O romântico do bairro

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Almir Rogério ficou famoso com o sucesso da música “Fuscão Preto”. Agora está preparando um DVD com show ao vivo e um CD com músicas inéditas e regravações de antigos sucessos. Canceriano, torcedor do São Paulo Futebol Clube, mora na Lapa desde que chegou à cidade com seus pais, quando deixou Tuiuti, então distrito de Bragança Paulista. Nesta entrevista, Almir Rogério fala de sua trajetória de 35 anos de carreira musical, já gravou mais de 300 músicas. Fala também de seu lado compositor fiel ao seu público, não se importando em ser considerado um cantor brega por alguns. Ele conta como foi contracenar com a Xuxa no cinema, seu relacionamento com Chacrinha e Barros de Alencar, entre outros. Casado, pai de duas filhas, continua acreditando que cantar músicas românticas e dançantes é o seu destino. E pelo visto vai continuar a fazer isso por muito tempo.

Como foi o começo de sua carreira?
Comecei na TV Cultura. Participava de programas musicais, do programa da Xênia Bier que foi uma grande amiga e através dela, me apresentei na TV Globo, ainda como cantor semiprofissional.

O que você fazia antes de ser cantor?
Eu era office-boy de uma joalheria no centro de São Paulo, na Rua Barão de Itapetininga. Tinha 14 anos. Mas antes disso, estudava e trabalhava como engraxate para pagar a matinê.

Você sempre gostou de música?
Sim, desde garotinho eu sempre cantava. Meu pai e meus tios eram violeiros.

Em quais cantores você se inspirou?
Nelson Gonçalves. Sempre fui apaixonado pela voz do Nelson Gonçalves. Para mim, ele sempre cantou muito. Mas também sempre gostei do Agnaldo Timóteo, do Agnaldo Rayol, do Cauby Peixoto. Sempre gostei dos cantores românticos. E anos depois, eu cantei com o Nelson em um show em Recife. Foi um momento muito especial, extraordinário.

E quando gravou pela primeira vez?
Foi em 70 e gravei um compacto simples com a música “Triste”, de Sérgio Reis e Marcos Roberto. Faltava uma maturidade profissional, mas vendeu razoavelmente.

Nessa época você já se apresentava, fazia shows?
Sim, eu comecei junto com o Roberto Leal. Nós éramos contratados pela empresa de shows do Barros de Alencar, que tinha um programa de rádio e também era nosso empresário. Eu cantava “Triste” e o Roberto Leal, “Arrebita”. Foi o início da nossa carreira.

Você mudou muito o estilo de cantar durante a carreira?
Melhorei, mas eu desde garoto, já tinha a voz grave. Depois eu fui ficando com a voz mais aguda. No início eu forçava um pouco para cantar. Depois, fiquei mais solto, livre e cantei melhor. Quando gravei “A Menina do Parque de Diversões”, minha voz já estava definida.

Quantas músicas você já gravou?
Calculo que mais de 300. Foram vários LPs (long play) em portuguesas e em versão em espanhol. Em 92, fiz o meu primeiro CD. Atualmente, estou gravando o meu oitavo CD. E meu grande sucesso foi o “Fuscão Preto”, que já foi relançado em várias coletâneas.

Como a música “Fuscão Preto” apareceu na sua vida?
A música é de Jeca Mineiro e Atílio Versutti. Eu estava em Brasília divulgando meu trabalho, no início de 80. Em uma rádio de Brasília eu descobri a música. Quem cantava era Giovani e Mariel. O Mariel é quem presenciou a traição que a música fala.

Então, a música é inspirada em um fato verdadeiro?
É uma história real. O Mariel estava com outro amigo pintando a parede de um banco em Serra Negra e viu o fuscão preto que era de uma cidade próxima, chegar com a esposa de um conhecido dele. O casal se encontrava lá porque o local era mais tranqüilo. E daí surgiu a música.

E como você conseguiu gravar a música?
A música tocava só na rádio Planalto de Brasília em um programa que ia ao ar às 5 da manhã. A gravação era ruim, meia-boca. Arrumei uma cópia em cassete e trouxe para São Paulo. Eu acreditava na música, a gravadora achava que a música era perigosa. Levou um ano para eu gravar, com uma nova versão, melhor, ao meu estilo.

Gravou e foi sucesso instantâneo?
Em um mês de trabalho, já estourou. Lancei primeiro em compacto simples e em pouco tempo passou de um milhão de cópias vendidas. Enquanto o público comprava o compacto eu já estava gravando um novo LP incluindo o “Fuscão Preto”. E aí a vendagem foi lá para cima. Ganhei disco de prata, de ouro e diamante…

Esse sucesso tornou você conhecido em todo o país…
Pois é, com o sucesso do “Fuscão Preto” eu emendei com a música “O Motoqueiro”, que também fez sucesso, principalmente, no Nordeste. Apareci em todos os programas de tevê. Enquanto todos os sertanejos usavam chapéu, eu resolvi que seria diferente e sempre me vesti de preto. Queria ter o meu próprio estilo e consegui.

