações diretas de grafites, projeções, em alguns trechos do documentário vários dos artistas do coletivo aparecem colando cartazes. “Nós nunca desaparecemos em cena e mostramos que se tem cartazes colados é porque pessoas foram lá e colaram”, declara.

Imperatriz ou empresária?

Filme_Leopoldinas_DIVQuando os artistas do coletivo estavam pesquisando a história e a geografia local, eles se depararam com uma das questões que mais intrigam os moradores do bairro até hoje: o nome Leopoldina surgiu por conta da imperatriz Maria Leopoldina de Áustria, primeira esposa do imperador D. Pedro I? “A imperatriz não tem nada a ver com a fundação do bairro. O bairro ganhou o nome que tem em referência à Leopoldina Keberg, empreendedora que comprou a primeira gleba de terra para lotear e, literalmente ela deu com os burros n’água, porque não vendeu nenhum terreno”, conta Júlio.

O documentário se inicia, entretanto, com a imperatriz recebendo um convite formal e, depois, descendo as escadas da estação ferroviária Leopoldina com suas roupas majestosas, sem pompa nem cerimônia, para sua decepção. Ela estava procurando a sede do Continental Atlético Clube, onde seria homenageada com um jogo (fazendo referência ao time existente antigamente e seus jogos de várzea).

No decorrer do vídeo, a imperatriz passeia pelas ruas do bairro, encontra Afonso Sardinha, que a leva até o sr. Mofarrej, na Ceagesp, um libanês que deu nome a uma das ruas do bairro e que também construiu o prédio da associação de moradores, que existe até hoje. Os irmãos Mofarrej (Nassif e Hassib) mandavam no bairro e eram cultuados como empreendedores. “Foi o Mofarrej que comprou o primeiro pedaço de terra da Vila Leopoldina e que construiu seu primeiro galpão. Nos anos de 1950 e 1960, quando a industrialização estava em seu auge, o bairro recebeu muitas fábricas que, após a Cetesb começar a controlar o que podia ou não ter na cidade, saíram de lá e deixaram grandes espaços vazios”, finaliza Júlio.

O documentário Leopoldinas está à disposição de todos no Vimeo, bastando baixar no link: https://vimeo.com/88007716

Coletivo Casadalapa

Avenida Ricardo Medina Filho, 904, Vila Ipojuca

Telefone 3021-7028

casadalapa.blogspot.com.br

 

 

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