A Igreja Bola de Neve tem uma identificação muito grande com um público jovem e descolado. Fundada por Rinaldo Luiz de Seixas Pereira, um surfista formado em propaganda, fundou sua própria igreja em 1993. Apóstolo Rina, como é conhecido, passou pela Igreja Batista e pela Renascer. Seu primeiro templo era em uma garagem na Rua Marco Aurélio em janeiro de 2000. Hoje são 150 no Brasil e outras no exterior. Rina conta como aconteceu seu chamamento, fala sobre drogas, homossexualismo, casamento e outros temas.
Você usou drogas na juventude?
Embora com um bom alicerce familiar, usei drogas – maconha e cocaína – pelo embalo da adolescência. Dos 16 aos 20 anos. Mas isso não me transformou em uma pessoa irresponsável. Sempre trabalhei. Parei quando me converti. E nunca fui consumido pela droga.
A religião sempre esteve presente em sua vida?
Aos 20 anos, tive as experiências com Deus que foram marcantes e definitivas. Estudei no Colégio Batista Brasileiro em Perdizes e frequentei a Igreja Batista ucraniana que meus avós frequentavam. Eu tinha sede de Deus. Fui em busca da minha fé e queria desenvolver minha fé. Foi isso que me atraiu. Depois, fiz parte da Renascer onde fiquei 4 anos e meio.
Por que criou a Bola de Neve?
O ministério exigiu que eu me posicionasse. Entendi a minha chamada e a minha vocação. Formado e pós-graduado e trabalhando em propaganda e marketing, entendi que deveria atender a esse chamado. Se eu não fizesse isso, seria o sujeito mais incompleto do planeta por mais bem sucedido que fosse.
O primeiro templo foi na Rua Marco Aurélio?
Não. Antes um amigo empresário emprestou um salão de uma confecção de roupas para surfe no Brás, comportava umas 120 pessoas. Oito meses depois, consegui alugar o prédio na Marco Aurélio, 496, e o primeiro culto aconteceu em janeiro de 2000. E vivia lotado com mais de 700 pessoas em cada culto. As pessoas ficavam apertadas e tinha gente na rua.
Por que Bola de Neve?
No começo, as pessoas se identificaram como as mensagens eram passadas. Falávamos de Deus, mas também surfávamos. Não éramos uns ETs. Pensamos em algo que começasse pequeno e depois poderia crescer. E Bola de Neve se encaixou e traz um pouco da essência do que é a igreja. É irreverente e não associa logo à religião, a coisa formal. Nosso público já tem muita formalidade em suas vidas e quer ir para a igreja do jeito que ele é sem precisar representar nada.
Descontração até na pregação?
Sim, isso desde o início. Tem gente que pensa que para andar com Deus você não pode ter graça, alegria. Na verdade o relacionamento com Deus é muito mais do que isso. Nossa proposta é como deve ser o relacionamento com Deus. Dentro de parâmetros bíblicos, aqui, você não vai ver doutrinas que são criadas pelo seu líder. Não importa sua roupa, seu esporte, seus gostos pessoais.
É por isso que os cultos são bem animados?
É tudo muito espontâneo. É um público MTV e eles querem louvar com música, é claro.
O que é fundamental?
Entender o que é pecado segundo a Bíblia. E usar seus dons a serviço da sociedade. Através da igreja, você vai descobrir que você é importante para Deus e Ele é o mesmo para você. E disseminar a luz que recebeu dEle.
Não importa a profissão, esporte ou posição social?
Ficamos muito estigmatizados como essa história de surfistas. Hoje, se você perguntar na igreja quem surfa, acho que nem 5% faz esse esporte. Eu e outros pastores ainda surfamos como qualquer outra pessoa. Mas hoje o público da Bola é alternativo. Tem quem pratica esportes radicais e outros, nenhum esporte. É um lugar para desenvolver a espiritualidade com Deus em um ambiente informal e descontraído.
A pastora Denise Gouveia de Seixas Pereira, sua esposa, tem que participação na Bola de Neve?
A música sempre fez parte da adoração a Deus, desde os hebreus. Ela cuida de todo o ministério de música e de adoração. Ela tem o dom e escreve e compôe a maioria das músicas da igreja. São músicas de contemplação e de uma experiência espiritual com todos os tipos de batidas. É uma coisa de nossa geração.
Quantos integrantes tem a Bola de Neve atualmente?
Deus falou para David não fazer um senso em sua igreja para ele não achar que ele era alguma coisa. Nunca fiz essa conta.
Você não tem ideia?
Na cidade de São Paulo, devemos ser uns 18 mil. Incluindo o ABCD, devemos ser uns 25 mil. E no Brasil, uns 50 ou 60 mil. Mas não mensuramos isso.
Qual é a diferença com outras igrejas?
A forma como as coisas são conduzidas. Aqui o povo sente como as coisas acontecem sem formalidade. Como as outras igrejas, também buscamos a prosperidade e ela é importante em nossa vida, mas não é a nossa principal bandeira. Aqui, procuramos tratar os assuntos de forma mais holística. Nosso relacionamento com Deus passa por muitas coisas e tem outros propósitos. Temos seriedade da palavra, o caráter dos tradicionais e o carisma dos pentecostais.
É uma igreja mais para jovens?
Esse é outro estigma. Quando começamos o jovem era maioria. Onze anos depois, esses mesmos jovens cresceram, casaram e tiveram filhos. Muitos deles trouxeram seus pais para a igreja. Hoje é um público misto. Digo que somos jovens de espírito. A nossa liturgia é bem descontraída. Tudo é muito espontâneo. A gente transmite o que vive e uso uma linguagem que o jovem se reconhece.
