Quem passa pela Rua Guaicurus pode não saber, mas atrás do grande muro preto no número 330 está uma das casas de eventos mais famosas de São Paulo. A The Week abriu há seis anos e surgiu a partir de uma festa promovida por André Almada, um dos sócios que está à frente do negócio. Com um público diversificado homo e heterossexual, ela deixou de ter apenas algumas baladas para também abrigar grandes eventos. André nos recebeu para contar sobre a casa, a vida norturna, e também sobre o projeto Bike Circuit, que aconteceu dia 30 de maio (para mais informações, acesse www.bikecircuit.com).
Como a The Week nasceu?
Ela surgiu a partir de uma festa que eu promovia que se chama Toy – e que eu ainda promovo. Eu comecei na Turiaçu, no antigo Piranha. E aí começou a crescer. A primeira foi bacana e depois da sexta edição, a festa já estava bombando.
Isso foi em que ano?
Foi em 2004. Comecei em abril de 2004 e em setembro de 2004 eu abri a The Week. Foram nesses seis meses que, através dessa festa, surgiu a The Week. E esse espaço pertencia a um amigo meu e eu soube que ele estava querendo passar para frente. Viemos eu e meu sócio, pegamos o espaço e abrimos o clube.
Como foi o começo?
Quando nós entramos, era simplesmente um galpão branco. Aqui era um espaço de eventos chamado Espaço Central. Nós fizemos as primeiras adequações no clube, abrimos, e ao longo desses seis anos fomos fazendo as melhorias e a casa foi crescendo. Eu acho que o grande diferencial é que a gente está sempre investindo. Era um galpão branco que começou bem precariamente. Hoje ela tem um acabamento, uma infraestrutura muito maior do que quando a gente abriu.
Mas sempre teve esse tamanho?
Sim. Só que, por exemplo, tínhamos um grande gramado verde e agora fizemos uma piscina, um deck, tem paisagismo. Não tinha duas pistas. À medida que a demanda vinha, a gente foi vendo a necessidade de fazer melhorias e ampliar o espaço.
Qual o público da casa?
Ela começou voltada ao público gay. Só que hoje ela se tornou um espaço de eventos que, por acaso, tem uma noite dedicada ao público GLS. Mais do que uma boate, ela é uma casa de eventos.
Então você tem muitos eventos fechados.
Tenho. Tanto que existe um site corporativo só para eventos que chama TW Eventos (www.tweventos.com.br). Temos um departamento só para cuidar disso. A demanda é muito grande. A The Week abria uma vez por semana para o público gay e esse público também foi se modificando.
Se modificando como?
Ele foi se mesclando. Ele não é só gay. Claro que a maior parte do público ainda é gay masculino, só que hoje você tem uma presença de mulheres muito grande e de heteros também muito grande. Nesses seis anos, a The Week continuou com seu público e agregou novos.
Desde o começo o público lotava as festas?
A festa já começou grande, por isso a necessidade de um espaço que pudesse comportar esse número de pessoas. E obviamente que o público foi crescendo cada vez mais porque foram se agregando novos públicos na casa.
Quando você estava procurando um espaço para a The Week, você já tinha alguma relação com a Lapa?
Não, eu não tinha nenhuma relação. Mas eu comprei um apartamento na Lapa depois que abri aqui. Começou na Turiaçu e como a gente já estava aqui do lado e por acaso já tinha esse espaço, viemos para cá. E eu acho que a The Week foi uma das primeiras, quando o zoneamento da Lapa era estritamente industrial. Ela contribuiu de uma certa forma para chamar a atenção para outros donos de casas noturnas virem para essa região, que não era reduto ainda de casas noturnas e que hoje é. Tem várias casas boas na região da Lapa e da Barra Funda.
E hoje vocês fazem ações com o bairro?
Ainda não, mas temos um projeto com a subprefeitura que envolve a parte de responsabilidade social. Temos a intenção de talvez fazer alguns trabalhos com algumas praças específicas daqui do bairro. Um trabalho seria usar o muro externo da The Week como forma de manifestação artística. E talvez ainda fazer um trabalho junto com as escolas. Por exemplo, no caso de uma praça, a gente leva um grupo de alunos para que eles possam plantar uma árvore, fazer um trabalho de conscientização, de preservar o verde.
