Um eterno apaixonado

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Quem já viu um goleiro jogando de óculos? Diomar Pereira foi um deles, talvez o único que tenha realizado tal façanha. Este senhor de 75 anos também é considerado o torcedor mais antigo do time da Portuguesa, sua segunda paixão. A primeira é o Nove de Julho, time da sua cidade natal, Getulina (SP), onde foi prefeito por duas vezes.
Diomar tem muitos casos para contar. São pelo menos 60 anos de vida ligada ao esporte. Por essa razão, se aventurou a escrever o livro “Futebol minha paixão” (196 pág., R$ 18,00). Modesto, ele conta que a intenção não é se tornar um escritor, apenas transmitir suas memórias e apresentar a história de seus times e cidade à nova geração. “As letras não vão ser acrescidas em nada com esse meu livreto”.
“Futebol minha paixão” traz, de forma bastante coloquial, as recordações de uma vida que gravitam em torno de suas paixões. “Se tenho paixão pelo clube é natural que tenha paixão pela cidade, pela terra em que nasci”, afirma Diomar, que nesta entrevista também analisa a atual situação dos times de futebol e as expectativas para a Copa do Mundo.

Por que escrever “Futebol minha paixão”?
Sempre gostei de escrever, mas nunca tive a intenção de ser escritor. Eu conto casos. Todos reais: eu os vivi ou os presenciei. O livro é um desabafo até porque a origem e história da minha cidade natal, Getulina, estavam se perdendo. Queria transferir minhas memórias e o que sabia para as pessoas. Meu pai, praticamente, participou da fundação da cidade. Eu tenho recortes de muitos anos, mas foi no ano passado que comecei a organizar este material. Consultei algumas pessoas, fui ao museu da Portuguesa e da Federação Paulista, mas é tudo da minha memória.

O livro não trata somente das lembranças de sua cidade…
Também gosto muito de futebol. Por essa razão, o livro era para se chamar “minhas duas paixões” por conta do time da minha cidade: o Nove de Julho e a Portuguesa. Como Diomar Pereira ninguém conhece e as duas paixões de um desconhecido não querem dizer nada, aproveitei a época de campeonato brasileiro e Copa do Mundo, além da história do livro ser essencialmente futebol, para dar o nome de “Futebol, minha paixão”.

Nunca pensou em tornar esta paixão uma profissão?
Fui goleiro, treinador, presidente do clube Nove de Julho. Inclusive, fui goleiro de óculos, mas era apenas amador. Nunca tive problemas. Se fosse para ser profissional nem daria. Naquela época, 60 anos atrás, não existiam lentes de contato. Vim para São Paulo e fui seguir a carreira de Direito. Exerci mandato de prefeito por duas vezes em Getulina.

O senhor continua com este hobby?
Tenho 75 anos, já parei de jogar há uns 40. (risos)

Quando conheceu o bairro da Lapa?
Morei na Lapa quando estudante. O que eu mais gostava era de vir ao Cine Nacional na rua Clélia, onde era o Olympia. Depois me casei e fui para Getulina onde fiquei até 1977. Voltei para São Paulo, morei na rua Coriolano e agora na Espartaco. Passei a freqüentar a quermesse da Praça Cornélia, onde conheci Juarez Soares, também morador do bairro. Foi dele que ganhei uma camisa autografada por todo time, comissão técnica e treinador do Corinthians. A camisa valeu uma boa renda para a paróquia São João Maria Vianney.

E a paixão pelo time da Portuguesa?
Eu me considero o torcedor mais antigo da Portuguesa, além é claro dos próprios lusitanos. Sou torcedor de arquibancada, não tenho nenhum vínculo com o clube. Torço para a Portuguesa há 65 anos. Quando a Copa do Mundo surgiu, comecei a colecionar figurinhas da Seleção e só faltava a de um jogador para encher o álbum e ganhar a bola de capotão, muito cobiçada pelos garotos da cidade. Faltava a do Guanabara, centro-avante da Portuguesa. Consegui a figurinha, enchi o álbum e ganhei a bola de capotão. A partir daí, ele passou a ser o maior jogador do mundo para mim. Depois descobri que o Guanabara era um grosso. (risos)

O senhor tem uma paixão pelo futebol bastante sadia. Qual sua opinião sobre o comportamento das torcidas atualmente?
O futebol é apaixonante e a paixão se renova sempre. O ruim são os dirigentes. O futebol cresceu muito dentro dos campos porque fora é uma calamidade. Hoje, só pensam em política, poder, dinheiro. Está cheio de CPIs do futebol. Clubes ricos como Flamengo, Vasco, Palmeiras, Corinthians, a própria Portuguesa estão todos falidos. Não se vê amor pelo time. Gostaria que os dirigentes tivessem a mesma paixão dos torcedores; que eles aplicassem melhor o dinheiro que os torcedores levam para os estádios e clubes e que não deixassem os craques irem embora do País. A maioria das torcidas organizadas que vai aos estádios é paga pelos clubes. Sou um torcedor apaixonado, mas sento tranqüilamente ao lado de torcedores de outro time. Tem que ser um esporte sadio. Como advogado e com algum conhecimento em esportes, já pensei em oferecer meus serviços aos clubes tão carentes de assistência técnica e jurídica, mas não foi possível e me dediquei à advocacia imobiliária.

Em relação à Copa do Mundo, qual a expectativa?
O Brasil tem tudo para ser campeão. Basta que os jogadores ponham os pés no chão e suem a camisa. Só com nome não se ganha nada. O Brasil já teve grandes times e perdeu. Hoje a preferência pela nossa seleção é quase que absoluta, os próprios adversários acreditam neste favoritismo. O curioso é que o Brasil sempre ganhou campeonato quando não era favorito.

A Seleção e a Copa do Mundo podem ser consideradas a terceira paixão do senhor?
Essa paixão é de todo brasileiro. Dificilmente alguém fica indiferente à Seleção do Brasil. Ela une, nivela as pessoas, faz esquecer divergências e tudo o mais. Jornais, rádios e tevês fazem com que o brasileiro se envolva pelo clima da Copa. Não posso destacar a paixão pela Seleção canarinho como minha, mas de todos.

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