Exemplo de mulher

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Exemplo de mulher

Em março é comemorado o Dia da Mulher. Mas durante o ano inteiro elas provam que ser mulher não é fácil, e com perseverança, elas vencem cada vez mais obstáculos. Se hoje elas ainda lutam para ter seu espaço, imagine há 50 anos. Pois nossa entrevistada é um exemplo de vida. Dra. Therezinha Penteado C. A. Oliveira é advogada, viúva, mãe de dois filhos e já possui cinco netos. Mas não é sua vida em família que impressiona. Ela ajudou a fundar muitas associações pela Lapa, como a Associação dos Advogados da Lapa e o Rotary Club da Lapa, onde participou ativamente, muitas vezes como a única mulher entre tantos homens. Com o passar dos anos, sua rede de amigos só aumentou e até hoje está presente em muitos eventos. Em junho, será a primeira mulher a assumir a presidência do Rotary Club da Lapa.

Por que a senhora escolheu o Direito?
Era minha vocação. Alias, eu fui para o Makenzie fazer científico porque minha ideia era ser engenheira química. Depois, com as matérias do científico, eu vi que eu não tinha aptidão alguma por engenharia. Aí eu optei por Direito. E graças a Deus me realizei. Nunca havia trabalhado na minha vida. Casei no primeiro ano de faculdade. Meus pais eram dentistas. Quando eu disse que iria casar, minha mãe ficou desesperada. Tinha uns 21 anos. E minha mãe me disse, naquela época, que a mulher precisava ser independente, para o marido valorizar, a pessoa se sentir realizada, para eu não deixar essa faculdade. Aí prometi e ela disse que continuaria pagando meus estudos, porque eu estudava na PUC. Me formei e aí que comecei a trabalhar. Era filha única e nunca tive necessidade de trabalhar antes. Aí fui exercer minha profissão. Tive muita sorte porque fui trabalhar com o Rafael Ribeiro da Luz, fui trabalhar com os Mofarrej.
 
Quando veio para a Lapa?
Eu vim para a Lapa em meados   de 1958. Depois, na década de 1970, meu sogro morreu e nós fomos para as Perdizes. Fiquei 11 anos na Rua Monte Alegre. E retornei para a Lapa. Sou sócia fundadora da Associação dos Advogados da Lapa, o Dr. Osvaldo quem reuniu os advogados para formar a associação. Fui presidente, ou diretora social ou relações públicas, sempre estive nessas funções. Depois que criamos a OAB, fui presidente em três mandatos aqui na Lapa. A gente diz assim: “Deus que tem que ajudar. Deus ajuda quem cedo madruga”. Mas no meu caso, Deus não me ajudou logo cedo, mas me ajudou durante a vida.
Mas na época que a senhora começou com esses trabalhos não tinham muitas mulheres nas associações de bairros.
Não. Na maioria eu sempre fui exclusiva. No Rotary, quando foi fundado, e eu sou sócia fundadora, eu fui convidada e era uma das únicas mulheres. E quando alguma mulher queria entrar, as outras mulheres dos meus companheiros já barravam. Se fosse bonita, separada, já barravam. “Só a Terezinha nós deixamos entrar no Rotary”, elas falavam.

E como era ser a única mulher?
O meu marido estava sempre do meu lado. Embora ele fosse muito egoísta, muito ciumento, brigava com todo mundo. Chegava alguém para me beijar, ele já achava ruim. Mas ele sempre estava me apoiando. Ele quis que eu fosse presidente da Associação dos Advogados, e fui a primeira presidente. Da OAB, eu fui a primeira presidente. E ele fazia campanhas para me ajudar a ser eleita. Isso ele não tinha ciúmes. (risos). E eu sempre tive muita sorte porque todos os meus companheiros me vêem como uma irmã. Então têm um carinho muito grande comigo. É muito gratificante. Felizmente eu tenho um grande grupo de amigos. Meu filho um dia me disse: “mamãe, como é bonito chegar à sua idade com tantos amigos”. E realmente eu tenho muitos amigos. Agora serei a primeira presidente do meu Rotary, que já está fundado há 17 anos. Sempre quiseram que eu fosse, mas em decorrência do ciúmes do meu marido não tinha como. Depois que ele faleceu, eles disseram que eu não tinha como fugir.