Como surgiu o Bike Circuit?
Surgiu porque eu sou uma pessoa que gosto de andar de bike. Quando morava no interior, andava muito de bike. E aqui eu andava pela cidade. Gosto tanto que queria estimular e incentivar meus amigos e pessoas a andarem de bike. E criar nela um estilo de vida mesmo. Porque você vai à Europa e vê que andar de bike é superbacana. É cultural. Você vê executivos andando, indo para o trabalho. Eu achava isso muito legal. E por que não fazer isso em São Paulo?
Seria um problema cultural?
As pessoas, ou elas têm preguiça de andar de bike ou elas têm um pouco de preconceito, porque talvez enxerguem como um transporte de pobre. Ou porque realmente as pessoas não gostam e eu acho que precisa despertar essa vontade e estimular cada vez mais essa história da bike. É legal você sair de casa para ir num café no final de semana e ir de bike, fazer um grupo para andar de bike. Existe uma questão também como uma solução alternativa de transporte. Quando eu resolvi fazer, desempenhei meu papel não só de gostar mas de ajudar esse movimento que existe na cidade no sentido de estimular cada vez mais o uso dos vários fins das bikes, seja como estilo de vida ou como alternativa de transporte.
E como será a festa no final do circuito?
A casa noturna é um mero coadjuvante, pois ela simplesmente serve para juntar essas pessoas que gostam da bike, juntar essas pessoas com um intuito comum. Eu não estou aqui apra segregar ou para fazer tribos. Pelo contrário, eu quero que todos se reúnam em torno de um lazer para uma festa durante o dia. Que aqui seja um ponto de encontro dessas pessoas para que elas possam trocar ideias, possam se encontrar, criar um ciclo de amizades, e cada vez mais propagar essa ideia pela cidade.
Ele esse evento acontecerá quantas vezes por ano?
Depende. Talvez seja mensal ou a cada dois meses. Sempre aos domingos à tarde, que é uma forma de aproveitar o dia e o fim de semana. E estando num lugar que ofereça segurança, infraestrutura, som, bebida.
Voltando a falar da casa, que tipos de atrações você busca para as festas?
Depende. Para o público da The Week, existem DJs residentes e os que participam do circuito. São DJs dos Estados Unidos, Europa, mas que vêm tocar aqui em datas especiais.
Vocês também atraem muitas celebridades e artistas para cá.
É um conjunto de tudo: o lugar, as pessoas que frequentam e a música que agrada todo mundo. É uma sonoridade bem alegre e divertida. É por isso que as pessoas vêm. E pelo relacionamento que a gente tem com todas essas pessoas, que é extremamente importante. Antes de abrir o clube e de trabalhar com eventos, eu trabalhei com o São Paulo Fashion Week por dois anos. Então eu já conhecia essas pessoas. Já vem de um relacionamento pessoal.
Então você já trabalhava com eventos?
Sim. Cheguei na época a abrir uma produtora minha de assessoria de imprensa com eventos. Mas antes disso eu era hoteleiro, trabalhei com hotéis por sete anos. Sou formado em administração hoteleira. Mas aí acabei saindo para me dedicar a essa área e acabei por acaso na noite.
Existem outras The Weeks no Brasil, certo?
Depois que abrimos em São Paulo, houve uma demanda muito grande no Rio de Janeiro. Durante dois anos foi assim, as pessoas pedindo. Fizemos uma pesquisa de mercado no Rio e detectamos que existia essa demanda lá. Buscamos um parceiro local e abrimos. Depois, na sequência, foi aberto em Florianópolis. Todas são casas de eventos com essa estrutura, todas têm uma piscina, todas têm área externa.
Você disse que o público da The Week mudou no decorrer dos anos. Você acha que as pessoas estão se mesclando mais?
Com certeza. Até porque ou na família tem alguém que é gay, ou você tem um amigo que é gay, ou o amigo do seu amigo é gay. De alguma forma você conhece um gay e se relaciona com ele. As pessoas estão mais tolerantes. E é assim que tem que ser. Desde que respeite, tem diversão para todo mundo. E todo mundo se relaciona numa boa. Todo mundo se respeita, cada um no seu espaço. Isso é o mais importante de tudo. É uma casa que não deixa a desejar para nenhuma outra do mundo.