O gol de Tobias

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Goleiro que fez história no time do Corinthians, Tobias estava curtindo outro ritmo de vida quando foi chamado, em 2008, para outro desafio: administrar uma instituição social.

Corintiano, Tobias, o goleiro que defendia o time paulista na semifinal do Brasileirão de 1976 contra o Fluminense em pleno Maracanã, no Rio de Janeiro, defendeu pênaltis e sagrou-se herói da massa corintiana. No ano seguinte, era ele que estava no gol quando seu time, na final do Paulista, diante da Ponte Preta, quebrou um jejum de 23 anos sem títulos. A carreira deste paulista nascido em Agudos (SP), teve início no time do Noroeste de Bauru, jogou pelo Guarani de Campinas, defendeu o Corinthians de 1974 a 1980 e depois passou por Sport de Recife, Fluminense em 1981 e Bangu de 1981 a 1986, quando encerrou a carreira. Nesta conversa descontraída na sede da ONG Casa João Moura, que administra em parceria com Marize dos Santos, pedagoga e sua esposa, Tobias fala, é claro, de futebol e também do trabalho social que desenvolve atualmente, que tem sede na região do Sumaré, onde também mora há mais de 25 anos e diz gostar muito pela tranquilidade e localização. 

Seu nome completo?
José Benedito Tobias, mas sempre fui chamado de Tobias.

Como o futebol entrou na sua vida?
Como todo garoto, gostava de jogar futebol e me saía bem no gol, acabei virando goleiro.

Você que escolheu a posição de goleiro ou era o único jeito de participar das peladas com os amigos?
Não. No meu caso, sempre gostei de jogar no gol. Não foi o caso de muitos outros goleiros que eram pernas de pau e acabaram indo para o gol e se revelaram bons na posição.

Quando veio jogar no Corinthians, em 1974, você já torcia pelo Timão?
Não, mas depois dessa minha passagem, me tornei fanático e acompanho sempre que posso meu time, indo ver os jogos.

Ir ao estádio, ver o time, lhe dá prazer?
E muito. Do meu apartamento até o estádio do Pacaembu é um pulo e, sempre que posso, vou ver o Timão jogar. Quando o Itaquerão ficar pronto, vai ficar mais longe, mas vou continuar a prestigiar meu clube do coração, com certeza.

Como presidente da Seleção Brasileira de Masters, você joga sempre?
Nós sempre estamos sendo chamados para jogar pelo Brasil. Lembro que na seleção de masters tem jogadores de todos os clubes brasileiros, não só do Corinthians, como pode parecer.

Quem joga com você nessa Seleção?
Do Corinthians, Zé Maria e Biro-Biro; do Flamengo, Rondinelli e Nunes; o Müller que jogou no São Paulo e no Palmeiras; do Santos, o Edu que jogou com o Pelé e muitos outros. Nem sempre é o mesmo time porque a moçada tem outros afazeres. Mas ainda fazemos sucesso por onde jogamos. E gosto de estar em atividade com o futebol.

Você ainda mantém contato com o Corinthians?
Quando joguei lá, morava próximo do Parque São Jorge e sempre tive contato com o clube. Fiz e mantenho grandes amizades com jogadores com os quais joguei e diretores de lá. O atual presidente, Mario Gobbi Filho, conheci no tempo que era jogador e mantemos a amizade. Ele inclusive mora aqui na região e sempre que dá nos falamos.

Aqui na Casa João Moura, tem uma das paredes com muito da sua história com o Corinthians. Mas torcedores de outros clubes são bem-vindos?
É claro. Aliás toda essa “decoração” com distintivos do Timão não foi colocada por mim e, sim, pelos moradores daqui, que eu calculo que sejam de 90% torcedores do Corinthians. Mas é um espaço corintiano, com certeza.

Como é que você assumiu esta ONG?
Tudo por conta da minha mulher, Marize. Ela é pedagoga e sempre trabalhou com população carente e pessoas que tiveram problemas com drogas e álcool. Esta casa, que pertence à Arquidiocese de São Paulo, era administrada por padres. Mas por várias razões, a casa corria risco de ser fechada e a Marize me disse que, se eu topasse esse desafio com ela, a casa poderia continuar aberta ajudando essas pessoas. Eu estava cuidando dos meus negócios e estava tranquilo com a vida que levava, achei que seria fácil e topei. Desde 2008 estamos à frente desta casa.

Seria fácil? Não foi como você pensava?
Tem sido uma dureza e exige muito trabalho tanto da Marize como meu. Foram muitos os problemas que encontramos: ações trabalhistas, impostos atrasados e falta de manutenção, entre outros problemas. Eles faziam o que podiam…

Como a Casa João Moura funciona?
Atendemos somente homens. Atualmente temos mais de 25 moradores que trabalham e pernoitam aqui. Não somos um albergue. As pessoas têm aqui uma moradia até que possam viver independentes. Mas temos regras rígidas. Bebida, por exemplo, não entra. Todo mundo precisa cuidar da sua cama, de suas coisas e ajudar no coletivo. Não temos nada para esconder e todo mundo que quiser conhecer nosso trabalho e puder ajudar é bem-vindo.

E como vocês se mantêm?
Eu a Marize e nossos diretores, os ex–jogadores Zé Maria, Geraldão e Betão (Corinthians), Dudu (Palmeiras) e Chachá (Portuguesa), temos parceria com empresas e também contamos com ajuda do Corinthians e dos Gaviões da Fiel. O Banco de Alimentos, por exemplo, sempre traz alimentos para nossa cozinha e eu sempre estou correndo atrás de novos recursos. Não parece, mas temos um custo fixo aqui na casa que ultrapassa os R$ 25 mil mensais. Já coloquei dinheiro meu aqui dentro para manter esse trabalho que acho fundamental e necessário. E temos aqui um brechó.

O brechó também reverte dinheiro?
Sim, totalmente. A receita que temos com a venda das roupas que recebemos em doação. Aliás, parte do que recebemos passamos para os nossos moradores, que muitas vezes também carecem de roupa. Outro evento que reverte dinheiro para a casa é a feijoada, que fazemos desde 2009.

Onde e quando acontece a feijoada?
Sempre no final de outubro, no salão nobre do Corinthians, que não cobra nada da gente. Neste ano conseguimos vender cerca de 900 convites. Em 2014, pretendo colocar mil pessoas lá no salão. Mas temos muitos gastos: bandas que tocam, garçons e cozinheiros e os pertences da feijoada. Começamos os preparativos devendo dinheiro. Mas, além de ser uma festa, tem essa finalidade para a nossa casa.

Você e a Marize também administram outra obra social certo?
Sim. Temos uma casa de repouso no Butantã onde abrigamos homens e mulheres idosos. Lá eles têm toda a estrutura de apoio: médicos, enfermeiras, nutricionistas, psicólogas, atendentes. Mas, ao contrário da Casa João Moura, lá temos um convênio com a Prefeitura de São Paulo. É outro lugar que convido a todos para conhecer e visitar.

O Brasil ganha esta Copa?
Espero que sim. Mas não será fácil. Argentina, Alemanha, Itália e outras equipes virão com vontade de estragar nossa festa. 

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