A participação pelos problemas da sua comunidade renderam para Cecília e Alice Lotufo, mãe e filha, o prêmio Cidadão SP 2015. Cecília recebeu o de Mobilização e Alice, de Cidadãozinho.
A projeção de Cecília no cenário político da cidade aconteceu em 1992. Junto com uma colega, cabulou a aula no Colégio Oswald de Andrade e foram para a rua pedir o impeachment do então presidente Fernando Collor. Um fotógrafo fez a imagem e a foto publicada na capa de um grande jornal, de Cecília com a cara pintada, virou símbolo daquela juventude e ela se tornou a musa dos caras-pintadas de então. “Os de hoje, não me sinto representada”, avisa ela que também não está a favor do governo Dilma e os escândalos revelados.
A então jovem estudante criada na Vila Beatriz, moradora atualmente no bairro da Lapa, continua a lutar a favor das praças, de um bairro mais justo e fraterno. “Naquele dia, pintar o rosto foi uma ação espontânea. Foi o jeito que encontramos de mostrar nossa raiva com o Collor”. Passado tantos anos, Cecília continua participando de outras “lutas”. As atuais estão diretamente ligadas a melhorias do bairro “que, por ser um microcosmo, também podem ser aplicadas a toda a cidade”. Ela se refere ao plano de bairro da Vila Jataí, que ela e um grupo de moradores estão participando há tempos.
“Sou uma pessoa transformadora. Participar e agir pela comunidade ampliou minha perspectiva de vida e é o que me define”, conta ela, que é conselheira eleita do Cades – Conselho do Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cultura de Paz e do Conselho Participativo Municipal, ambos da Subprefeitura de Pinheiros. “O trabalho é voluntário e não temos salário, ao contrário do que pensam”, explica. É uma das fundadoras e foi diretora da ONG Instituto Kairós, que desde 2000 atua no fomento da educação, consumo responsável e comércio justo e solidário, entre outros trabalhos.
Por causa da filha, Alice, hoje com dez anos, surgiu o Movimento Boa Praça, em 2008. A história é bem peculiar. “Quando perguntei a Alice onde queria fazer a festa de aniversário, ela pediu que fosse numa praça aqui perto de casa – a François Balanger”, conta. “A festa aconteceu como ela queria. Conseguimos que a Sub Lapa aparasse a grama e nós, parentes e amigos, fizemos um grande piquenique”. A partir daí outros encontros surgiram e surgiu o Boa Praça. “Hoje, muitos dos integrantes estão levando a ideia para outras praças. Afinal, a praça é pública e precisa ser ocupada pelas pessoas. O meu filho, Antonio, também teve festas de aniversário em outras praças das redondezas”, lembra Cecília.
Esse comprometimento e participação também lhe rende alguns desafetos. Ela se refere aos ataques e ofensas de que tem sido alvo através das redes sociais. “São pessoas que, no anonimato, ofendem e acusam de apropriação de dinheiro público através do Kairós, do qual não faço parte há muitos anos. O pior é que querem atingir não só a mim como também as ONGs que têm trabalho sério”, reclama. “Sinto necessidade de me defender dessas ofensas e mentiras. Sou uma pessoa cuidadosa com o que falo e faço”. Para se proteger, está reunindo material para acionar esses detratores. “Vou encarar essa bucha e enfrentar essas pessoas. O bom é que tenho recebido muita solidariedade de outras pessoas também através das redes sociais”, comenta.Cecília não descarta se candidatar em uma futura eleição. “Já pensei muito nisso. Muita gente tem me incentivado. Não descarto. Mas, se eu disputar uma vaga na Câmara dos Vereadores, vou para representar uma base e ter a força de um grupo. Quero entrar com respaldo e com projeto. Não quero ser apenas vereadora”, afirma.
O lado empreendedora também motiva Cecília. É dona, desde 2012, da pizzaria Dona Rosa, na Rua Caminha de Amorim, 242, na Vila Jataí. “Aplico na pizzaria todos os conceitos de sustentabilidade, que vai da contratação de funcionários da redondeza à escolha do trigo que uso nas massas”.Sobre o prêmio Cidadão SP promovido pelo site Catraca Livre, que premia, através de indicações e por eleição direta no site, personalidades da cidade capazes de, com suas ações, transformar a cidade em um espaço mais justo, civilizado e democrático, Cecília foi indicada pelo seu trabalho com as praças. Enquanto a filha recebeu o prêmio por ser “uma criança que dá lição nos adultos”, segundo Gilberto Dimenstein, do Catraca Livre. Para Cecília, “foi com orgulho e emoção que recebi minha indicação e eleição, mas o prêmio ‘Cidadãozinho’, que Alice ganhou, me emocionou mais e me encheu de orgulho”, fala Cecília segurando os dois prêmios. A entrega aconteceu em janeiro.
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