Italiano de nascimento, Gaetano Brancati Luigi faz história na Lapa, idealizando o Marco da Paz e, recentemente, sendo indicado pela terceira vez ao Prêmio Nobel. Acompanhe.
No aniversário de 20 anos do Guia Daqui Lapa Leopoldina, decidimos por unanimidade entrevistar Gaetano Brancati Luigi, tanto por sua emocionante história de vida, quanto pelo seu grande amor ao bairro da Lapa, local onde decidiu fixar residência aos 32 anos de idade. “Sai da Itália aos 12 anos, junto com minha mãe, irmãos e toda a família de minha tia. Nós íamos para a Argentina, onde o meu pai nos esperava, mas quando eu passei pelo Porto de Santos, eu senti no fundo do meu coração que o Brasil era a terra que eu deveria ficar… foi um sentimento forte e sem explicação na época. Passei 20 anos na Argentina, aprendi o ofício de alfaiate com meu pai, e decidi me fixar em São Paulo, mais propriamente na Lapa, onde fui recebido de braços abertos”, conta à reportagem.
Gaetano diz que a experiência que teve com alfaiataria na Argentina, o fez abrir um ateliê em 1970, na rua 12 de Outubro, 235, 1º andar, bem em frente ao local onde ficava a Mesbla. Com lojas de alto nível na década de 1970, o imigrante ajudou a expandir o comércio de qualidade no bairro, que era muito diferente do que é hoje. “Abri a Luigi Modas e a Bran Esportes e cheguei a atender muitos jogadores da seleção brasileira de futebol, como o Djalma Santos, entre outros.”
Uma curiosidade sobre Gaetano é que, naquela época, ele se importou tanto com o fato da Lapa não ter uma data de aniversário correta que, com a ajuda de Ermínio Rossi, superintendente da Distrital Lapa e proprietário da loja A Seringueira, uniu historiadores, comerciantes, entidades e moradores locais e empreendeu uma pesquisa, que acabou fixando a data do aniversário do bairro em 12 de outubro. “O José Carlos (citando José Carlos de Barros Lima, proprietário do Colégio Santo Ivo), depois de algum tempo, através de mais pesquisas, acabou descobrindo a idade correta da Lapa (achávamos que era aproximadamente 250 anos) e acrescentou alguns anos a mais a ela. O que me orgulha é que, através da minha iniciativa, todos se uniram por um bem comum. Cheguei como imigrante e, há 48 anos, moro e me dedico ao bairro. Tenho orgulho de servir e de ter servido aos lapeanos”, declara.
Emocionado, Gaetano conta sua trajetória como comerciante e, depois, como presidente do Clube dos Lojistas da Lapa, cargo que ocupou por cinco mandatos, dizendo que sente uma imensa gratidão por ter sido tão bem acolhido pela comunidade local. Devido às atividades que ele desempenhou com grande entusiasmo, logo seria convidado a atuar na Distrital Lapa e na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), no centro da cidade, local que trabalhou e até hoje trabalha como assessor especial da Presidência. “Veja como é o destino… eu cresci em plena 2ª Guerra Mundial e, aos oito anos de idade, ao ouvir tocar os sinos que anunciavam o fim dessa guerra, eu prometi a mim mesmo que um dia eu faria algo pela paz. Esse sonho de menino nunca se apagou, então, em 1999, quando já trabalhava na ACSP, que fica muito próxima ao Pátio do Colégio, notei que o sino da torre da igreja não tocava… curioso, fui perguntar ao padre, na época o padre Fernandes, e descobri que o sino havia sido roubado havia 15 anos! Falei com o presidente da ACSP, Alencar Burti, que hoje está em seu sexto mandato, e com o Sérgio Marengo, proprietário da Fundição Sinos Crespi… que abraçaram minha proposta e, no ano seguinte (em 2000), um novo sino, comprado da Sinos Crespi a um preço bem acessível e doado pela ACSP, foi colocado e inaugurado novamente.”
Assim que o sino começou a funcionar e Gaetano viu a luz do sol bater nele, fazendo um jogo de luz e sombra, uma nova vontade começou a brotar em seu íntimo: a de construir uma réplica da torre do sino em forma de monumento para anunciar a paz toda a vez que ele é tocado. O sonho do menino italiano, que viveu o final da guerra em sua terra natal Orsomarso, na província de Cosenza, finalmente começava a ser delineado.
Com ajuda de engenheiros e artistas lapeanos, uma réplica foi feita, primeiramente em miniatura e, logo em seguida, transformada em monumento. O primeiro Marco da Paz foi implantado em 2002 no Pátio do Colégio (Pateo do Collegio). A Lapa foi o segundo bairro a recebê-lo. Nos anos que se seguiram, muitas localidades pelo Brasil e também pelo exterior receberam a instalação. “Estamos atualmente em sete países, entre os quais, China, Argentina, México, Uruguai, Itália (na cidade de Assis e na cidade natal de Gaetano, Orsomarso)… ao todo são 29 monumentos instalados em diferentes cidades do mundo, com apoio da ACSP, que foi e é muito importante pelo nascimento e pela disseminação da cultura de paz, através das réplicas. Muitos são os nomes importantes, que apoiam o Marco da Paz, entre os quais, João Bico, que por seus contatos implantou o único monumento ocidental na China e que, por toda a sua ajuda, foi nomeado de embaixador do Marco da Paz no mundo”, conta.
Atualmente com 80 anos de idade, Gaetano é muito ativo. Ele trabalha diariamente na ACSP, dá palestras e vive correndo o mundo com sua missão de disseminar a paz entre os povos e de inaugurar mais e mais monumentos. Em 2011, foi recebido pelo papa Bento 16, que lhe disse: “Segue o caminho que Deus te deu”! Mais recentemente, ele participou do XX Congresso APROFEM (Sindicato dos Professores e Funcionários Municipais), que foi realizado entre os dias 22 e 23 de agosto, no Espaço das Américas, localizado na Barra Funda, juntamente com autoridades, para falar sobre a importância da paz para o mundo; esteve presente na solenidade de inauguração do Marco da Paz da cidade de Sorocaba, e está sempre administrando e idealizando outras atividades. Ele conta que “o presidente da ACSP, Alencar Burti, há pouco tempo, propôs à Associação Comercial de Chapecó, e a prefeitura de lá aceitou, fixarmos um Marco da Paz naquela cidade em homenagem aos jogadores da Chapecoense, mortos na queda do avião em novembro de 2016.”
Pela importância do Marco da Paz, único monumento no gênero, Gaetano, pela terceira vez é indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2017. Sua primeira indicação aconteceu em 2015, quando o pesquisador Heliodoro Pereira de Sá reuniu todos os documentos necessários para a indicação, que foi referendada pelo jurista Prof. Dr. Dircêo Torrecillas Ramos. (ND)