Muito além do palco

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Muito além do palco

Dona de uma versatilidade incomum, a animada Carla Candiotto, moradora da Vila Ipojuca, além de atuar, escreve, dirige e produz seus espetáculos, em parceria com Alexandra Golik, através da Cia. Le Plat Du Jour. 

Ganhadora de diversos prêmios, entre eles, dois APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), ela tem no teatro infantil seu principal público, mas também fez incursões pelo teatro adulto. Carla foi jogadora de vôlei, mas preferiu a carreira artística. Esteve por uma década na Europa trabalhando e estudando teatro. Dirigiu peças em países como China e Austrália. Além do teatro, também está na telinha da TV. Ela integra o elenco do humorístico Saturday Night Live, na RedeTV! 

Você trabalhou em navios de cruzeiro. Fazendo o quê?
Queria viajar e trabalhar. Trabalhei no navio Eugênio Costa, da Cruzeiros Costa. Como sou formada em educação física, fiquei dando aula de ginástica e fazendo recreação, além de fazer um show de mímica e encenando o espetáculo “O Mago Fernando e sua Assistente Lalá”. Foi uma forma de ir para a Europa e ganhar um dinheiro extra.

Você já era atriz quando partiu para a Europa?
Antes de trabalhar no navio, fiz um curso de mímica na Inglaterra.A escolha pelo teatro teve influência da família?Meus pais sempre me incentivaram em tudo. Meu pai era economista e jogou basquete. Minha mãe é professora de história. 

Você foi jogadora de vôlei?
Fui jogadora de vôlei. Eu era levantadora e joguei com a Vera Mossa, Jaqueline, entre outras jogadoras. Até cheguei a ser convocada para a seleção, mas acabei optando pelo teatro.

A temporada na Europa foi longa?
Saí daqui com 20 anos e voltei com 31. Lá, eu viajava e estudava teatro o tempo todo. Em Londres, me apresentava fazendo mímica nas ruas. Cheguei até a fundar uma companhia de teatro. Com ela ganhei um prêmio de melhor espetáculo, “Cabaret com Mágica”. Na França fiz curso com o Phillipe Gaulier e depois fui sua assistente. 

Foi na França que você conheceu a Alexandra Golik?
Sim. Estávamos fazendo um curso com o Phillipe Gaulier. A turma era formada por pessoas de várias partes do mundo. Durante uma aula, foi pedido que cada um falasse um texto em sua língua natal. Foi aí que descobrimos que éramos brasileiras.A identificação foi imediata?Fizemos um projeto juntas e criamos uma grande afinidade. Cada uma de nós também trabalhava em outras companhias como atrizes.

A Le Plat Du Jour foi fundada em 1992? 
Queríamos produzir nossos espetáculos e por isso fundamos nossa companhia. Pensava que não iria durar muito, mas, desde a primeira produção, as coisas foram dando certo e estamos juntas desde então. Tivemos e temos muitos sucessos: Chapeuzinho Vermelho, Peter Pan, João e Maria… E adoro estar com ela no palco.A companhia sempre teve o público infantil como alvo?Sim. Criamos a Le Plat com a ideia de fazer espetáculos para o público infantil com peças adaptadas dos clássicos. Mas já fizemos espetáculos adultos, como “Insônia” e “Vilcabamba”, que apresentamos no teatro do Sesi Vila Leopoldina.

Como é o processo de criação de vocês?
Trabalhamos juntas. Fazemos um roteiro e depois partimos para o ensaio e o improviso. Com o passar do tempo, a gente já sabe o que dá certo ou não. Consigo saber se o público está gostando da peça e se o ator também está gostando do que está fazendo.Você gosta de fazer direção?Quem dirige precisa ser generoso com o ator, para organizar o trabalho dele no palco. Quando o espetáculo termina e o ator está cansado, é sinal de que ele trabalhou bem. Como diretora, sempre busco a perfeição. E quando estou preparando um novo texto, não paro de pensar no espetáculo. O fundamental de fazer teatro é cuidar dos detalhes e se envolver.

