Amor de mãe

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A síndrome de seu primeiro filho despertou na moradora da Lapa, Fabiane Ferri Ferretti, a vontade de superar os desafios diários de sua criação e de materializar um projeto voltado a pessoas com e sem deficiência aparente para ajudar outras mães em situação semelhante.

A história do casal Fabiane e Rodrigo Moreira Campos Ferretti poderia ser interpretada como triste, se ela não resultasse em duas lindas crianças e uma grande lição de superação. Há pouco mais de três anos, ao fazer os exames de rotina da gravidez, Fabiane descobriu que o seu primeiro filho poderia nascer com algum problema de saúde, ou deficiência, até àquele momento não detectado. “Quando eu estava com sete meses de gestação, fiz um ultrassom e lá apareceu que os ossos longos do feto eram, na verdade, curtos. O diagnóstico, porém, não estava fechado e o médico achava que poderia ser várias coisas, entre as quais, síndrome de Down ou displasia óssea. Eu e meu marido desabamos, mesmo porque não podíamos nem pesquisar a deficiência que era e qual era o seu tratamento. Para piorar, meu obstetra na época, que até aquele momento me tratava de “grávida linda”, sugeriu que eu abortasse. Imagina?! Foi um choque. Eu engordei 23 kg e, com sete meses de gravidez, já sentia que aquele ser na minha barriga era meu, meu filho, uma pessoa, independente de como ele iria nascer”, conta.

Após trocar de obstetra, mesmo porque não poderia ficar com um profissional que havia sugerido o aborto, e com toda a dificuldade de achar outro com sete meses de gestação, Fabiane deu à luz Lucca, no dia 23/1/13. “Percebemos que aquele médico não enxergava a pessoa que iria nascer… ele enxergava uma deficiência. E quando o Lucca nasceu, só o que queríamos era ver se ele tinha perninha, bracinho, se estava tudo certinho… aí descobrimos que ele tinha tudo perfeitinho e veio o diagnóstico de síndrome de Down, o que de certa forma foi menos assustador. E foi tão mágico perceber que havíamos tomado a decisão certa”, declara.

Os desafios de Fabiane e de seu marido não acabaram com a descoberta da síndrome de Down. “Lucca acabou nascendo com um problema cardíaco. Ele teve uma parada cardíaca aos três meses e ficou internado sete meses após o nascimento por conta de problemas decorrentes. Eu só fui vivenciar 100% a maternidade depois que ele deixou o hospital e ficou comigo em casa. Antes, ele ficava entre idas e vindas no hospital e foi muito difícil pra gente porque assim que passávamos por um processo, vinha outro novo. O que importava para nós era simplesmente restabelecer a saúde dele, apenas isso. E aí sua deficiência se tornou realmente secundária. Era nada, ou muito pouco, era como ter cabelo liso, ou encaracolado, ou outra característica física. Hoje, ainda é um desafio diário, principalmente por conta de alguns problemas de saúde menores que ele apresenta, mas a cada conquista dele comemoramos como uma grande vitória para todos nós”, conta.

I DOWN Fabiane 12-DL-MAI-TGA maternidade especial de Fabiane não a jogou no chão, ao contrário a fez enxergar novas possibilidades. Como toda mãe de primeira viagem, as mudanças naturais da rotina de vida foram acrescidas de uma completa reestruturação de seus hábitos, assim como de toda a família envolvida. Parentes que pouco conversavam passaram a se unir para ajudar o casal, numa corrente do bem, que gerou ainda mais força para os novos papais. “Eu tinha uma empresa de reestruturação empresarial, com vários contratos, e tive de encerrá-la para cuidar do Lucca. As constantes consultas com diferentes especialistas, como terapeuta, fonoterapeuta, fisio, hidro, fizeram – e ainda fazem – minha agenda ficar abarrotada de atividades todos os dias. Mesmo assim, decidi não focar só nisso. Sempre fui ativa e coloquei na minha cabeça que eu precisava ter uma ocupação para conseguir dar andamento nas coisas, senão enlouqueceria. Comecei a comercializar roupas e conheci a mãe do Dudu Cavaco, que é o primeiro cavaquista com Down do mundo. Ele gravou um CD e aí começamos um contato superbacana. Trabalhei na agenda e no calendário deles e percebi que poderia fazer mais”, revela Fabiane

E foi assim, querendo disseminar a inclusão das pessoas com Down, que a agora mamãe de dois lindos meninos começou a idealizar o IDown, um projeto de integração para pessoas com e sem deficiência aparente para o qual já desenvolveu alguns eventos na região da Lapa.

Um pouco antes de se envolver com esse projeto específico, e enquanto Lucca se recuperava da cirurgia do coração, Fabiane descobriu que estava novamente grávida. “Eu sonhei com uma criança numa noite em que estava descansando em casa. Foi um sonho doido e, por mais incrível que pareça, compartilhado com o meu marido (ambos tiveram o mesmo sonho). Nesse sonho, eu carregava um bebê, que me dizia seu nome – Bernard – e que tinha vindo para me ajudar a cuidar do Lucca. E tudo o que se seguiu aconteceu como no sonho”, conta emocionada.

I DOWN Fabiane 23-DL-MAI-TGBernard chegou no dia 23 de setembro de 2014 e a família se completou. Hoje, com praticamente dois bebês, Fabiane divide as tarefas com o marido e seus familiares. “É uma correria porque eles já estão na escolinha. Eu acordo, arrumo os dois e os levo para a escola. Duas vezes por semana eu trabalho em uma empresa focada na área financeira, já nos outros três dias, eu cuido das atividades do IDown.”

Para finalizar, pergunto a Fabiane qual seria a palavra que resumiria a sua vida e ela responde sem piscar: “Gratidão, porque temos de ser gratos por tudo. A vida é um eterno aprendizado.” (ND)

Fotos: Tiago Gonçalves

 

 

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