Rumo aos 120 anos

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Quem circula pela Rua Caio Gracco deve ter notado essa faixa numa casa e estranhado um pouco. O Guia Daqui Lapa foi até lá para entender o que a frase significa. Num misto de ateliê de costura e de arte, encontramos Dona Maria Bernadete França, 77 anos completados em julho. Ela explica: “Quero viver 120 anos, lúcida, peço isso sempre a Deus”. Agora a faixa está explicada.
Bernadete ganhou o apelido de Cota do pai logo que nasceu. “Ele não gostava do nome, que lembrava a vida triste de Santa Bernadete”, diz ela, que não sabe dizer por que recebeu esse apelido. O que importa é que Dona Cota esbanja otimismo e alegria de viver, e não que sua vida tenha sido tão fácil. Com 19 anos ela saiu de Santa Maria da Vitória, na Bahia, com três filhos pequenos e veio para São Paulo, onde teve mais quatro filhos. “Fui costureira para ajudar meu marido e criar nossos filhos”, conta ela. “Cheguei até a ter uma confecção própria, mas agora, costurar é só um hobby”, diz Dona Cota.
Ela conta que a novela Senhora do Destino foi um pouco sua história: “Aquela coisa de ter filha roubada aconteceu comigo, com a diferença de que minha filha não sumiu. Ela foi roubada na estação de trem de Barra Mansa, numa baldeação”, diz. O grito que Dona Cota deu ela ainda hoje ouve. Isso foi em 1953. “Botei ela e a mala na plataforma e voltei para o trem para pegar os outros filhos. Quando retornei, nem ela nem a mala estavam lá”. Seu grito foi tão forte e doído que o maquinista retardou a saída e a menina, que estava nos braços de um homem, foi prontamente devolvida. “Ele pensou que eu tivesse abandonado a menina na estação”, conta Dona Cota.

Criatividade

Quando chegou em São Paulo, ela foi para a Vila Jaguara, mas já está na Lapa há 20 anos. Seu negócio agora é trabalhar com argila. “Eu não trabalho para ganhar dinheiro, mas para botar a criatividade para fora”, diz ela empolgada. “Trabalho para passar o tempo e não envelhecer sem fazer nada”. Seus trabalhos evocam a natureza e a infância em terras baianas. Às vezes, pega amor na peça e não vende, como o quadro de Jesus. “Quem quiser pode encomendar, mas esse eu não vendo”. Ela adora mesmo é fazer cavalos e costuma passar a madrugada, quando está tudo tranqüilo, fazendo suas peças. “Fico muito satisfeita de as pessoas verem meu trabalho, me darem ‘parabéns’, só de entrarem aqui”, confidencia ela.
“Tenho falado para todo mundo que a vida é muito preciosa para mim. Por isso eu quero viver 120 anos, para dar tempo de escrever meu livro”, avisa Dona Cota. Ela ainda não se sente velha, nem sequer pinta o cabelo e de fato não parece que tem nem 60 anos. “Nem eu acredito na idade que tenho”.

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