A Subprefeitura da Lapa está sob nova gestão. Luiza Nagib Eluf, que foi procuradora de justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo, assumiu o cargo em abril deste ano e tem, entre suas principais metas, cuidar do meio ambiente, aumentando o número de áreas verdes e preservando as já existentes, além do combate à corrupção e a promoção de atividades de lazer, cultura e esportes.
Eluf formou-se em direito pela Universidade de São Paulo (USP) e é, desde 1983, membro do Ministério Público Estadual. No final dos anos 80 especializou-se na área criminal e voltou sua experiência e pesquisa para a área dos crimes passionais. O resultado de seus estudos está no livro Crimes contra os Costumes e Assédio Sexual (Editora Jurídica Brasileira, 1999). Ela também é autora de A Paixão no Banco dos Réus (Editora Saraiva, 2002), no qual volta ao tema da violência doméstica, e co-autora, com Jaime Pinsky, de Brasileiro É Assim Mesmo (Editora Contexto, 1993), em que aborda a discriminação e o preconceito. Lançou-se também na ficção, com o romance Retrato (Editora Conex, 2005), que tem o amor – “não doentio”, como define – como enfoque. A promotora recebeu, em 2000, o prêmio Mulher do Ano na área jurídica, concedido pelo Conselho Nacional da Mulher.
Como a senhora vê a qualidade de vida na região?
Esta área da Subprefeitura da Lapa é uma jóia rara dentro dessa cidade louca que é São Paulo. Temos que preservar este pedaço que ainda tem uma qualidade de vida razoável se comparado ao restante da cidade Eu acredito que o grande trabalho da Subprefeitura, ou uma das grandes prioridades, é a preservação do que temos de bom, que são as áreas verdes. Temos loteamentos da City of São Paulo, as casas têm a obrigação de ter recuo, de ter jardim, e com isso temos mais áreas verdes. Com isso temos um ar melhor, menos poluição. Vou trabalhar para que não sejamos mais uma ilha de calor. A Lapa foi considerada uma ilha de calor, por isso devo fazer mais intervenções aqui. Estamos plantando árvores por todos os lados, criando parque e praças. Para todos os lugares que olho e não vejo árvores estou tentando providenciar estas árvores. Só peço um pouco de paciência para a população porque, em termos administrativos, essas coisas demoram, não dá para fazer de um dia para a noite. Para algumas coisas tem pregão, para outras têm licitação, para outras têm só uma burocracia interminável, mas que a gente tem que cumprir. Tenho mais pressa do que os munícipes, mesmo porque sou moradora da Lapa. Temos praças para serem revitalizadas e o parque Villas Bôas que tem que sair de qualquer maneira. Também vamos revitalizar a rua Doze de Outubro com apoio dos comerciantes. Vamos organizar o trabalho dos ambulantes, retirar boa parte deles porque muitos não têm autorização e estão trabalhando com mercadoria ilícita. Mas para aqueles que são regulares vamos tentar dar uma destinação que os satisfaça também. Vamos refazer as calçadas, fazer as floreiras, vamos tornar a Doze uma rua modelo. Isso está acontecendo em algumas outras ruas da capital, como a João Cachoeira. E queremos que a Lapa tenha esse comércio bacana, organizado e bonito.
E como a Subprefeitura lida com a verticalização? Cada vez mais condomínios se instalam na região?
A verticalização desenfreada não é aconselhável para nenhuma região de São Paulo. Tudo tem que ser planejado e organizado. São Paulo já chegou no seu limite e não há mais vantagem em impermeabilizar demais o solo e nem em fazer espigões muito altos porque isso têm reflexos não apenas na dificuldade de obtenção de luz solar, a criação de corredores de vento e também a interferência no lençol freático. Tudo isso é extremamente perigoso para São Paulo. Não é uma coisa que depende de mim, mas se eu pudesse baixaria um decreto impedindo a verticalização em vários bairros da cidade. Mas, muito disso depende da Secretaria de Planejamento e tal… Mas a Subprefeitura fez a sua parte, ou seja, fizemos sugestões de alteração do Plano Diretor Estratégico, que já foram remetidas para a Secretaria de Planejamento e que deverão ser submetidas a avaliação da Câmara Municipal no sentido de limitar a verticalização o máximo possível. Esperamos que os vereadores também assumam essa posição, que é a posição dos moradores de São Paulo.
