Luiz Claudio Marcolino começou sua militância no Sindicato dos Bancários em 1990. De lá para cá, ele luta, com a diretoria e sindicalizados, por melhores condições de trabalho para a classe e por mais atuação da entidade na comunidade.
Funcionário do Banco Itaú, Luiz Claudio participou de movimentos estudantis e movimentos populares antes de ingressar no Sindicato, onde atuou em vários cargos até chegar à presidência.
Nesta entrevista, Luiz Claudio, que mora na Vila Leopoldina há dez anos, fala sobre a atuação do Sindicato, dos projetos junto à comunidade, às crianças carentes e aos idosos, além da polêmica questão da segurança nos bancos.
O Sindicato dos Bancários é um dos mais antigos do País?
Sim, existe desde 1923. Antes, era uma associação dos bancários. Hoje é Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. Quando foi criado, Jundiaí e Guarulhos faziam parte do Sindicato, que abrangia o ABC. Hoje, a estrutura dos sindicatos brasileiros é uma estrutura confederativa. Tem-se o sindicato de base, a confederação que representa sindicatos no Estado e tem uma confederação. E hoje o Sindicato dos Bancários é a única categoria no País que tem acordo coletivo nacional.
E o que isso quer dizer?
Os acordos que negociamos com os banqueiros valem para os bancários de São Paulo, para os bancários do Rio Grande do Sul e do Acre. Temos 110 Sindicatos dos Bancários no País e as negociações valem para todos. Isso dá mais força para a categoria. O Sindicato dos Bancários é antigo, participou das principais lutas do nosso País, como impeachment do (Fernando) Collor, foi atuante na Ditadura, sempre batalhou não só pelos trabalhadores, mas também pela sociedade.
Quais as principais ações do Sindicato?
Defendemos o emprego dos trabalhadores, ampliação dos salários, o fim do assédio moral e das metas abusivas. O bancário, além de atender os clientes, tem que vender produtos dentro do banco. E há uma cobrança pesada em cima dos trabalhadores. A questão do fim do assédio moral também é uma bandeira importante. Essas são as bandeiras que chamo de bandeiras coorporativas. Também estamos construindo um movimento do sindicato do ramo financeiro. Hoje, o seguro faz parte do sistema financeiro, mas não somos nós quem o representamos. Ao passar na rua São Bento ou na Doze de Outubro, na Lapa, se vê um monte de empresas ligadas à bancos, mas que não são bancários. O menor salário entre os bancários está em torno de mil reais. Um trabalhador dessas promotoras ganha em torno de 500 reais. A metade do salário, a metade do vale refeição, a metade do vale alimentação e trabalha na mesma empresa. O banco e a promotora fazem as mesmas coisas, com salários diferentes. Queremos que todos os trabalhadores do sistema financeiro sejam vinculados ao nosso Sindicato. Somos 420 mil no País, 134 mil bancários em São Paulo, Osasco e Região e cerca de 60 mil sócios. Nossa campanha, este ano, discute a questão dos juros e do crédito, a redução das tarifas bancárias. Hoje, o bancário já não paga tarifa bancária. Temos um acordo com os bancos para isso. Estamos negociando a redução de tarifas para todos os trabalhadores que têm contas em bancos via folha de pagamento. Vamos dialogar também com os trabalhadores rurais e com os pequenos proprietários da área rural sobre a redução dos juros do crédito agrícola. Fizemos um debate junto ao Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) porque os bancos queriam deixar de respeitar o Código de Defesa do Consumidor. Queriam criar um código próprio. Conseguimos garantir que os bancos também respeitem o Código.
Isso seria uma desvantagem para o consumidor…
Sim. A relação de consumo é uma relação de confiança. Se eu compro uma geladeira, parto do princípio de que ela irá trabalhar perfeitamente. Se a liguei e ela está quebrada, devolvo e a loja é obrigada a me dar outra geladeira. Quando você compra um produto no banco, por exemplo, um título de capitalização. As letras do contrato vêm tão pequeninas que se a base do Código é o princípio da boa fé, quando o banco coloca essas letrinhas no rodapé não tem princípio de boa fé. O banco será beneficiado se houver um código próprio. É a mesma coisa quando se vende um título de capitalização para uma pessoa de 75 anos. E o bancário muitas vezes é obrigado a fazer isso por que existe uma pressão no local de trabalho. Isso também não é boa fé.
Vocês também têm alguns projetos com a comunidade, como cinema.
