A tática feminina

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Trabalhando na parte operacional, no comando de três companhias da região, a tenente Aline Francisquini conta como conciliar a dureza de sua profissão com a delicadeza de ser mulher.

Em março, mês no qual comemoramos o Dia Internacional da Mulher (dia 8), nada melhor do que falar sobre as mulheres que optaram por profissões tradicionalmente exercidas por homens, como é o caso da tenente Aline Francisquini, policial do 4º Batalhão da Polícia Militar Metropolitana (BPM/M). Ela trabalha no front, na parte operacional, em ruas do bairro e também na Força Tática, onde comanda de dez a 15 soldados, nove dos quais homens. “Atualmente estou exercendo a função de Comando da Força Tática, que é o policiamento mais específico que todo batalhão tem. Esse policiamento, que tem treinamento e horário diferenciados, age nos crimes de maior vulto, nas ocorrências de roubo a bancos, empresas, residências… e em situações de distúrbios civis”, explica.

Recentemente a tenente Francisquini esteve à frente do Comando da Força Tática no Forum da Barra Funda, onde ocorreu um enfrentamento de grupos pró e contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na data da audiência dele e de sua esposa, suspensa por um integrante do Conselho Nacional do Ministério Público (em 17/2).

A policial conta que nunca imaginou exercer essa perigosa profissão, pelo menos não até se apaixonar por ela. “É uma longa história, que começou quando eu fazia cursinho. Eu queria fazer faculdade, possivelmente numa universidade pública, e no preparatório, conheci policiais militares. Nessa mesma época, abriu concurso para soldado da Policial Militar, no qual me inscrevi e ingressei em 2005. Nunca havia pensado em me tornar uma policial militar, principalmente porque não tenho parentes policiais e nunca havia tido contato com esse mundo, mas como eu gostei, quis galgar maiores degraus e prestei concurso para a Academia do Barro Branco alguns anos mais tarde. Nela, eu ingressei em 2011 e saí formada no final de 2013. Depois disso, já como aspirante, estagiei na cidade de Santos, onde tudo é diferente, e, após esse período, fui declarada tenente”, revela.

Jovem, com 30 anos atualmente, a tenente Francisquini já passou por muito estudo e treinamento intensivo até chegar ao posto que está hoje. Mas seu objetivo, entretanto, é seguir carreira até se tornar coronel, a exemplo da comandante do 49º Batalhão, que atua nas áreas de Pirituba e Perus. “O treinamento exige muito de nós, tanto física quanto psicologicamente, mas eu quero continuar minha carreira como tenente, chegar a capitão, major, tenente-coronel e finalmente coronel. Como mulher e como profissional, quero continuar galgando e chegar até onde poucas ainda chegaram (o último posto da PM, que é de coronel).”

Perguntada sobre essa motivação feminina para trabalhos mais pesados, rudes, ou em posição de comando, ela responde que é normal porque as mulheres estão cada vez mais ativas e ganhando espaço em praticamente todas as áreas do mercado de trabalho. Ela diz ainda que existe, especificamente no meio militar, certo preconceito ou machismo, principalmente com mulheres em posição de comando, mas ela sente que isso vem diminuindo substancialmente com o passar do tempo. “Alguns dos soldados que trabalho têm mais de 20 anos de corporação e eu, como tenente, tento sempre tirar o melhor de cada pessoa que trabalha comigo. Acredito que a função de um comandante não é só impor ordens por conta de sua patente, mas, sim, entender a situação de cada indivíduo. É claro que o soldado cumprirá a ordem imposta, mas, se ele estiver contrariado, não dará o melhor de si nem trabalhará da melhor de maneira possível.”

A rotina de uma policial militar não é fácil. Sempre lidando com situações difíceis, ela precisa ter uma postura firme e raciocínio rápido para solucionar os piores conflitos. “Toda a minha formação, os três anos de Barro Branco, me prepararam e continuo me preparando para situações perigosas. No treinamento feito diariamente, temos contatos com todas as situações, elas já são previstas. Aprendemos a lidar com todos os tipos de estresse. Além disso, existe um planejamento prévio, de acordo com os índices criminais que temos, baseados em estatísticas, que utilizamos nas ações de rua, e também procedimentos que minimizam problemas, inclusive de desacato na abordagem”, declara.

Comandando e fiscalizando as viaturas operacionais que estão na área da Vila Leopoldina, Lapa e Perdizes, a tenente Francisquini informa que entre os crimes mais frequentes na região estão o furto de veículos, o roubo de celulares, principalmente nas áreas comerciais, e os roubos a residências e empresas de valores, comuns na região.

Por detrás da aparência frágil e feminina, a tenente Francisquini tem muita garra e disposição para combater o crime. Mesmo diante de situações ruins, com mortes e desgraças de todos os tipos, ela não perde nem a feminilidade nem a ternura. Munida de batom, blush, rímel, mas com o revólver no coldre, finaliza dizendo que, assim que deixa a farda, esquece das pesadas atividades e se volta para seu merecido descanso com a família. “Mesmo que as pessoas nos achem mais frágeis por ser mulher, digo que é possível conciliar a feminilidade com a atividade policial, que exige atitude e postura firme. Para mim, é importante nunca perder esse meu lado feminino, minha sensibilidade e nem a minha educação.” (ND)

 

www.policiamilitar.sp.gov.br

 

Fotos: Tiago Gonçalves

 

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