Um artista completo

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Gero Camilo é mais conhecido como ator de cinema, teatro e televisão, mas seu trabalho também abraça as palavras, escritas e cantadas. Sua presença cênica marcante faz de seus papéis momentos inesquecíveis nas artes dramáticas. Nascido em Fortaleza há 38 anos, ele se formou na Escola de Arte Dramática, na USP, em 1998. E desde essa época mora no bairro, que ele gosta mas reconhece faltar espaços culturais.
Apesar de começar no teatro, Gero ganhou destaque com seu trabalho no cinema, no filme Bicho de Sete Cabeças (2001), de Laís Bodanzky: ao lado de Rodrigo Santoro, ele foi Ceará, um doente mental doidinho. Essa atuação lhe rendeu os prêmios de melhor ator coadjuvante no Festival de Brasília e no Festival de Recife. A partir daí sua participação em grandes filmes nacionais e internacionais não parou: Abril Despedaçado (2001), Madame Satã (2002), Cidade de Deus (2002), Carandiru (2003), Narradores de Javé (2004), Chamas da Vingança (Man on fire – 2004), 5 Frações de uma Quase História (2008) e Pequenas Histórias (2008).
No teatro, escreveu e atuou em A Procissão e Aldeotas, com atuações que o indicaram para o prêmio Shell de melhor ator. Na TV, participou de Hoje é Dia de Maria e outros trabalhos. Nas palavras escritas, lançou o livro A Macaúba da Terra (2001) e nas cantadas, o CD Canções de Invento (2008). Tem também sua participação no próximo show… opa, melhor acompanhar o bate-papo a seguir!

Você vai se apresentar num novo espetáculo?

É um show com as minhas músicas e as músicas do outro grupo. São duas bandas: Gero Camilo e Bando e a Trupe Chá de Boldo. Eu os conheci no Studio SP e fiquei encantado com o trabalho autoral, com a presença cênica e musical deles. Achei que tinha tudo a ver com meu trabalho e com a minha banda. Aí a gente se aproximou, viu as afinidades e eles me chamaram pra fazer uma participação no show deles, que foi dia 19 de fevereiro. Então eu propus a eles uma música que eu fiz dia 1º de janeiro, chamada Love, Love, Love, que virou nome do show.

Tem alguma proposta nova nesse show?
É uma ode ao amor, por isso o nome. Ele traz o discurso do afeto, a possibilidade num mundo de tanta violência, da gente cantar a vida… Love, Love, Love! É música mas tem uma preocupação cênica. A banda deles tem 13 pessoas, a minha vai dar quase umas 16, porque tem uns convidados. Uma banda começa e no momento da música Love, Love, Love, uma banda sai e a outra entra, sem parar de tocar, com um figurino louco, bonito, colorido. É muito cênico, tem teatro mas é essencialmente musical. Ah, todas as quartas-feiras de abril.

Quem é seu bando?
É uma galera que já toca com Vanessa da Mata, Chico César e muito mais gente. É a Simone Soul, Alfredo Bello, Luiz Gayotto, Simone Julian, Estevan Sinkovitz, Nina Bauth e Tata Fernandes.

Você também toca?
Não sou um violonista, eu toco violão pra compor e uma ou outra vez eu toco no show, mas eu canto.

E o repertório é dividido?
Sim, uma parte é do Chá de Boldo e outra minha. É um bando jovem, uma banda paulistana com um trabalho bem paulistano. Tem a cara do bairro que eles moram, Vila Madalena e Lapa, a grande maioria. Meus músicos também são todos dessa região…

Você parece ter uma vocação para achar talentos?
Eu tenho uma escuta pras coisas que me interessam muito em arte e aí é fácil abrir o caminho quando eu percebo essa identidade, quando reconheço essa força. E ir de encontro a isso é o natural da minha relação com a arte.

Vocês pretendem levar o show a outros lugares?
A princípio sim, ou ficar lá um tempo se a coisa estiver muito boa, mas se precisar de algo maior, vamos pra outros lugares.

Eu não conhecia esse seu lado musical. Você já tem gente que te acompanhe?
Sim, já fiz dois shows, um de lançamento do CD, no SESC Pompeia, no projeto Prata da Casa, que lotou, tinham 800 pessoas, e fiz outro no Centro Cultural, na sala Adoniran Barbosa, também  lotado. Eles vão me ver a partir da música, não só do teatro.

O que você está fazendo como ator?
Acabei de filmar com o diretor Fernando Meireles uma minissérie que se chama Som e Fúria, pela Globo, mas ainda não sei quando vai ao ar, acho que este ano ainda.

E seu papel?
Eu sou um vigia de teatro. A história é a vida dos artistas de uma companhia de teatro que ocupa um teatro e só monta Shakespeare. Eu tomo conta do teatro, uma coisa meio paternal, sei tudo que está acontecendo com cada um do grupo, além de conhecer cada palmo do teatro. É um trabalho muito bonito com um elenco também bonito.

Que trabalho te dá mais prazer: cinema, TV, cantar?
Na verdade, todos. Estar atuando não só como ator, mas estar em cena, realizando meu intento poético. Antes de tudo eu sou um poeta, desde criança faço versos e minha preocupação é buscar um resultado que eu sinta que faça jus a esse compromisso.

E no cinema, tem algum filme pra estrear?
Tem o Hotel Atlântico, da Suzana Amaral, é um filme de estrada. Faço um sacristão, é uma cena breve, mas forte. Mas não sei quando será lançado.

E no teatro você volta com Aldeotas?
Volto em abril com Navalha na Carne e o show – saio da peça e corro pro show, às quartas. Em maio volto com Aldeotas.

Você tem alguma preparação física pra esse corre-corre?
Os espetáculos já fazem isso de certa maneira porque tanto Navalha quanto Aldeotas são espetáculos que eu uso muito o corpo. Aldeotas é quase um espetáculo de dança, mas eu tenho fôlego!

E por que morar na Lapa?
Porque é uma região de artistas…

Mais do que a Vila Madalena?
Não sei se mais, acho que os dois têm essa força. Essa região toda sempre abrigou e continua abrigando muitos artistas. Me formei na USP, em 1998, e aí minha turma toda veio para este lado, e gente faz bastante coisas por aqui.

Que tipo de coisas?
Encontros artísticos, essa vontade de movimentar a região. Mas falta muita coisa, o Cacilda Becker precisa voltar a funcionar, faltam espaços culturais.

E como é seu dia a dia? Você tem horários determinados?
Não, depende muito do instante. Quando tenho um tempo mais livre pra poder organizar o meu dia, aí eu tento fazer uma escala de horários pra poder dar conta. Uma vez fiz um cronograma, fiquei tão emocionado, gostei tanto, foi um dia feliz! E durou um tempo. Mas perdi um pouco essa disciplina agora vivendo mais o artista, mas por outras coisas da vida eu conseguia ser mais organizado. Agora eu estou resolvendo a música e o teatro ao mesmo tempo. Daqui a pouco vocês vão embora e eu vou poder tocar, pensar no meu repertório…

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