Cleusa Zerbini, liderança que faz acontecer

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Dedicada às causas de moradia popular e educação, Cleusa Zerbini, preside a Associação dos Trabalhadores Sem Terra de São Paulo que além de moradia também facilita o ingresso dos associados em universidades.

Paulista de Espírito Santo do Pinhal, Cleusa diz que sempre participou de grupos sociais que buscavam uma moradia. Católica e praticante, ela iniciou seu trabalho social com população de favelas e moradores de rua. Atuou junto à Pastoral da Criança e de Moradia. Comenta “Ter uma casa própria ou um canto para morar e chamar de seu é um dos bens mais preciosos de uma família”, em entrevista que aconteceu na sede da ATST na Lapa de Baixo.

Com simplicidade e direta, Cleusa lembra que teve uma infância pobre mas com “comida na mesa que a família colhia no sítio dos pais. A família veio para São Paulo para que pudéssemos estudar. Aqui chegando tivemos muitas dificuldades. Não foi fácil”, conta ela.

Ela conta que participou de ocupação de áreas urbanas na cidade, principalmente na zona Leste. “Chegou uma hora que eu buscava outra solução para o problema de moradia além das invasões. As lideranças diziam que invadir era o jeito de obrigar e pressionar os governantes a resolver o problema de moradia. Lembro que muita gente que ocupava gastava dinheiro com tapumes e mudança e muitos perderam o pouco que tinham quando a área era desocupada pela polícia ou pela prefeitura”, diz.

Lembra que “Uma briga entre o pessoal de uma ocupação me deixou muito nervosa e junto com umas colegas resolvemos sair para espairecer a cabeça”. Quando passaram em frente a uma área à venda viu que poderia ser um lugar onde podeeria abrigar algumas famílias. Conversamos com a dona e o valor que ela pediu vimos que era possível comprar!”. Lembra que naquela época, 1980, havia ainda na periferia de São Paulo, terrenos à venda em quantidade razoável. Aquele primeiro terreno foi comprado e pago e foi o início de um novo jeito de conseguir habitação para uma população de baixa renda, “Tudo dentro da lei!”, faz questão de frizar!

Cleusa lembra que por conta de sua liderança e luta por moradia foi processada pelo Ministério Público. “Por formação de quadrilha, estelionato, invasão de terras e outros processos”, lembra com ironia. “O juiz no final acabou arquivando os processos e passamos a nos organizar para ter nossa moradia de uma forma legal!”.

Em 1986 Cleusa e o marido, Marcos Zerbini, atual deputado estadual pelo PSDB, idealizaram e fundaram a Associação de Luta por Moradia e posteriormente ATST. “Nossa proposta era conseguir moradia sem invadir, de forma organizada e comprando as áreas com a participação dos interessados. Tudo é discutido e decidido em assembleia pelos moradores, incluindo o nome”, informa. A associação é considerada a maior em termos de organização popular e também é reconhecida no mundo inteiro.

Por conta de seu trabalho, Cleusa esteve na Europa para falar sobre a ATST. Um dos mais significativos é o Meeting de Rimini, na Itália. Também visitou países da América Latina e muitas cidades brasileiras.

Além de moradia, a ATST também atua na área da educação desde 2004. “Foi uma forma de ajudar aos jovens a ingressar em uma faculdade quando não conseguiam vagas nas públicas”. Fizeram parcerias com faculdades particulares e a Associação Educar para a Vida já facilitou o ingresso de mais de 80 mil estudantes.

As reuniões na ATST são organizadas e contam com boa participação dos associados. Para os novatos, há uma reunião mais longa onde tudo é explicado sobre o funcionamento da associação. As datas e horários são disponibilizados no Facebook da entidade.

O trabalho da ATST já se expandiu para outras regiões do Brasil. Cidades como Novo Horizonte, Alto do Taquaral e Cana do Reino seguem o modelo. Outros 16 municípios têm parceria com a ATST.

Cleusa foi citada em livros pelo trabalho com moradia. Ela teve a oportunidade de ter audiência com três papas: João Paulo II, Bento XVI e Francisco, “que considero o que tem mais ligação com as populações carentes de todo o mundo!”. (GA)

Associação dos Trabalhadores Sem Terra de São Paulo (ATST), Rua Felix Guilhem, 227, Lapa de Baixo, www.facebook.com/atstsp

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