Entre créditos e débitos

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Início de ano, muitas contas para pagar, é hora de fazer as contas para não se endividar e ter problemas com o crédito. Morador da Vila Romana há 40 anos, Dorival Dourado é um especialista no assunto.

Administrador de empresas com quase 40 anos de atuação, Dorival Dourado sempre gostou de tecnologia. Passou por grandes empresas e desde 2010 é o CEO da Boa Vista, empresa que trabalha no segmento de informações para o desenvolvimento e eficiência de empresas e atua em todo o Brasil, em diferentes segmentos da economia. Ela apoia empresas e consumidores na gestão das informações de crédito, que se traduzem em eficiência e segurança para operações de negócios, atendem mais de 1 milhão de clientes indiretos e realizam, diariamente, 7 milhões de transações. 

O brasileiro é um bom pagador?
Sim, é um bom pagador. Não é ainda, na média geral, tão escolado no crédito. A geração que viveu nos anos 1980 e início dos anos 1990, a era da hiperinflação, quando tudo subia todos os dias, precisou se reciclar, aprender a lidar com crediário e financiamento. As mais novas e outro contingente de consumidores que ingressou no mercado de crédito e consumo mais recentemente ainda estão em fase de aprendizado. O que falta ainda, de modo geral, é mais experiência, traquejo, planejamento. Alguns bons sinalizadores de que o brasileiro é bom pagador são as campanhas para acertar as contas. Ele não perde oportunidade. Recentemente, a Boa Vista fez uma pesquisa de perspectivas e intenções de compra para o Natal, e 57% dos consumidores que responderam à pesquisa pretendiam usar o 13º para quitar dívidas em atraso.

Onde o brasileiro se atrapalha?
O que não ajuda muito hoje o consumidor brasileiro é a lógica do sistema de concessão de crédito, que sempre se apoiou apenas em informações de inadimplência! Com o cadastro positivo, isso vai melhorar. 

Sabemos usar as linhas de crédito (cartão de crédito/débito, cheque especial)?
Estamos aprendendo! Mas a meu ver estamos avançando. Já há bastante informação de qualidade disponível, e os consumidores têm interesse. Também se ampliou a transparência das taxas nas comunicações com os consumidores, o que é positivo. Mas ainda se perde muito tempo na crítica meio vazia de que as taxas são elevadas sem dar mais compreensão ao consumidor da lógica do crédito. Se tenho um limite à disposição, já aprovado, ou um refinanciamento automático, como no caso do parcelamento da fatura do cartão, essa facilidade extrema tem um custo que só se justifica em caso de emergência. É como usar pronto-socorro. Não é para rotina. Empresas e instituições comprometidas com a sustentabilidade do crédito e com o consumidor precisam ter muita responsabilidade ao abordar essas questões no sentido de realmente contribuir para que o consumidor compreenda que não existe “almoço grátis”, e use o crédito a seu favor.

Sabemos quanto custa o dinheiro?
Em geral, a maioria dos consumidores calcula se a parcela cabe no seu bolso, o que não deixa de ser um controle importante. Se couber e a dívida estiver dentro de um planejamento, a questão fica bem equacionada. Afinal, quando se trata de um bem de maior valor, é o crédito que viabiliza a aquisição. Para uma mãe chefe de família que trabalha fora, uma máquina de lavar roupa é muito importante. Se ela tiver de economizar R$ 100 por mês para, ao final de um ano, comprar à vista, negociando um desconto, será que não vale a pena pagar um encargo e antecipar a aquisição? Então mesmo sem dominar matemática financeira, intuitivamente a maioria dos consumidores acaba calculando e encontra a melhor saída. E é para isso mesmo que o crédito está aí: proporcionar o acesso a bens que melhorem a qualidade de vida.

Comparado a outros consumidores, o brasileiro está mais/menos endividado?
O endividamento do brasileiro, calculado pelo Banco Central, é de 45% da renda anual. Se comparado a países mais desenvolvidos, como os EUA ou países da Europa, o endividamento do brasileiro é baixo, já que naqueles países o endividamento é de mais de 100% da renda anual. O que temos que analisar é a composição desse endividamento. Nos países mais desenvolvidos, boa parte do endividamento é composta de dívidas imobiliárias, com juros baixos e prazos longos, enquanto no Brasil o crédito rotativo e o crédito para o consumo respondem pela maior parte do endividamento. O resultado dessa equação é que o comprometimento da renda com o pagamento de dívidas no Brasil torna-se maior. Enquanto nos EUA e na Europa o comprometimento da renda com o pagamento de dívidas fica entre 11% e 16%, no Brasil ele está próximo de 21%.

