O diretor é funcionário de carreira desde 1972. Formado em engenharia eletrônica, é também técnico eletrônico, administrador de empresas e mestre em controle de processos. Hoje, aos 64 anos, dirige uma das instituições de ensino técnico de maior excelência do país.
Há quanto tempo esse prédio está aqui?
A instituição SENAI foi criada por decreto-lei no Brás há 71 anos, para daí se expandir para outros locais, incluindo a escola da Lapa, onde havia demanda efetiva industrial. A Mariano Ferraz, que era a escola da Lapa, foi aberta em 1943 na rua do Anastácio, hoje rua Nossa Senhora da Lapa. Já o prédio da Leopoldina começou a ser construído por volta de 1977 e ficou concluído em 1980.
Quantos cursos eram oferecidos na época e quantos são hoje?
Em 1943 eram cinco cursos, hoje oferecemos diferentes cursos em seis grandes áreas, mais gestão, para formação inicial e continuada, aprendizagem industrial, cursos técnicos, curso superior, e pós-graduação, entre os quais: automação, eletroeletrônica, odontomédico-hospitalar (único da América Latina em nível técnico), mecânica de usinagem, mecânica automobilística, etc.
Qual o curso mais procurado?
Pelo apelo emocional, é o de mecânico automobilístico, que chega a 12 candidatos por vaga no exame de seleção (nos outros temos de quatro a cinco por vaga). Como aqui temos aula prática em carros de última geração da GM, BMW, Suzuki, entre outras marcas, isso atrai muitos alunos.
Os meninos procuram mais os cursos?
A maioria sim, principalmente porque nessa escola ensinamos o “chão de fábrica”, entretanto, hoje já temos aqui 22% de meninas, até em calderaria e mecânica. O interessante é que a indústria prefere mulheres para algumas funções, onde é exigido um cuidado maior com os detalhes.
Quantos alunos esta escola tem?
Como temos aproximadamente 140 programas diferentes de formação profissional, essa escola gira três períodos: matutino, das 7h30 às 11h30; tarde, das 13 às 17h, e noite, das 18 às 23h, comportando um total de 3.700 alunos por dia, de segunda a sexta. Aos sábados temos aulas para formação inicial e continuada, das 8 às 17h, com um total de 1.450 alunos.
Qual o perfil do seu aluno?
O entrante é da classe D, principalmente, mas também da C e da E. Com todo o apoio que damos para esse aluno, com nossa filosofia de formar o cidadão completo, conseguimos sua rápida colocação no mercado de trabalho (70% já saem com admissão garantida). A totalidade de nossos alunos dos cursos superiores está empregada, ou seja, não temos alunos para fornecer para nenhuma indústria nesse estágio por causa da excelência de ensino, onde a pessoa aprende fazendo e faz por conhecimento.
Como ingressar no Senai?
Fazemos uma prova de seleção semestral para vagas em diferentes áreas e cursos. O candidato faz a inscrição via site, depois de definir sua opção. Nossos planos de cursos são nacionais, é uma grande estrutura do Senai. Se o candidato mudar de Estado, pode continuar o curso em outro local. A próxima seleção será na metade de 2014.
Vocês fornecem mão de obra para quais indústrias ou empresas?
Para várias. Mantemos cursos duais com a Sabesp e os Correios na área de gestão (assistente e auxiliar administrativo). Essas autarquias fazem o processo de seleção e nós formamos os alunos. Há também o dual com a Voit para técnico em mecânica. Neste, os 24 formados são absorvidos pela empresa. Também oferecemos formação continuada, além da inicial, que ensina jovens de 14 a 16 anos, para que o trabalhador se atualize e continue em seu emprego.
Fale um pouco sobre o curso de formação continuada.
Vou dar um exemplo: se o trabalhador está empregado numa empresa de usinagem e ela muda a tecnologia, trocando o torno manual pelo automático, ao invés de mandar o profissional embora, ela o manda para nós para fazer uma especialização e continuar com seu emprego garantido. Então, além do trabalho educativo e profissionalizante, temos um foco social muito forte, onde objetivamos manter o emprego das pessoas que são provedoras de suas famílias.
Qual o maior desafio do Senai Leopoldina hoje?
O grande desafio do Senai não mudou: formar o cidadão. Obviamente, o Senai forma tecnicamente esse aluno, ele o habilita profissionalmente, mas também dá vivência, postura, ensina o que é viver numa comunidade que depende de seu serviço e que vai garantir a ele seu bem-estar numa sinergia com o sistema produtivo e com fidelidade à empresa que ele trabalha.
O afastamento de boa parte das empresas da Vila Leopoldina é um desafio?
A Leopoldina ainda tem empresas produtoras, não como há 15 anos, mas ainda é um centro automotivo muito forte com concessionárias. Eu diria, entretanto, que hoje um dos grandes desafios realmente é trazer o pessoal num parque onde há menos empresas a cada dia, e é por isso que a escola transcende a região da Lapa para a qual ela foi criada, comportando alunos de Caieiras, Francisco Morato, Barueri, Jandira e da Zona Leste também. Nossa clientela chega a vir de 50 a 60 quilômetros daqui, tendo a facilidade da linha férrea que sai de Barueri e chega em Suzano.
Como você define a importância do Senai da Leopoldina para a comunidade?
Nós temos no bairro várias organizações importantes, mas o Senai chegou primeiro, criando raízes na Zona Oeste. A comunidade, que é uma das mais politizadas de São Paulo, tem muita afinidade e respeito para com essa escola e a escola para com a comunidade. E com esse respeito mútuo temos crescido e formado cidadãos e profissionais qualificados. Posso definir o Senai Leopoldina como uma ilha de tecnologia.
Em sua opinião, quais foram as modificações sentidas nesses 70 anos?
A sociedade mudou seu perfil e nós tivemos de acompanhar. O aluno de antigamente é muito diferente do de hoje. Tivemos de acompanhar a introdução da tecnologia (celular, iPod, iPad etc.), modificando as estratégias adotadas para dar aula. Tivemos de nos moldar para continuar a cativar o aluno e mostrar a força que temos para a indústria. Hoje, o Senai não é apenas um fornecedor de mão de obra, mas sim um solucionador de problemas das empresas. Aqui, além de sermos uma referência educacional, desenvolvemos projetos, fazemos o layout, os protótipos, prospectamos produtos, realizamos testes e introduzimos novidades, buscando a tecnologia onde ela estiver.