Muitas vezes pioneira

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Therezinha Penteado C. A. Oliveira

Para comemorar o Dia Internacional da Mulher, convidamos Therezinha Penteado C. A. Oliveira. Sempre pioneira em cargos de chefia, ela prova que é possível vencer o tempo e os obstáculos com força, carisma e delicadeza.

Com novos desafios e metas a cumprir no auge de seus 80 anos de idade, a Dra. Therezinha tem um extenso currículo como advogada e gestora: foi a primeira mulher a assumir a direção da Associação dos Advogados da Lapa, a qual foi uma das fundadoras, a presidência da OAB Lapa em três mandatos, o Rotary Club do bairro e agora a superintendência da Associação Comercial da Distrital Oeste. Acompanhe esta entrevista exclusiva.

Qual o segredo para chegar a essa idade com tanta vitalidade a um cargo de chefia?
Procuro ser conciliadora e isso me ajudou a colher frutos durante a vida, porque vejo que as pessoas têm um grande carinho por mim. Uma das lições que aprendi é que temos de ser carinhosos com todos para que esse carinho reverta. Se jogarmos pedras, não receberemos rosas. Duas coisas me norteiam: a humildade e o bom tratamento às outras pessoas. Não podemos ser prepotentes, pois somos todos iguais. Eu sempre tratei da mesma maneira tanto o funcionário mais humilde quanto o diretor dos locais por onde passei, pois penso que vivemos num conjunto e cada um de nós exerce uma atividade que é importante para os outros. Assim, como trabalhamos numa equipe, este cargo é para mim mais um novo desafio.

Como foi chegar à faculdade e exercer a advocacia numa época em que a maioria das mulheres não chegava nem a terminar o primário?
Minha mãe foi um grande exemplo. Ela foi a primeira mulher a se formar em Odontologia pela USP, em 1932, assim como a minha tia, que se formou também naquela época em Farmácia pela USP. Minha mãe me aconselhava, dizendo que as mulheres não deveriam nunca ser dependentes, que o marido e a sociedade davam mais valor à mulher mais ativa, independente, com profissão. E ela tinha razão. Me casei no primeiro ano de faculdade, aos 21 anos. Eu estudava na PUC e meu marido, no Mackenzie. Casamos nas férias de julho e minha mãe pediu para que eu não desistisse e até continuou pagando os estudos para mim. Então, foram o seu incentivo e exemplo que me fizeram seguir em frente e não me arrependo.

Como conciliar família, profissão e as atividades nas entidades que dirigiu?
Minha prioridade sempre foi a família. Vi exemplos de pessoas que se dedicaram muito ao trabalho e acabaram perdendo tanto o trabalho quanto a família. Isso é errado… Obviamente, a profissão é importante, pois o sustento vem do trabalho, mas a minha família sempre esteve em primeiro lugar, depois vinha minha profissão e outras obrigações. Sinto-me abençoada por ter conseguido conciliar tudo e hoje ter dois filhos e cinco netos maravilhosos. Há dois anos fiquei viúva, mas consegui construir uma família grande, unida e amorosa.

Sua personalidade e força, aliadas a sua profissão, fizeram a senhora chegar a este cargo de chefia, coisa que muitas pessoas mais jovens não conseguem. O que a senhora diria para os mais jovens que estão pensando em desistir?
Eu diria que eles não deveriam desistir. Posso citar dois exemplos: meu próprio marido, que se aposentou e não quis mais trabalhar, e um senhor de idade avançada que se manteve ativo até os dias de hoje. Meu marido parou as atividades e, infelizmente, foi decaindo até morrer com princípio de Alzheimer. O outro, um advogado que hoje tem 91 anos, se manteve ativo após parar de advogar, indo a seu escritório para resolver pendências para familiares e amigos, e atualmente está bastante lúcido e até dirige sem ajuda. A lição que tiro é que tanto homens quanto mulheres devem manter seus cérebros ativos e aproveitar cada momento para fazer algo para os outros, com um trabalho voluntário, por exemplo. Se ficarmos em casa, nós nos acostumamos a não sair, nos acomodamos, e isso não é nada bom.

Fale um pouco sobre sua profissão e seus trabalhos nas entidades da Lapa.
Logo quando me formei em Direito, comecei a trabalhar. Meu primeiro filho já havia nascido (ele nasceu quando eu cursava o segundo ano da PUC). Trabalhei 43 anos de minha vida no grupo Gatti, como advogada exclusiva. Fui a primeira mulher a assumir a direção da Associação dos Advogados da Lapa, da qual fui sócia fundadora; também fui a primeira presidente da OAB Lapa, onde fiquei por três mandatos, e também a primeira do Rotary Club da Lapa. Já aqui na Associação Comercial, confesso que titubiei, disse que não queria assumir o cargo por conta da idade, mas não adiantou… acabou acontecendo e, na verdade, estou muito feliz porque meus companheiros são ótimos. Já fizemos reuniões e todos os conselheiros estão bastante entusiasmados.

Quais são os desafios desse cargo?
Quero, juntamente com os conselheiros que retornarão à Associação, transformar a entidade num local de empreendedorismo, voltado para a comunidade. Quero formar uma equipe forte, unida e trabalhar bastante. Somos formadores de opinião e precisamos fazer com que a entidade continue a ascender em sua missão junto com a comunidade. Hoje temos 810 associados e a nossa meta é conseguir trazer mais 40/mês para ampliar nosso campo. Contamos com cinco diretores executivos, 24 conselheiros e mais sete conselheiros natos, que já foram superintendentes, e também queremos ampliar nosso conselho diretor porque, quanto maior o número de conselheiros, mais nós podemos fazer pelo empreendedorismo. Nosso foco principal são os jovens e as mulheres de negócios. Outra coisa que pleiteamos é congregar as entidades do bairro para que elas interajam mais e eu já obtive sucesso nesse campo.

A senhora pode nos contar?
Sim, e estou bastante feliz porque consegui unir 18 entidades para realizar uma comemoração em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Vamos fazer o evento aqui na Distrital Oeste, no dia 13 de março, a partir das 19h30. Cada uma das entidades escolherá uma mulher para homenagear. Vamos entregar um troféu, um ramalhete de flores e um diploma com os nomes de todas as entidades participantes: Rotary Club de São Paulo Lapa, o do Alto da Lapa, OAB Lapa, Consabs (Conselho das Associações Amigos da região da Lapa), Y´s Men´s Clubs de diferentes regiões e outras tão importantes para os bairros da Zona Oeste.

Qual a diferença entre homens e mulheres em cargos de comando?
Vejo que o homem é mais razão e a mulher é mais emoção, embora muitas de nós combinem o coração com a razão e consigam ver as coisas com mais suavidade. A mulher é inteligente e eu me reputo inteligente, modéstia à parte. A mulher inteligente consegue resolver problemas com palavras mais amenas, pois geralmente é mais condescendente. Temos o dom de ser mãe e a nossa natureza nos faz mais delicadas. Com relação à competência, a mulher e o homem estão ali pari passu, ambos são capacitados. A diferença que vejo é que a maioria das mulheres que chega a cargos de poder sempre consegue ótimos resultados com mais suavidade e delicadeza.

Associação Comercial Distrital Oeste
Rua Pio XI, 418, Alto da Lapa
Telefone 3837-0544, 3645-3095 e 3645-4901

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