Em média, quanto devemos?
Informações extraídas da base de dados da Boa Vista mostram que, na média, em novembro de 2013, a dívida do brasileiro é de cerca de R$ 1.230,00, no caso de dívidas vencidas e não pagas (portanto, em situação de inadimplência). Hoje, na falta de um cadastro positivo já consolidado, não se dispõe de informações sobre endividamento total, considerando os compromissos em andamento, tanto com o sistema financeiro quanto no varejo. Essa é uma fragilidade do nosso sistema e na qual o Cadastro Positivo permitirá avanços, sobretudo no sentido de prevenir superendividamento.

Quais as causas mais comuns que levam à inadimplência?
Fazemos regularmente uma pesquisa quantitativa com consumidores que buscam orientação no balcão do SCPC em São Paulo. A última pesquisa, com 1.116 consumidores, divulgada em outubro, revela que aumentou para 34% a parcela de inadimplentes entrevistados que citam o desemprego como a maior causa da inadimplência. A menção ao descontrole financeiro como causa da inadimplência recuou, passando de 28% no segundo trimestre deste ano para 23%. É possível que parte desse descontrole seja por compras por impulso. Interessante registrar que em terceiro lugar, os entrevistados declaram o empréstimo do nome a terceiros (11%) como o motivo da inadimplência.

Consumir sem planejar pode acarretar problemas futuros?
É justamente cair na inadimplência e, a partir daí, comprometer a condição de acesso ao crédito. E é por isso que a Boa Vista Serviços tem insistido e persistido, pelos diversos meios que têm à disposição, na disseminação de informações sobre planejamento orçamentário e educação financeira.

As taxas elevadas de bancos e financeiras contribuem para o endividamento?
Aqui vale uma diferenciação importante. O endividamento é quando o consumidor assume um compromisso para pagar parceladamente. O que é bom. É diferente da inadimplência, consequência de uma dívida não paga no prazo. A elevação de taxas contribui para a inadimplência na medida em que torna o crédito mais caro.

Baseado em sua experiência, o que fazer para não se tornar inadimplente?
Fazer um planejamento orçamentário e financeiro e se esforçar para cumpri-lo. Isso exige disciplina. No site www.consumidorpositivo.com.br, você encontra informações, dicas, planilhas que podem ser úteis e facilitar bastante esse planejamento. Fica aí uma dica para 2014: comece o ano fazendo um planejamento e leve a sério. Tenho certeza de que vai trazer prosperidade.

E se tiver os documentos roubados?
O consumidor não pode se descuidar. Nós, do SCPC, com o SOS Cheques e Documentos, conseguimos contribuir para prevenir maiores danos. Através do site www.consumidorpositivo.com.br ou pelo tel. 0800-011-15-22, o consumidor solicita a inclusão de um registro de alerta em seu nome e previne fraudes e prejuízos. É um serviço grátis, serve para que, em caso de uma possível tentativa de uso indevido do documento, antes que o crédito seja aprovado pelo lojista, um sinal de alerta seja enviado para impedir a transação. É importante sempre fazer o Boletim de Ocorrência na polícia. 

O que o consumidor ganha ao se inscrever no Cadastro Positivo?
O consumidor ganha uma análise de crédito mais adequada e justa, de acordo com seu perfil de crédito. Como disse inicialmente, o brasileiro é, na maioria, bom pagador. Mas, hoje, não se beneficia com isso. É nivelado pela média da inadimplência! É essa lógica injusta que o cadastro positivo pode corrigir. Quem não está negativado, não é automaticamente um consumidor positivo se quem concede crédito não puder saber como esse consumidor vem pagando seus compromissos. Não é pela ausência de informação que o cadastro positivo se pauta, mas sim, pela informação do histórico de pagamentos. 

Quem pode acessar essas informações?
São os mesmos que podem acessar as informações “negativas”, ou seja, quem for vender a crédito ou realizar negócio com esse consumidor. E quais informações? As relativas aos contratos em andamento, como data do contrato, valor total, número e valor das prestações e como vêm sendo pagas. E mediante autorização prévia do consumidor. E essas informações só podem ser usadas pelos bancos e financeiras para operações de crédito. Não podem ser usadas para marketing. 

Depois que o SCPC passou para o Boa Vista, o que mudou para o consumidor e o comerciante?
A Boa Vista Serviços agregou ao extraordinário banco de dados e à tradição do SCPC investimentos e foco exclusivo em soluções para os negócios, tanto para o mercado quanto para o consumidor. Nosso trabalho é prover informações de qualidade para os negócios, sejam quais forem, é fundamental para o empreendedorismo, o desenvolvimento e a sustentabilidade dos negócios. É isso que fazemos e é assim que contribuímos para a economia brasileira, atuando em diferentes segmentos. 

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