A mais antiga do bairro

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Você sabia que uma das escolas mais antigas de São Paulo fica na Lapa de Baixo? Em 1935, o Departamento de Cultura e Recreio tinha o escritor Mario de Andrade como secretário. Visionário que era, ele criou parques infantis em bairros operários da cidade, como espaços de troca de convivência entre as crianças. Assim, em 25 de janeiro de 1935 (data oficial), nascem os parques infantis D. Pedro II, Ipiranga e Lapa. Hoje, o D. Pedro II acabou e os outros dois viraram escolas: Escola Municipal de Educação Infantil D. Pedro I e Professora Neyde Guzzi de Chiacchio.
A vida de Mayra Ozzetti, diretora da EMEI da Lapa de Baixo, se funde de maneira harmoniosa com a história da própria escola. É que seu avô foi operário de uma fábrica de tecidos da Lapa e seus filhos conviveram no antigo parque infantil. Um desses filhos é pai de Mayra, que acabou sabendo histórias pitorescas do lugar através de depoimentos de alguns moradores do bairro.
“Esta escola na verdade tem um significado histórico muito importante, porque é uma das primeiras células do ensino municipal”. Mayra conta mais: “A idéia de Mario de Andrade era que nos parques infantis a criança tivesse contato com a natureza, por isso os espaços eram belíssimos. Eles também tinham dentistas, enfermeiras e alimentação. Na época não eram professoras, eram recreacionistas”, diz. Os parques tinham uma programação cultural interessante, as crianças faziam excursões até para o litoral e ainda ganhavam material de arte. “Aqui não era uma escola formal, mas as ‘professoras’ faziam o acompanhamento da lição de casa deles”. O parque tinha um espaço enorme, com campo de futebol que a comunidade usava para treinar esgrima e boxe.
Para a comemoração dos 70 anos da escola, em 2005, Mayra fez um grande trabalho de resgate, envolvendo alunos, seus pais e avós. “Fui atrás de parentes meus, vizinhos, e encontramos vários ex-alunos, que ainda lembravam até os números na camiseta*. Uma amiga da minha mãe, que era nossa vizinha, aluna desde a inauguração, era nº 9”, lembra ela. Durante suas pesquisas, Mayra viu um filme em que Getúlio Vargas fazia uma visita à escola. “Fiquei muito surpresa com isso”.
A partir da década de 1970 o parque virou EMEI e hoje tem 15 turmas em três turnos e perto de 460 alunos. Os alunos agora não são todos do bairro: “A maioria vem com suas mães, que trabalham por aqui. Temos muitos filhos de mães camelôs e também recebemos crianças de bairros distantes daqui”, diz Mayra.

*Antigamente, os alunos iam à escola com seu número bordado na camiseta.

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