Lapeanos bons de estrada

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Em 1970, Rafael e Ivan, de 24 e 26 anos, moradores da Lapa, a bordo de um fusca 1962, foram ver os jogos do Brasil na Copa do México. Quarenta anos depois, a aventura virou o documentário “Os filhos da pista”, ainda inédito.

Os amigos Rafael Sawaya e Ivan Charoux, se conhecem desde a infância quando moravam na mesma rua na Lapa. Rafael estudava no Campos Salles e Ivan, no Pereira Barreto e depois, no Anhanguera.

Ivan e Rafael a bordo do fusca, em 2013 (Divulgação)
Ivan e Rafael a bordo do fusca, em 2013 (Divulgação)

Sempre gostaram de se aventurar e em 1970, decidirram ir até o México assistir aos jogos do Brasil. “Decidimos tudo na hora. Não tínhamos nada organizado, passaporte, mapas, dinheiro…”, lembra Ivan. Em 1969, a dupla foi ao Paraguai ver o jogo do Brasil que o classificou para o México.

Escolheram o Fusca 1962 por estar “bom de motor e era o carro ideal”, explica Ivan.

No fusca em 2013 e em 1970 (Divulgação)
No fusca em 2013 e em 1970 (Divulgação)

Documentação resolvida saíram de São Paulo e rodaram sem parar até Lima no Peru. “Sem trocar roupa, tomar banho . Só paramos para abastecer e ir ao banheiro. Cada um dirigiu 500 quilômetros”, lembra Rafael, hoje morador de Perdizes. Precisavam embarcar o carro em um navio até o Panamá, o que foi conseguido.

Chegaram em Guadalajara no dia que o Brasil fez a estreia, contra a Tchecoslováquia e venceu. Assim que chegaram compraram ingressos com um cambista. “Foram os únicos ingressos que compramos. Nos outros jogos, inclusive a final, os amigos mexicanos nos presentearam”, diz Rafael.

Rafael e Ivan no volante, na viagem em 2013 (Divulgação)
Rafael e Ivan no volante, na viagem em 2013 (Divulgação)

“O carro não apresentou problemas. O que apareciam, resolvíamos tranquilamente”, conta. “E se não fosse um fusca, não teríamos concluído nossa jornada”, afirma Ivan.

Rafael e Ivan lembram da simpatia e da camaradagem dos mexicanos. “Nos trataram de uma forma que você não tem ideia. E quando mostrávamos o fusca, a admiração crescia”. Rafael lembra que a torcida brasileira era pequena. “O Brasil partiu desacreditado”.

Não ter fotos dessa viagem rendeu muitas histórias. “Nem lembramos em levar uma máquina fotográfica. Queríamos e fizemos a viagem por nós, não para mostrar para os outros”, diz Rafael. “No Panamá compramos uma filmadora Super-8 e essas são as imagens que fizemos durante a viagem, inclusive de jogos do Brasil!”, completa.

E quando os filhos deles contavam da aventura dos pais “era comum o pessoal achar que era mentira!” diz Rafael. “Eu nunca fui muito ligado nestes detalhes de fotografia. Eu queria era rodar!”, diz Ivan.

A proximidade com o time brasileiro era fácil e eles conseguiram fazer amizade com o goleiro Félix. “Em uma das folgas dele, nós três passeamos juntos, de fusca, pela região de Guadalajara”, diz Rafael.

Após a final (Brasil 4, Itália 1) a dupla descobriu o local da festa da vitória do Brasil. “Fomos até o hotel Camino Real e o Félix nos colocou dentro da festa. Lá estavam Pelé, Tostão, Zé Maria, Evaristo…”.

Comparando com outras Copas, o palmeirense Rafael, reclama do isolamento da equipe da torcida. Para o são-paulino Ivan, o time tricampeão do México foi “o melhor que o Brasil já teve até hoje!”. Ivan, agora prefere assistir no sofá de casa por conta da “confusão e violência”.

Depois do fim da Copa, decidiram seguir ao norte e chegaram até a Fairbanks, no Alasca, cruzando os Estados Unidos e Canadá. Foram oito meses de viagem, 16 países visitados e 63 mil quilômetros rodados.

Quarenta anos depois, em 2013, foram convidados para participar de um documentário sobre a viagem de 1970. Conseguiram um novo fusca e fizeram questão de dirigir o carro até o México, quarenta anos depois, em uma viagem mais tranquila. Esta nova aventura, durou um mês. E a dupla foi em companhia com a produção do filme.

Produção de Brasil e México, o documentário era para ser lançado em 2014. Mas com a morte do diretor mexicano Leon Serment, o filme ficou preso no inventário. Segundo Cassio Pardini, da Latina Estúdio, “o filme deverá ser lançado ainda em 2018”. Rafael e Ivan contam com isso. Querem que as pessoas conheçam a história de amizade e futebol que eles fizeram. (GA)

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