A região e a Subprefeitura

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Empossado como subprefeito da Lapa em setembro de 2009, Carlos Eduardo Batista Fernandes substituiu a Soninha Francine. Hoje, ele administra uma área com 40,57 km2 e população estimada em 305 mil habitantes (fonte: IBGE 2010). Sob seu comando estão 380 funcionários diretos e 450 terceirizados atendendo aos moradores da região que abrange os bairros da Lapa, Vila Leopoldina, Perdizes, Pompeia, Água Branca, Jaguaré, Sumaré e outros bairros. Morador de Perdizes, Carlos Fernandes tem sua história pessoal ligada à região. Sempre teve uma participação ativa na vida política do país. É neto e filho de militantes comunistas. Filiado ao Partido Comunista Brasileiro, hoje Partido Popular Socialista, ele preside o diretório municipal do PPS. Nesta entrevista, Fernandes fala de temas relacionados à região, desde as enchentes às árvores, passando pela política entre outros assuntos que nos interessam diretamente. 
 
As enchentes que a região têm sofrido nestes últimos anos continuarão em 2012?
A subprefeitura tem feito e licitado várias obras em todos os bairros como Pompeia e Lapa. As obras aqui na Lapa já estão licitadas. Posso citar a nova galeria da Rua do Curtume, aqui ao lado da subprefeitura. Ela terá 50% a mais de captação de água. Quando chove muito, a região inunda e o pessoal vem até aqui tirar fotos. Com a inauguração do novo Poupatempo, aqui na Rua Guaicurus, é uma obra necessária para eliminar o problema das enchentes. Aqui neste trecho, toda essa água vem das ruas Vespasiano, Caio Gracco e desaguam aqui na Guaicurus. Com essas obras vamos dobrar a capacidade de absorção das águas das chuvas. Outra obra neste sentido é na Rua Tiburtino em frente ao Mercado da Lapa, que também alaga quando chove muito. Hoje, há uma galeria que faz uma curva. O fluxo de água que passa pelo córrego corre por debaixo do Shopping Lapa e tem um grande volume. Estamos fazendo uma nova galeria ao lado da atual e seguirá por debaixo da linha do trem e vai aumentar a vazão.

E as enchentes que acontecem na região da Ceagesp?
Na Leopoldina temos um problema nos arredores da Ceagesp que foi construída em uma área muito plana. Há um projeto de requalificação que está pronto. Ele vai levar a água da Rua Carlos Weber, próximo ao Sesi Vila Leopoldina que também sempre tem problema quando chove muito, e seguirá pela Rua Mergenthaler em direção ao Rio Pinheiros onde desaguará. As enchentes, além dos problemas que causam à Ceagesp, também criam problemas para as empresas de comunicação e publicidade que estão instaladas na região.

Tem uma previsão de quando essas obras ficarão prontas?
Devem ficar prontas em 2014. Mas as obras que começam do Rio Tietê para dentro possivelmente em pouco tempo trarão algum alívio para a região.

O que a população pode fazer para minimizar esses problemas?
Educação é o básico. Vou dar um exemplo. As bocas-de-lobo próximas a um McDonald’s geralmente têm muitos copos e papel que o pessoal joga na rua. O pessoal que entrega jornais em cruzamentos também contribui para o entupimento das tubulações. Muitas vezes encontramos pacotes inteiros de jornais jogados dentro do bueiro.

E os entulhos que são deixados pelas esquinas?
As pessoas entregam alguns materiais para os catadores de lixo. Eles só aproveitam o que tem valor para eles. Alguns deles, sem consciência, jogam o que não aproveitam na primeira esquina que encontram. Muitas vezes o sujeito compra uma TV e descarta o papelão e o plástico. O catador aproveita apenas o que tem valor de mercado, no caso, o papelão. É preciso saber onde descartar esses materais. Em breve teremos uma central de triagem próxima à Ponte Julio Mesquita. Nestes meses estamos fazendo um grande trabalho de limpeza de boca-de-lobo e microdrenagens de córregos. É um trabalho intenso e preventivo para evitar enchentes.

As árvores já causaram alguns acidentes. O que a subprefeitura tem feito para evitar isso?
Criamos o projeto Identidade Verde. Identificamos e cadastramos todas as árvores e sabemos sua atual situação, data de poda e diagnóstico fitosanitário. Vamos fechar o ano com 10 mil árvores vistoriadas de um total de 60 a 70 mil dentro da subprefeitura. Sem contar as das praças. E aumentamos o número de podas e remoções. Árvores, drenagem e ação preventiva. A região da Lapa, Vila Romana, Perdizes, Pompeia é uma região muito acidentada em época de chuva, e temos muitas casas antigas. E quando algumas árvores oferecem algum risco, acionamos a Defesa Civil para fazer o trabalho dela e entramos em seguida com o nosso serviço de limpeza.

Qual é na sua opinião sobre a vocação da Vila Leopoldina?
A vocação da Leopoldina é cinema e publicidade. Temos várias produtoras. Entre elas, a O2 Filmes, a TV Brasil, a Cinemateca e outros estúdios.

