O Escotismo começou em 1907, fundado por Baden-Powell, um oficial do exército inglês. O movimento não tem fins lucrativos e foi criado para moldar o caráter dos jovens através do trabalho em equipe e da vida ao ar livre. Atualmente, são 28 milhões em todo mundo, distribuídos em 217 países. No Brasil, são 60 mil filiados, no Estado de São Paulo, são quase 16 mil e aqui na Lapa eles são perto de 100 escoteiros. Comprometidos com suas leis, para formar cidadãos éticos e conscientes, o Quarupe se reúne todos os sábados, às 14 horas, no Clube da Cidade Edson Arantes do Nascimento, no Pelezão (Rua Belmonte, 957). A diretora-presidente do Quarupe e moradora da Lapa, D. Léa Aparecida Dezotti de Moraes, 61 anos, nos recebeu para falar sobre sua vida, sua doença e a importância do escotismo na vida de todos. Leia a entrevista.
Quando a senhora começou no escotismo?
Nossa “promessa”, minha e de meus irmãos, foi feita em 1966, na cidade de Araras, no Grupo Escoteiro Anhangüera, que foi minha mãe que fundou. No interior não tinha atividade paras as crianças, sábados e domingos era aquela criançada na rua, minha mãe veio para São Paulo fazer um curso. Aí meus pais, meus irmãos, meu namorado, todos entramos. Naquela época eram só meninos, as meninas trabalhavam como assistentes da chefia. Ficamos lá três anos e em 1970 mudamos para cá. Meus pais fecharam o grupo escoteiro lá e doaram todo material. Em 1994 nós abrimos o grupo escoteiro Quarupe. Começamos com meia dúzia de crianças e chegamos a 120 elementos. Não tínhamos sede, mas a comunidade sempre nos apoiou.
Vocês têm sede?
Não. Estamos há 14 anos aqui na Lapa batalhando para conseguir um espaço. Eu preciso de um barracão que eu possa ter reuniões, oferecer cursos para os meus elementos, que são da comunidade. Por que é um trabalho comunitário, só que super organizado. É uma organização devidamente fundamentada e organizada.
E como vocês se reúnem?
Já passamos por vários lugares. Precisávamos de um novo impulso, não queríamos fechar o Quarupe: são 14 anos de história na Lapa. No Pelezão fomos bem recebidos pelo Sr. Celso… E agora estamos lá. Solicitamos para a subprefeita a construção de um espaço lá dentro para abrigar nossas barracas. Temos projetos comunitários, de informática abertos para comunidade.
Como vocês se sustentam?
Os pais, decidiram uma mensalidade de R$15 por elemento e irmãos, R$10. Nós costumamos dizer que não é o pai que paga, ele que tem que conquistar esses R$15. Ele vai engraxar um sapato, arrumar uma cozinha, tratar o cachorro, limpar o carro do pai para conseguir pagar.
Vocês acampam muito?
Sim, acampamentos externos, internos. Em março lá no Pelezão, eram quase 50 elementos.
E o trabalho com as crianças?
Nosso trabalho com elas é o escotismo em si, que é formação de caráter, preparar a criança e o jovem para servir, servir bem a si próprio, a Deus, à pátria e ao próximo. O escoteiro tem que estar sempre alerta mesmo e útil para tudo, ele tem que trabalhar com a comunidade, nos eventos da Lapa as crianças vão para a rua, para servir a comunidade, aplicar aquilo que eles aprenderam, a educação, o respeito, eles estão sempre sorrindo! Não são todas as crianças que ficam no grupo escoteiro porque isso exige muito respeito. Tem que respeitar o outro, acatar responsabilidades, acatar ordens… Não é toda criança que consegue, porque isso é uma coisa de berço e para muitas crianças regras e limites não interessam. Então temos alguns problemas.
E para quem entra mais velho?
No Brasil o movimento escoteiro é de 7 até 21 anos, em alguns países vai até 24 anos. Se entrar com 18 anos, ele terá o adestramento dessa faixa etária, que já trabalha com projetos para a comunidade, ele é orientado para conhecer o movimento escoteiro.
Falta um movimento como o escotismo para ter menos jovens envolvidos em drogas, violência?
Falta, sim. O escotismo forma o caráter de uma criança, um jovem, um adolescente, são só duas horas e meia por semana. Quando acabam as atividades, eles vêm contar as coisas, eles precisam de orientação, tem jovem que chora. A gente fica sabendo mais de coisas deles do que os pais. Ninguém tem tempo para ouvir o jovem, só vão jogando coisas em cima dele, sem saber o que ele quer, o que ele precisa, o que ele está sentindo.
As bandeirantes?
São um movimento paralelo, com um trabalho mais social. Temos muito contato com elas quando acampamos. É uma linha de trabalho diferenciada.
Conte um pouco sobre sua doença e o escotismo.
Em 1993, quando eu voltei para o movimento escoteiro, fui acometida por um câncer de mama. Fiz radioterapia, quimioterapia, tudo. Continuei trabalhando, não deixei de ir ao grupo escoteiro em nenhum momento. Foi no movimento escoteiro que encontrei uma fonte de energia. Fiz uma promessa para mim: enquanto Deus colocasse crianças na minha vida, eu não ia deixar nunca de deixar de lutar por uma causa que acredito. Eu tenho uma missão aqui, que Deus me ajude e dê forças para continuar batalhando. Ainda tomo medicamentos, faço exames, fui operada mais três vezes… É uma luta com uma doença que existe no meu corpo, mas não na minha mente nem no meu coração. Tenho limites, e muitas vezes eu queria dormir no acampamento com eles, mas fico até altas horas, às vezes eles ficam cheios de lama e vêm sorrindo para mim… é o meu melhor medicamento. Também tenho o que meus pais que me ensinaram, a força dos meus filhos maravilhosos, da minha família… E a comunidade que tem pessoas maravilhosas que sempre acreditaram no nosso trabalho.
Quer ser escoteiro?
Ramo Lobo – de 7 a 10 anos
Ramo Escoteiro – de 11 a 14 anos
Ramo Sênior – de 15 a 18 anos
Ramo Pioneiro – de 19 a 21 anos
Cada seção tem sua preparação específica. Assim que completam a idade, passam para o ramo seguinte. Na Lapa, fale com Léa, telefones 3864-7845 e 3875-5374.