Em prol do estágio

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Administrador e consultor de empresas, especializado em inclusão e inserção de jovens no mercado de trabalho, Rossano Lippi fala sobre sua vida e sobre a importância do estágio para estudantes e empresas. Acompanhe.
Dono de um currículo admirável, o lapeano Rossano Lippi dedicou praticamente 38 dos seus 55 anos à gestão de empresas e Organizações Não Governamentais (ONGs) focadas no primeiro emprego e na colocação profissional de estagiários em grandes, médias e pequenas empresas brasileiras. Hoje, ele segue seu caminho, distribuindo conhecimento através de palestras e de consultorias.

Como você começou a se interessar pela inserção dos jovens no mercado de trabalho?

Comecei a me interessar quando entrei para trabalhar como estagiário no CIEE (Centro de Integração Empresa Escola), na década de 1970. Na época, eu tinha 17 anos e a ONG era ainda bem pequena. Eu cresci juntamente com a organização, galguei postos de comando ainda muito jovem, ajudando a implantar departamentos, métodos e sistemas de trabalho e aprendendo muito com os primeiros gestores de lá. Eu digo que fui “picado” por esse trabalho com estudantes em busca de uma oportunidade e isso virou objetivo de vida e uma ideologia para mim.

Como foi essa sua primeira experiência profissional?
Na verdade, eu já tinha trabalhado anteriormente como office boy e como auxiliar da área contábil, mas de modo informal. Eu considero o CIEE o meu início real na carreira profissional. Toda minha base e minha fonte de inspiração vieram de lá, onde aprendi a dar valor à capacitação do jovem e à inserção no mercado de trabalho. Sei que, na vida pessoal, pulei algumas etapas. Não tive a oportunidade de ter sido irresponsável, por exemplo. Mas, para compensar, em termos profissionais foi uma experiência fantástica.

Quando você deixou o CIEE e onde mais trabalhou?
Trabalhei nessa ONG de 1974 a 1988, quando o CIEE passou a administrar a carreira de 90 mil jovens (começamos com aproximadamente dois mil jovens). Depois, ajudei a fundar e dirigir outras organizações similares, que também tinham como meta a inserção dos jovens estudantes em empresas, como o ISBET (Instituto Brasileiro Pró-Educação, Trabalho e Desenvolvimento) e o Instituto Via de Acesso, entre outras. Isso aconteceu entre os anos de 1999 e 2005. Nesse meio tempo fiz uma incursão em outras áreas. Fui dono de restaurante, diretor de indústria, mas nunca me distanciei da minha vocação principal.

Quais suas principais funções hoje?
Hoje sou conselheiro de diversas organizações, consultor da Gelre, na qual ajudei a implantar a central de estágios, tenho uma empresa de marketing de relacionamento e continuo palestrando, na maioria das vezes para jovens estudantes, a convite de universidades e autarquias. Nessas palestras, abordo a atual legislação de estágios, o mercado de trabalho, a importância do gerenciamento de carreira, o coaching, entre outros temas.Conte um pouco sobre sua incursão na política em 2012.Eu fui candidato a vereador pelo PTN, com a bandeira única de inserção e capacitação de jovens. Na verdade, eu já havia sido convidado a participar de eleições anteriormente por alguns outros partidos, por conta de minha experiência e trabalho, mas relutei muito antes de aceitar. Eu só aceitei porque os dirigentes do PTN concordaram em englobar meu projeto de inserção como bandeira do partido e também em me deixar livre para não defender ideias contrárias ao meu pensamento. Na eleição, tive uma votação pequena, mas com uma repercussão maravilhosa de meu trabalho.

Com sua experiência, qual a importância do estágio para o estudante?
O estágio é fundamental para todos os jovens. É a porta de entrada dele para o mercado de trabalho, uma grande oportunidade, extremamente enriquecedora em termos de conhecimento, de vivenciar o mundo empresarial, de acertar, errar, e de, principalmente, aprender.

E para as empresas, qual a importância de abrir suas portas aos jovens?
As empresas só têm a ganhar com isso. A começar pelo aspecto financeiro, que não deveria, mas é (e tem de continuar sendo), pois ao obter vantagens em relação a custos, as organizações têm condições de oferecer mais vagas e abrir mais portas. Outro ponto é que as empresas recebem um jovem disposto, normalmente interessado, que pode ajudá-las a renovar ideias e modelos desgastados de trabalho. Além disso, elas também exercitam sua responsabilidade social e conseguem um banco novo de recursos humanos.

A aceitação de um trabalhador que estagiou é maior?
Sim, sem sombra de dúvida. É um diferencial. Outro dado importante é que, na média, pelo menos 30% dos jovens que fazem estágio são efetivados.

Qual seu conselho para o jovem que está à procura de um estágio?
Meu conselho para ele, que está em busca de estágio, assim como para todos os trabalhadores que procuram emprego é: crie diferenciais! O estudo de idiomas, a informática em dia, uma frase de impacto, um detalhe no currículo, um trabalho voluntário, por exemplo, podem contar mais pontos do que a empatia, a vantagem de trabalhar perto, ou outro detalhe considerado, que por vezes é irrelevante.

O que considera mais difícil para o jovem que começa a trabalhar ou estagiar?
Muitos jovens precisam de orientação, pois em geral são contestadores. Não adianta repreendê-los por usar piercing ou tatuagem, ou pelo linguajar. O que eu faço, principalmente em minhas palestras, é perguntar qual é o seu objetivo profissional e de vida. Se for o surfe, ótimo, ele pode continuar com seu estilo. Mas, ao contrário, se for o mundo corporativo, ele terá de mudar e se adaptar a esse mundo, usando roupas adequadas, fazendo um bom currículo, assumindo responsabilidades. Tudo começa com um bom planejamento de vida e carreira e, assim que o jovem entende isso, ele acata e segue em frente.

Qual o maior desafio para você em seu trabalho hoje?
Eu acredito que seja a nova lei de estágios. Ela trouxe algumas vantagens, como a remuneração do estagiário em feriados, por exemplo, mas também trouxe retrocessos, como o número de horas trabalhadas, que não podem ultrapassar seis horas, e também algumas dúvidas e pontos obscuros: a lei de estágio que rege a contratação de alunos do ensino médio continua duvidosa, pois, ao compatibilizar o ensino com a prática, dita que esses estudantes podem fazer estágios, mas não dizem em qual setor da empresa. A alteração dessa lei é um grande desafio.

Você é lapeano de nascença. O que mais gosta no bairro?
Eu nasci, cresci, joguei bola, estudei, casei, criei meus filhos e continuo morando na Lapa. Posso dizer que gosto de tudo por aqui. Não moraria em nenhum outro lugar. Um dos meus locais preferidos para comer, por exemplo, é o tradicional restaurante Famiglia Lucco, entre tantos outros pontos interessantes do bairro.

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