Estamos criando um polo de cinema e de audiovisual?
A Leopoldina está virando um polo cinematográfico por duas razões. Tínhamos e temos ainda grandes galpões de antigas indústrias. Isso permite que uma produtora possa montar seus estúdios. E é um dos raros locais em São Paulo onde temos isso. Outra coisa é a localização estratégica para a cidade. Desde os tempos dos bandeirantes, o Rio Tietê que corre para o interior facilitava a navegação. Não era preciso remar. E a junção com o Rio Pinheiros e a Represa Guarapiranga, saída para o litoral. A região sempre foi estratégica para entrada e saída até hoje. Desde a ferrovia Santos-Jundiaí, depois a ferrovia Sorocabana em direção à Bauru, que eram as rotas estratégicas dos bandeirantes.

A Ceagesp continua na Vila Leopoldina?
Do ponto de vista de logística é perfeita a localização da Ceagesp. Esse é um dos motivos pelos quais a Ceagesp não quer sair daquele lugar de jeito nenhum. Está dentro da cidade e nos principais acessos. É um lugar excelente e se cortar por dentro, pela Gastão Vidigal, fica fácil o acesso para a Pedroso de Morais e Avenida Paulista. É uma vocação da região da Vila Leopoldina. Muitas empresas se instalaram por isso e outras devem seguir o mesmo caminho. Além de ser também é uma boa área para moradia.

As calçadas deverão ficar mais acessíveis?
É perfeitamente possível deixar as calçadas de acordo com a nova legislação. Ainda temos um problema cultural e de educação. Os proprietários querem ter acesso do seu carro à sua casa acertando a calçada pelo espaço público e não pelo terreno dele. É preciso ter acessibilidade nas calçadas. Elas precisam ter 1,50 m para as pessoas caminharem. Temos uma população mais idosa e é preciso ter mais cuidados com eles. O que muita gente não percebe é que consertar a calçada valoriza o imóvel e o bairro. Por outro lado, nós estamos fazendo nossa lição de casa. Reformamos e estamos fazendo várias intervenções de qualificação em imóveis públicos.

Quais são as reclamações mais comuns que a população faz?
Através do Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC), recebemos muitas reclamações sobre poda e remoção de árvores. Recebemos reclamações sobre ocupação de solo, suspeitas de obras irregulares e conflitos entre vizinhos. Sobre ruídos de bares também, mas são mais pontuais. Mas quem fiscaliza ruídos é o Psiu. O problema maior dos bares surge com a saída do público.

Fale um pouco sobre você. Onde você estudou?
Estudei no Colégio Batista Brasileiro, em Perdizes, na extinta Escola Vocacional, na Alameda Olga, e no Sagarana, em Pinheiros. Cursei economia na PUC, mas não cheguei a me formar.

Você é casado? Tem filhos?
Sou casado, tenho dois filhos.

Sua avó ganhou o Prêmio Lênin da Paz. Por que?
Minha avó, Elisa Branco Batista, que era comunista, recebeu o Prêmio Lênin da Paz. Apenas ela e o Jorge Amado foram os dois únicos brasileiros que receberam esse prêmio. Na década de 1950, ela participou da luta do movimento feminista contra a ida dos Pracinhas (soldados brasileiros) para lutar na Guerra da Coreia.

Você sempre fez política?
Sim. Até cheguei a morar sete meses na antiga União Soviética, onde fiz um curso de formação política. Entre 1982 e 1983. Eu fazia parte do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que hoje é o PPS.

Pretende ser candidato nas próximas eleições?
Sou subprefeito e fico até quando o Kassab assim entender. Posso ir até o fim, posso ficar pelo caminho.

Quem será o candidato à prefeitura de São Paulo pelo PPS?
Vai chegar um determinado momento em que o prefeito vai ter o candidato dele e nós teremos o nosso. A eleição tem dois turnos. Temos muito a oferecer para a cidade neste debate. E acreditamos que podemos chegar lá.

Que avaliação você faz da gestão do prefeito Gilberto Kassab?
Avalio que a gestão dele é vitoriosa. A questão da aprovação ou não é pontual e é natural que tenham altos e baixos. Mas o saldo que fica para a cidade é que retomamos os espaços públicos. Tivemos avanços tremendos na área de educação, da saúde, da habitação. Temos aqui um dos maiores projetos habitacionais da América Latina. O que está sendo feito na proteção dos mananciais da Represa Billings, que tem investimento do governo estadual e federal. Isso é fundamental para a requalificação da cidade. A reurbanização da Favela do Jaguaré é um exemplo. O padrão dos apartamentos é superior ao Cingapura ou outros. Visite e compare. No transporte, o investimento que a prefeitura está fazendo nos corredores de ônibus, que é o que dá transporte de massa. Os corredores são necessários e ainda tem o problema viário. Eu sei disso porque trabalhei na SPTrans. Precisamos melhorar os corredores existentes e investir em novas tecnologias para aumentar a velocidade dos ônibus nos corredores, da ultrapassagem dos ônibus, modificar o número de linhas. A população precisa entender que não dá para ter uma linha que sai do seu bairro e vai até o centro. É preciso fazer transbordo em um terminal, descer e pegar outro ônibus como se faz no metrô. É preciso que o usuário tenha segurança e saiba que o ônibus tem uma regularidade. É uma questão de confiança. Os ônibus muitas vezes estão cheios, uma lata de sardinha? Isso é verdade, mas o pior é o ônibus que não passa no horário. A regularidade é uma questão fundamental em transporte.

Você é um dos únicos subprefeitos que não é militar da reserva. Como é o seu convívio com o prefeito Kassab?
Mas eles ainda vão me dar uma patente (risos). Temos uma sintonia total entre o Kassab e nós. E avalio que a gestão dele é vitoriosa.

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