Além de teatro infantil, vocês fazem teatro adulto. Qual a diferença entre os dois gêneros?
Em termos de dinheiro, o infantil dá mais. Sempre temos a casa cheia. O adulto sempre acompanha a criança. Fazemos muitas apresentações para escolas que já conhecem nosso trabalho. Não existe diferença teatro infantil e adulto. Não é mais fácil de fazer do que o teatro adulto. 

A resposta da criança é imediata?
Criança é muito inteligente e se a peça não é boa, ela pode levantar e pedir para sair. No processo de criação, se damos risada nos ensaios, sabemos que vai funcionar.

Tem fórmula para atrair a atenção da criança?
A criança gosta de acompanhar a história. Se ela entende, no meio você pode até brincar com ela. A cumplicidade entre os atores e as crianças é fundamental. A peça precisa ter diversão, movimento, situações engraçadas e humor, que é a forma mais curta de comunicação.

E se a criança chora?
Convidamos o pai ou a mãe a sair com a criança para ela não ficar chateada com o teatro. Depois de alguns minutos eles voltam e assistem até o final ou então voltam em outro dia, a gente dá um novo ingresso, sem problema. 

No teatro infantil, o adulto também precisa gostar?
É uma exigência da nossa companhia. É preciso que a situação seja engraçada tanto para a criança como para o adulto. Criamos sempre um vínculo entre pais e filhos. 

Tem uma forma especial para encenar clássicos?
Os clássicos infantis sempre são muito bem amarrados. A forma de ser contada é que precisa ser gostosa. 

O folclore e lendas brasileiras já serviram de inspiração para vocês?
Ainda não fizemos. Mas isso com certeza vai acontecer.

Você atua, dirige, produz e escreve. Tem alguma preferência entre essas funções?
Como diretora, preciso ter uma visão mais completa do espetáculo. Gosto de dirigir e também de atuar. 

Como foi dirigir espetáculos lá fora?
Foram convites que recebi. Na China, fui com a companhia que fundei na Inglaterra, encenamos “Aladin e a lâmpada encantada” em inglês com legenda em mandarim. Na Austrália, fui com o meu marido, Rodrigo Matheus, encenar “Juca Zeca Ju”, com a Cia. Circo Mínimo.

Entre tantos prêmios que você recebeu, qual deles você destaca?
Os da APCA. Mas todos os prêmios são bem-vindos e têm sua importância. É um reconhecimento pelo trabalho da gente e isso é muito legal.Agora você também está na telinha, no elenco do humorístico Saturday Night Live, na RedeTV.Na TV já tinha feito algumas participações em seriados do canal Fox. A televisão é totalmente diferente do teatro. Eu digo que é um outro planeta e ainda estou aprendendo. O legal é que no SNL o ator participa muito. Não se limita a ser apenas intérprete. Eu às vezes me assusto.

Como você foi chegou ao SNL?
Nem eu sei (risos). O Rafinha Bastos me telefonou, fez o convite e eu acreditei nele. Ele sabia que eu já tinha feito comédia, escrevia e dirigia. O programa tem muito para crescer. E está confirmado na grade de 2013 da Rede TV! Foi mais difícil nos primeiros programas. Apesar da saída do Rafinha, o programa não perdeu em humor e qualidade. E foi muito bacana ter trabalhado com o Rafinha. Além dele, tem uma galera nova de TV bem animada. Mas ainda estou aprendendo a fazer TV, que é um veículo muito poderoso. Cada ponto no Ibope significa mais de 60 mil pessoas sintonizadas assistindo você. 

Que você acha do stand-up? Ele veio para ficar?
Quando eu morava em Londres, era comum ver shows de stand-up. Acho que o estilo veio para ficar e é contagiante. Mas quem trabalha com teatro vai continuar a fazer o que gosta. Todos são estilos de entretenimento. O stand-up tem aberto muito mercado de trabalho. E acredito que só vai melhorar. 

Há quanto tempo você mora na Vila Ipojuca?
Há mais de dez anos. Tenho a felicidade de morar em uma casa.

O que significa pra você a Ipojuca?
Aqui tem melancolia e simplicidade. Me sinto vivendo no meu tempo de criança. É muito gostoso.

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