A região sofre com outro problema, que são as enchentes na época das chuvas. Tem alguma proposta para solucionar isso?
Os planos de enchente são os mais difíceis porque eles requerem obras de grande vulto. Para se ter uma idéia, a minha Subprefeitura alaga toda vez em que chove. A rua alaga, o pátio alaga, é um desastre. Quero começar a trabalhar com isso porque é um inferno para a população paulistana, mas todo mundo tem que saber que as áreas verdes ajudam a evitar a enchente. Deixo um apelo para todo mundo que puder fazer canteiros nas suas calçadas e nos seus jardins, que não impermeabilize o solo, que dizer, que não passem concreto, deixem a terra, a grama, absorverem essa água. E a todos que forem construir, as grande e pequenas construtoras, que nos ajudem com isso. É claro que todos estão visando o lucro. Mas o lucro tem que ter alguns limites e o mais importante deles é a qualidade de vida das pessoas, de todas as pessoas. E a insalubridade afeta todo mundo e todas as classes sociais. Não adianta dizer que uns estão a salvo porque não estão. É uma questão de inteligência agora. Mesmo as pessoas que são ricas e que querem ficar mais ricas precisam pensar se essa vontade tão grande de ganhar mais dinheiro não trará prejuízos irreparáveis para elas mesmas e para os seus descendentes. Eu tenho contato com muitos empresários que são pessoas esclarecidas e preocupadas com a preservação ambiental, muitos deles já estão tentando fazer aquelas construções sustentáveis e evitando as grandes torres porque não dá mais para construir em São Paulo prédios com mais de oito andares.
E a Vila Romana e Vila Leopoldina continuam crescendo neste sentido… O que fazer?
A Vila Romana, a Vila Leopoldina também… Eles querem entram em todos os lugares. É uma luta que sabemos ser normal porque o conflito de interesses é algo próprio da sociedade. Aquilo que os moradores acharem que é legítimo eu também gostaria de colocar a Subprefeitura à disposição e dizer que, em última instância, a questão deve ser resolvida pela justiça. Que as pessoas entrem com ações, se organizem em associações de bairro para preservar o seu pedacinho. Se cada um fizer isso, na sua vizinhança, a cidade como um todo vai ficar bem melhor.
A senhora poderia dizer então que o assunto principal da sua gestão é o meio ambiente?
Eu acho que sim. Posso dizer que é o meio ambiente porque não há mais nada de tão importante, no atual momento, de desenvolvimento humano. Temos a questão do aquecimento global, temos indícios de colapso total da civilização humana por não se respeitar o meio ambiente, por degradar a terra, por não nos preocuparmos com o descarte de lixo, não nos preocuparmos com a contaminação do ar e da água. Vamos ficar sem nada. Se nós não morrermos, não houver a extinção da espécie, nós vamos ter uma vida muito infernal. E acho que ninguém quer isso. Acho que iremos perecer se não houver medidas eficazes e imediatas. Muito imediatas. Mas mesmo que a espécie não pereça, vamos ter uma vida muito ruim e não é vida ruim para os nossos filhos. É para nós mesmos e é agora. Já estamos sentindo estes efeitos que são horríveis. Passamos um inverno seco, quente e irrespirável, e a cada ano a tendência é piorar. Temos que fazer alguma coisa e é agora. A minha Subprefeitura vai de dedicar a isso durante a minha gestão. Quero contar com a colaboração da comunidade porque nenhuma Subprefeitura sozinha faz milagre, mas talvez com todo mundo trabalhando junto a gente consiga. E tenho também a vontade de fazer um trabalho de conscientização, porque cuidar do meio ambiente é cultural.