O que o “Fuscão Preto” representou para sua carreira?
Foi muito legal. Com ela, por exemplo, consegui entrar no mercado do Nordeste que tinha não aceitava este estilo musical. Naquela época, duplas como Zé Rico e Milionário, Trio Parada Dura e outros não trabalhavam lá. Os cantores de serestas como Reginaldo Rossi, Amado Batista e outros é que faziam sucesso. E como fiz sucesso no Rio de Janeiro e daí foi fácil conquistar o Nordeste. O Chacrinha, na tevê e o Barros Alencar, no rádio foram os grandes canais que tive para mostrar meu trabalho.

Como foi sua convivência com o “Velho Guerreiro”?
Ele não descriminava nenhum estilo musical. Ele era muito inteligente e vendia o peixe, sempre ao lado do artista. Fiz muitos shows com as caravanas que ele promovia.

Você também sempre participava do programa “Os Galãs Cantam e Dançam” do Sílvio Santos…
Foi neste programa que eu lancei “Triste”. Ainda era na TV Globo, aos domingos. Depois quando o Sílvio comprou a emissora dele, também me convidava para aparecer.

O filme “Fuscão Preto” veio no embalo do sucesso da música? Como foi atuar com a Xuxa?
O filme foi feito final de 82. Eu queria produzir o filme e seria mais dramático. Aí surgiu uma produtora e o diretor Jeremias Moreira Filho que já havia feito dois filmes com o Sérgio Reis. Fui convidado para atuar e acabei aceitando. Aí, eu não apitava, seguia o roteiro direitinho. O filme veio no sucesso da música, é claro. A Denise Dumont era para ser a mocinha. De última hora, contrataram a Xuxa. Ela tinha 19 anos na época e já estava aparecendo, já tinha feito filmes. Ela foi ótima, bem profissional. Eu senti que ela iria longe.

E a repercussão do filme foi boa?
Foi boa, principalmente no Nordeste.

Você tem ou teve algum fuscão preto?
Sim, tive três. Todos pretos. Recentemente, participei do Programa Auto Esporte da Globo, e a produção localizou esse carro em Juquitiba, na região sul de São Paulo.

A música rendeu bem para você?
Sim, consegui comprar alguns imóveis. Tinha que cuidar do futuro, que é importante.

Sua família também está na área musical?
Não. Minha esposa, Maria Inês, é estilista de moda. Trabalha com academias de danças, com fantasias e para a Escola de Samba Vai-Vai onde ela é a responsável por algumas das alas, há 15 anos. Tenho duas filhas, Odile e Marcele, uma é professora de dança e a outra formada em educação física.

Você também é compositor…
Sim. Depois do “Fuscão…” eu lancei a música “O Motoqueiro” que é minha. Para boa parte do público, o cantor é o autor da música. Com exceção do Roberto e do Erasmo Carlos, o compositor é um eterno desconhecido. Eu tenho uma música gravada pelo Chitãozinho e Xororó chamada “Se Deus Me Ouvisse” que fez muito sucesso com eles. E ela vai entrar no meu próximo CD. Outros, além deles, gravaram essa música, até em espanhol, mas ficou famosa com eles.

E o que você está preparando para lançar em breve?
São 35 anos de carreira e vou lançar um DVD e um CD com novas músicas. Ainda não decidi onde será gravado, mas será lançado este ano. Com músicas novas e outras já gravadas, em nova versão. E uma música da dupla Cinthya e Edílson que abrem meus shows e estou gravando uma música deles. Assim como tive apoio no meu início de carreira, estou fazendo o mesmo por eles.

Atualmente, você tem se apresentado onde?
Faço muito bailões, principalmente no Nordeste, onde eu canto o que eu quero. Meu repertório sempre foi dançante. Também trabalho muito no interior de São Paulo e Minas Gerais. Aqui na Capital até tenho evitado por conta do DVD e CD que estou preparando que vou lançar ainda neste primeiro semestre.

Você compõe de que maneira?
Uso o violão quando estou compondo. É o meu instrumento. Mas ando “brincando” com os teclados.

Você se considera um artista brega?
Na verdade, não sei quem inventou esse rótulo. Sou um cantor popular. Tem até um livro: “Almanaque da Música Brega”, onde gente como Caetano Veloso, Gal Costa, Roberto Carlos estão rotulados como bregas. Não acho ruim ser chamado de brega. Graças à música “Fuscão Preto” que é considerada brega, que eu consegui me projetar na carreira e me deu uma boa grana. Então, quero mais é gravar músicas populares. Meia dúzia não me dá dinheiro e prazer.

Você já se apresentou no exterior?
Sim. No Japão, no Festival pela Paz Mundial de Nagoya. Na América Latina, na Argentina, no Paraguai, na Bolívia também me apresentei várias vezes.

E sua ligação com a Lapa?
Sempre morei na Lapa. Desde que meus pais vieram para São Paulo. É o bairro onde moro, onde tenho meus imóveis. Vou ao Pelezão dar minhas caminhadas. Freqüento a Praça John Lennon, que eu adoro. Tenho muitos amigos por aqui. Considero o bairro muito seguro. E apesar do crescimento que está acontecendo, espero que continue seguro.



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