Amor pelo social

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Elaine Cristina da Silva, coordenadora dos projetos comunitários do CDC da ACM Lapa

Com mais de 20 anos de experiência em educação e trabalho social, a coordenadora do CDC da ACM Lapa afirma que seu maior desafio hoje é entender a dinâmica das famílias das crianças atendidas.

A história de Elaine Cristina da Silva, coordenadora dos projetos comunitários do Centro de Desenvolvimento Comunitário (CDC) da Associação Cristã de Moços (ACM) da Lapa há exatos 24 anos, não poderia ser mais recheada de histórias e emoções. Ela conta que começou a trabalhar muito cedo e, ao iniciar no mercado de trabalho, não contou com nenhum tipo de apoio, o que para ela foi mais um impulsionador do que propriamente um fardo. “Eu gosto de trabalhar com os adolescentes porque vejo neles o que poderia ter acontecido na minha infância e não aconteceu. Vim do interior do Estado e comecei a trabalhar com 11 anos de idade. Sofri por não ter orientação alguma e hoje eu sei a importância dessa base que damos para os jovens atendidos aqui, e que estão conosco há algum tempo”, diz. 

Ela revela que, ao entrar na ACM, pensou em ficar pouco tempo. “Comecei aqui como educadora e queria trabalhar em sala de aula. Quando conheci o projeto do CDC, vi que era muito diferente do que eu imaginava e pensei que não ficaria nem dois meses (risos). O que aconteceu é que comecei a me apaixonar cada vez mais por esse trabalho, que, na verdade, não é fácil, e então fui ficando, fazendo novos cursos, como Pedagogia e pós-graduação em terceiro setor, e aqui ainda estou”, conta Elaine.Seu trabalho como coordenadora consiste em acolher crianças de 6 a 14 anos que necessitam de acompanhamento, complemento escolar e proteção. Muitas são encaminhadas pelo juizado e outras chegam trazidas pelas próprias famílias, cujos pais trabalham período integral. Atualmente, o CDC da ACM Lapa atende 120 crianças, 60 por período, e conta com parceria da Prefeitura de São Paulo. A maioria das crianças é estudante de escolas municipais e estaduais da região e permanece por quatro horas de segunda a sexta-feira na Associação, como complemento de seu ensino regular. Após completar 15 anos, os jovens podem participar das atividades regulares na ACM Lapa. “Nós conseguimos montar um trabalho muito interessante, e estendemos a atuação para além dos 14 anos, que é a idade em que o projeto termina, mas também quando os adolescentes mais precisam de apoio. Por isso, além de abrirmos as atividades físicas da ACM a esses jovens, fizemos também parcerias com o Camp Oeste e com o Instituto Rogacionista, para que esses adolescentes sejam encaminhados para um curso profissionalizante e possam aprender um pouco mais sobre como é o mundo lá fora, como eles podem buscar seu primeiro emprego, quais os cursos que podem fazer, etc.”

Para Elaine, um dia nunca é igual ao outro. Não existe rotina em sua profissão. “Eu digo que aqui temos de domar um leão por dia e também nos adaptar às mudanças da sociedade, fazendo novos cursos, estudando… mas o meu maior desafio, entretanto, não são as crianças que vêm para cá, ou seu problema de comportamento… meu maior desafio é entender a dinâmica das famílias dessas crianças. Hoje, as dificuldades são outras: vejo muitas famílias desestruturadas, mães que competem com suas filhas, pais que não protegem suas crianças e que não lhes dão as bases, a educação adequada, porque também, muitas vezes, não as têm. Isso para mim é o mais difícil”, declara.

A tecnologia é outro fator que modificou as relações entre pais, educadores e crianças. “As meninas não gostam mais de brincar de boneca como antigamente e os meninos não gostam mais de brincar com carrinhos, se estes não fizerem movimento ou algo exuberante. O celular e outros aparelhos eletrônicos mudaram as relações e devem ser usados para o bem e não para distanciar ainda mais as pessoas. O que acontece, e que acho bem errado, é que a escola atual quer separar a tecnologia dos alunos, mas não consegue porque os aparelhos fazem parte da realidade que eles estão vivendo. Se nós mesmos já não conseguimos viver mais sem celular ou computador, imagine então uma criança”, questiona Elaine.

O CDC, já há algum tempo, trabalha o lado lúdico das crianças, com temas que objetivam resgatar a cultura e a cidadania de modo geral. Neste semestre, Elaine está desenvolvendo o projeto “Gentileza”, que procura ensinar aos alunos a olhar para outras pessoas, assim como cuidar melhor do meio ambiente. “Esse projeto surgiu quando eu presenciei pais jogando potinhos de iogurte que tinham acabado de tomar no gramado da ACM. Fiquei horrorizada com a atitude e pensei que, se os pais não sabem que isso é errado, eles teriam de ser ensinados através de seus filhos. E isso só reforça a minha ideia de que a maioria dos problemas das crianças vem de seus pais, por isso que o foco da educação tem de ser completamente diferente. As escolas e os atuais educadores têm mais é que correr atrás de conhecimento e trabalhar a família além da sala de aula, assim como nós tentamos fazer aqui”, finaliza.

Além de todo o trabalho que tem com crianças e adolescentes, Elaine ainda trabalha com projetos educacionais e esportivos que abrangem pessoas acima de 60 anos.

CDC ACM Lapa
Rua Brigadeiro Gavião Peixoto, 1.100, Lapa 
Telefone 3839-5800
www.acmsaopaulo.org

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