Estamos fazendo uma parceria com uma produtora chamada Brazucah para promover o cinema nacional nas regiões do Estado. E a Lapa é um destes locais. É um projeto que dura oito meses, inicialmente. São duas sessões de cinema por mês, uma na sub-sede do Sindicato e outra na comunidade. Também nas sub-sedes, o objetivo é fazer um diálogo tanto com os bancários quanto com a comunidade local. Na Lapa temos um projeto de cursos de culinária, entre outros, voltados para a comunidade. Outro objetivo é fazer palestras sobre orientação para aposentadoria, orientações jurídicas inclusive. Na região da Lapa tem muita gente que está para se aposentar e outras que poderiam estar se aposentando, mas que não conhecem bem os seus direitos. Também avaliamos a possibilidade de usar espaços da comunidade para realizar cursos. Outra proposta é levar o metrô até Osasco, partindo da Barra Funda. Há uma concentração de trabalhadores na região da Vila Leopoldina e em Osasco. Na Barra Funda há bancos que tem seus call centers na região. O trabalhador passa a ter mais facilidade para chegar em Osasco e beneficiaria os moradores da Zona Oeste. Outro projeto é o Travessia, para meninos de rua. É um projeto entre o Sindicato e alguns bancos. Fazemos um trabalho que tira as crianças da rua mas que também trabalha com os pais. Se a criança está na rua é porque a família é desestruturada. Por isso fazemos um trabalho com a família garantindo o futuro da criança. Não basta tirar a criança da rua num simples ato de tirá-la da frente dos olhos da população. Fazemos uma campanha para as crianças que ficam nos faróis. E na Zona Oeste tem muitas. Elas têm família e nem sempre é desestruturada, mas passa por dificuldades financeiras. A criança passa a ser parte importante do sustento da família.
E a polêmica questão das portas de segurança dos bancos. Como o Sindicato trata disso?
Há um número grande de assalto à agências bancárias e estamos discutindo com os bancos a ampliação do número de seguranças por estabelecimentos bancários e a devida manutenção das portas de segurança. O cliente paga tarifa, mas acaba usando mais os serviços via Internet, pois quando vai ao banco corre o risco de ser assaltado. Os bancos podem investir um pouco mais em segurança bancária. Entendemos que é preciso ter as portas de segurança. Mas também entendemos que os bancos têm que dar manutenção. Muitos querem fazer economia e não fazem a manutenção correta. Às vezes a pessoa está com um maço de cigarro e aquela linhazinha acaba bloqueando a porta. Isso de fato gera um constrangimento. A porta garante a segurança do bancário e a segurança do cliente. Ela evita o assalto? Não. Mas ela evita o assalto violento. Se não tiver a porta, o assaltante entra com facilidade na agência, o segurança pode perceber e reagir ao assalto, e aí é onde acontece o assalto com vítimas.
Você citou o maior uso da Internet. E a segurança neste caso?
Entendemos que o cliente tem que ser atendido principalmente no caixa. Muitas vezes ele tem uma dúvida sobre algum procedimento e é o caixa que vai esclarecer. Muitas vezes o cliente vai ao banco não só para fazer a operação, mas ele quer ter contato com as pessoas. Defendemos que é necessário aumentar o número de caixas no banco. E a Internet e o caixa eletrônico têm que ser uma opção, não pode ser uma obrigatoriedade. Muitos idosos, por exemplo, não querem aprender a mexer em computador ou em caixa eletrônico. É preciso ampliar o número de caixas no estabelecimento bancário. Uma operação no caixa eletrônico custa para o banco no máximo 10 centavos. Uma operação no caixa custa mais, então, a lógica do banco é o custo menor. Ele vai querer que o cliente vá ao caixa eletrônico. Até 1994 não se pagava tarifa e era atendido por um caixa. A partir de 1994 os bancos passaram a cobrar tarifa bancária do cliente que passa a fazer o serviço no caixa eletrônico, na Internet ou pelo telefone. Devia ser o inverso. Ao fazer uma operação via Internet ou no caixa eletrônico o banco não devia cobrar tarifa. A tecnologia ajuda na comodidade das pessoas, mas ela tem que ter uma opção de usá-la ou não.
Na Lapa está o maior número de call centers?
Na região Oeste. Temos o ITM do Unibanco, o ABN na Barra Funda, o HSBC próximo do Ceasa… A Lapa é uma região de fácil acesso e deve estar bem estruturada a questão da tecnologia da região. Isso facilita a concentração de trabalhadores na região.