Sexo só depois do casamento?
Quando você acredita na Bíblia, você passa a viver uma contracultura. Nas gerações passadas, vivíamos na revolução, na rebeldia. Depois, ficamos mais rígidos. Saímos de um extremo para o outro. Era o sexo livre e o uso de drogas sem limites. Muitos morreram de overdose. Nossa geração, a “X”, conseguiu dar um equilíbrio. O mundo atual vive um retorno aos valores familiares. Queremos o que é saudável como estilo de vida e que sirva de exemplo para os filhos.
Os jovens entendem e aceitam essa mensagem sem dificuldade?
Para a nossa surpresa, as experiências deles os levam a aceitar a palavra de Deus como viva. Alguns jovens que chegam à Bola de Neve tiveram vários parceiros sexuais na vida. Se envolveram emocionalmente com muitos e hoje se sentem sozinhos. E quando descobrem que podem viver alicerçados em outros valores, que existe gente que leva essa vida e é feliz, eles querem isso para eles. O sexo não precisa ser a única coisa na vida das pessoas. Segundo a Bíblia, ele será bom e saudável quando você estiver com a pessoa certa, quando houver amor entre o casal. Não essa bagunça que vivemos hoje, com pessoas morrendo de aids, gravidez precoce e marcas emocionais por toda a vida. Essa geração está cansada disso.
A influência vem da TV e de outras mídias?
É o que o cinema e a TV dizem. Nós, como igreja, estamos na outra ponta da corda. Recebemos as pessoas decepcionadas com esse padrão, com essa cultura. A maioria vive assim para não ficar excluída de seus grupos sociais. Na igreja, elas descobrem que existem pessoas da geração delas que vivem por outros padrões, pela palavra de Deus, e podem viver felizes.
Na área social, o que a Bola de Neve faz?
Temos uma frente chamada Nova Vida. Oferecemos todo o apoio e suporte para dependentes e co-dependentes com drogas. Ninguém precisa ser da igreja e está aberto para todos. São grupos de apoio e temos alianças com casas de recuperação. Em caso de internação, orientamos e auxiliamos a pessoa e seus familiares. Os resultados são surpreendentes. Já recebemos a visita de estudantes da Faculdade Paulista de Medicina para saber como as pessoas estão deixando o crack sem uso de remédios. Temos diversos casos aqui.
Onde ocorrem essas reuniões?
Toda segunda, às 20h, aqui na Rua Turiassu, 734, para qualquer pessoa e seus familiares. Temos outras ações sociais. Mandamos recentemente 30 voluntários para o Haiti. Eles vão pregar a palavra e ajudar na construção de escolas.
O dízimo é obrigatório?
A oferta e o dízimo são as formas bíblicas que a igreja tem para se sustentar. Nos sustentamos através das ofertas e dos dízimos. Não constrangemos ninguém. Muitos chegam preparados para serem extorquidos. Quando conhecem nossa igreja, percebem que tratamos do assunto de forma natural, sem pressão. E ele acaba contribuindo com o que pode.
Como funcionam as células?
Assim como acontecia na história, as pessoas se reuniam nos templos e nas residências para estudar a palavra de Deus. Hoje, temos quase 500 em todos os bairros da cidade. Funcionam como um bate-papo em um ambiente familiar. E é uma oportunidade para fazer amigos na igreja. Tem um líder que pode servir como conselheiro.
Homossexuais são aceitos na Bola de Neve?
São seres humanos tão amados por Deus como qualquer outro ser humano. Mas a Bíblia diz: “o homem foi feito para a mulher e a mulher para o homem”. Não sou eu quem está falando, é a Bíblia. É um pecado como o adultério e está na Bíblia. Não julgamos ou condenamos. Temos um grupo do NV voltados para aquelas pessoas que querem sair do homossexualismo. Na Bola de Neve são dezenas de casos de pessoas que mudaram e muitos deles sobem ao púlpito e contam sua história. O que acontece é que tudo aquilo que está em desacordo com Deus fica latente e começa a incomodar dentro dele. O mesmo acontece com aquele que está em adultério.
A Bola é uma igreja elitista?
Não queremos elitizar e pregamos para todas as classes. E as nossas frentes sociais estão localizadas na periferia. Para nós, não importa sexo, cor ou situação financeira. O nosso pensamento é uma extensão do pensamento divino.
Você sempre está presente nos cultos na Rua Clélia?
Quando estou aqui sim, mas viajo muito. Na Clélia, recebemos em média 5 mil pessoas em cada culto que acontecem às quintas, às 20h, e domingos, às 10, 16 e 19h. Nas sextas, às 20h, temos um culto somente para mulheres na Clélia. Aqui na Turiassu, o culto é no sábado, às 20h. E na última terça do mês, também às 20h, temos uma reunião para empresários e empreendedores onde abordamos assuntos do mundo corporativo na visão da Bíblia. Incluindo os temas ambientais. Afinal temos que cuidar desse nosso planeta.
E a Bola de Neve também se faz presente em mídias como TV, rádio, internet…
Na RedeTV! o nosso programa é às duas da madrugada no sábado, no mesmo horário do programa do Serginho Groismann na TV Globo. O pessoal sai de lá e vem ver a gente. Temos uma gravadora e a web rádio mais escutada no Brasil, basta acessar www.bolaradio.com.br.