Como a senhora casou cedo, como conciliava sua vida social com a vida de casada?
Bom, quando eu casei eu não tinha essa vida social que eu tenho hoje. Essa vida social mais intensa foi só em 1967, porque até então eu tinha uma vida mais pacata. Eu estudava de manhã na faculdade. No segundo ano da faculdade eu já tive o meu primeiro filho, mas aí minha sogra me dava uma mão muito boa. Eu morava próximo à faculdade. Minha vida era estudar, cuidar do meu filho depois que eu saia da faculdade. Almoçava na minha sogra porque eu fui interna durante seis anos e eu não aprendi a cozinhar.

Hoje a senhora mantém o mesmo ritmo nas associações?
Só para te dar um exemplo: ontem eu saí daqui 9 horas da manhã e cheguei aqui só às 10 horas da noite. Minha vida é sempre agitada.

Como é sua família?
Minha família, graças a Deus, é uma família muito unida, muito presente. Tenho quatro netos homens e uma menina. Nos reunimos toda semana. Continuamos viajando juntos. Estamos sempre em contato. Eu sou muito galinha, preciso dos meus filhos embaixo da minha asa. Toda noite eu preciso saber de todo mundo antes de deitar. Ao acordar, eu já ligo para todo mundo para saber como estão. Eles não me deixam sozinha. No final de semana eu não paro em casa, sempre vem alguém me buscar. Às vezes falam que a pessoa planta mas não colhe. Graças a Deus, eu plantei, semeei, e estou colhendo.

Como a senhora vê hoje tantas mulheres trabalhando, ocupando seu espaço?
Tenho uma admiração muito grande com o espaço que elas estão ocupando. Eu não sou feminista. Tanto que um dia no Rotary comentaram que as mulheres estão com tudo, estão dominando. E eu disse que não. Nós não estamos dominando, estamos lado a lado com os homens. Porque a figura do homem para mim sempre foi muito importante, desde o meu pai, meu marido, eu vejo pelos meus filhos. As mulheres estão procurando seu espaço cada vez mais. Ainda falta muito, mas estão procurando. Isso é muito bonito. Antes elas eram tidas como dondocas, donas de casa, eram humildes porque não tinha seu dinheiro, eram dependentes, aguentavam muita coisa dos homens. E elas estão cada vez se aprimorando mais, estudando mais, lendo mais, procurando notícias. As mulheres estão ocupando o espaço que há muito já deveriam ter feito isso. Ocupam cargos de chefias, altos cargos.

E agora temos até uma presidente mulher.
Ainda estou aguardando os acontecimentos porque ela está iniciando. Mas eu vejo que ela está com muita garra, muita perseverança, muita vontade. É admirável uma mulher ter chegado ao patamar que ela chegou. Quando que poderiamos ter imaginado termos logo uma mulher ocupando a presidência. Vejo isso para nós mulheres como um exemplo de que nada é impossível.
Mesmo não tendo nascido na Lapa, a senhora mostra ter um carinho muito grande pelo bairro.
Eu sou lapeana dos pés ao último fio de cabelo. A Lapa me acolheu, me deu tanta coisa… Chegar nessa idade com tanta coisa ainda na ativa, e as pessoas ainda querendo minha participação… Eu morei em Perdizes, gostei de lá, mas Lapa é Lapa. É um interiorzão, em que todos se conhecem, todos se unem. Não existe um Rotary como o da Lapa. É difícil encontrar. Os outros são muito formais, não existe aquele entrosamento. Aqui no Rotary nós construímos uma família. E a maioria dos rotarianos são conselheiros da Associação Comercial, a maioria integra os Consabs, as sociedades de bairro, a ACM. Nós temos entrosamento com a comunidade toda. As nossas festas são um congraçamento de toda a comunidade. Isso é muito importante. E você não vê outro bairro com essa garra, essa união.

Neste mês da mulher, qual seu recado para as mulheres?
Que elas procurem ser independentes, que elas tenham perseverança, fé e esperança e que consigam vencer. Mas não deixem a família de lado, isso é muito importante. A família e os amigos constituem um núcleo que quando você precisa, eles te ajudam. Nós precisamos disso, além da nossa independência, da nossa batalha diária – porque não é fácil ser mulher. Você tem as atividades fora, mas tem a casa, marido, filhos, você não pode abandonar – a família é muito importante. E dá para conciliar as coisas, com boa vontade dá. Não é fácil. Eu tive muita sorte, mas a batalha da mulher não é fácil.

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