Deve ter acontecido|quatro meses atrás

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1956

Foto:

Dr. Cesar Augustus e Dr. Cesar Augusto

Uma paciente marcou um horário e veio acompanhada do marido. A aparência do casal e a idade, ambos beirando 90 anos, me chamou a atenção. Pessoas simples, vestimentas humildes, braços dados exalando o mais puro carinho que já vi.
Os recebi com alegria e então o marido narrou que a esposa tinha uma prótese total que machucava e queriam que eu fizesse uma nova, e de imediato perguntou se eu poderia parcelar o pagamento, denunciando prováveis dificuldades financeiras.
Examinando a senhora para minha surpresa a prótese estava nova, necessitando apenas de uma correção, pois estando acima da altura ideal cortava a sua boca causando-lhe um sofrimento atroz, que impedia sua fala e sorriso, além da mastigação.
– Posso dar uma mexidinha na prótese? Já que a ideia inicial seria fazer uma nova.
Com todo carinho, reduzi todo o excesso, lixei a prótese, apliquei um polimento e a devolvi para a velha senhora, que a colocou na boca. Em seguida perguntei:
– Como é que a senhora se sente agora com esta correção?
A velha senhora começou a movimentar os lábios de um lado para o outro, olhou para o marido ensaiando um pequenino sorriso que foi paulatinamente aumentando e aumentando, até, que, sorrindo, falou:
– Olha, amor, eu consigo rir!
Meus olhos lacrimejaram e tentei disfarçar, mas estava difícil de conter.
O marido ainda me perguntou se eu não iria tirar a “medida” da dentadura nova, e feliz respondi:
– Ela não precisa de uma nova, meu senhor. O problema já está resolvido e a peça plenamente recuperada.
– Mas, quanto lhe devo? Disse ele.
– Sua esposa já me pagou, respondi.
– Mas, como, doutor?
– Com aquele sorriso que lhe deu.
Há coisas que não tem preço e que marcam minha história de Cirurgião Dentista.
Foram embora felizes, aliás, mais felizes do que quando chegaram… Abraçadinhos.

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