Por um futuro saudável

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Instituto 5 Elementos

Todas as mães do mundo se preocupam com o futuro de seus filhos e com o futuro da humanidade como um todo. 

As previsões não têm sido nada favoráveis quando tomamos como base nosso atual nível de consumo e estilo de vida, que preza muito mais a conjugação do verbo “ter” do que a do verbo “ser”. Para falar sobre esses assuntos, convidamos a pedagoga Mônica Pilz, uma das fundadoras do Instituto 5 Elementos, que completa 20 anos de existência em 2013 e lança a nova versão da coleção didática “Consumo Sustentável e Ação”.“Eu sinto que hoje as pessoas estão preocupadas com o futuro do planeta e querem fazer alguma coisa. Entretanto, o problema é que elas não sabem o que e nem como fazer, pois o sistema conduz a todos pelo caminho errado”, diz a sagitariana, mãe do Artur e do João, educadora e diretora do Instituto 5 Elementos.

Você acredita que existe esperança de um bom futuro para as novas gerações?
Quando começamos o Instituto, as questões ligadas à sustentabilidade não faziam parte do cotidiano das pessoas. Parecia até que falávamos outra língua, que éramos de outro planeta. Hoje, percebo que tudo o que apontávamos e discutíamos no passado, não foi praticado e agora estamos colhendo inúmeros problemas, como enchentes, rios sujos, ar poluído… Creio que a consciência sobre a importância da preservação e do cuidado com os recursos naturais tenha ampliado justamente pelo acúmulo de problemas não resolvidos, porém, as soluções definitivas ainda estão distantes. É a mesma coisa que dizer que a humanidade seguiu o caminho da dor, quando poderia ter seguido a do amor, pois a cultura da sustentabilidade tem tudo a ver com a cultura do amor, com o cuidar, com a paz, com essa “Nova Era”, que preza outras formas de se relacionar com as pessoas e com o ambiente. Acredito que estamos numa grande fase de transição do ter para o ser, da dor para o amor, num processo de dar mais responsabilidade e autonomia através da educação, porque quando educamos as pessoas, elas se tornam seres autônomos. É nesse sentido que devemos caminhar para construir uma visão positiva do futuro.

Em sua opinião, então, o que falta é mais ação?
Eu sinto que hoje as pessoas estão preocupadas com o futuro do planeta e querem fazer alguma coisa. Entretanto, o problema é que elas não sabem o que e nem como fazer, pois o sistema atual conduz a todos pelo caminho errado. Isso não quer dizer que a pessoa tenha de concordar com o sistema. Para mudar algo externo, é preciso primeiramente mudar o interno. O que se pensa, o que se faz, o que se come, o que se fala, a maneira como se age com as pessoas… Ao mudar internamente, a pessoa começa a vibrar uma série de ações e atitudes que vão reverberar em seu entorno, é uma energia sutil que estimula a mobilização.

Você acredita que o brasileiro é acomodado e por isso não cobra mais ações em prol do meio ambiente dos governos?
Eu concordo, porém, não posso deixar de mencionar que nesses últimos 20 anos, as políticas públicas têm avançado bem. A Política Nacional de Recursos Hídricos, de 1997, mobilizou não só o governo do Estado, como também o município e a sociedade civil para a gestão da água. Existem os comitês de bacias, onde são feitas análise, pesquisa de distribuição, etc., e essa corresponsabilidade com a sociedade civil serve para tirar o brasileiro do comodismo. Tanto é assim que percebo as novas gerações mais interessadas e mais politicamente engajadas com as questões socioambientais. Agora temos a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que prevê que até agosto de 2014 os cerca de 2.810 municípios brasileiros que não tratam seus resíduos de modo eficaz terão obrigatoriamente de se adequar para evitar a contaminação do solo e da água. Essas práticas, que parecem pequenas, mas não são, podem mudar o rumo das coisas para melhor.

As pequenas ações e práticas individuais ou de pequenos grupos, então, geram grandes mudanças?
Sim. Um exemplo disso é o ensinamento número 1 da Política de Resíduos Sólidos, que é reduzir o consumo para reduzir o descarte, principalmente porque todo o descarte não reciclado vira resíduo, que termina no aterro sanitário, gera CO2, emite metano, produz o chorume, que contamina o solo, a água… então o consumo consciente, o descarte correto, a implantação de minhocários, que é uma meta do 5 Elementos para os próximos dez anos, são pequenas práticas locais que podem mudar o mundo.

Fale mais sobre os minhocários.
Nos próximos dez anos, o Instituto vai trabalhar muito na implantação de minhocários em empresas, escolas, casas e comunidades porque, ao transformar uma casca de banana, por exemplo, em biofertilizante e esparramar nas praças e jardins de um bairro, já estamos resolvendo um superproblema de espaço nos aterros, pois tudo o que é descartado e não reciclado acaba jogado lá.

O que mais falta para uma mudança radical na questão socioambiental?
Eu acho que precisamos de lideranças corretas em nosso país, com tomadas de decisões certeiras, porque dinheiro nós temos. O Brasil é rico, tem muita gente boa, mas a maioria das pessoas que detém o poder não tem o menor comprometimento com as questões básicas. Temos um excesso de partidos, de eleições, que inflam a máquina do Estado e paralisam o país. Para mudar o sistema, precisamos de lideranças mais comprometidas e engajadas e de mais gente do bem envolvida com essa e outras questões importantes.

Como mãe, o que mais te preocupa em relação ao futuro?
Eu sou sagitariana e, como seu representante, tenho uma flecha apontada sempre para o futuro. Eu consigo ver adiante, principalmente porque trabalhei mais de dez anos como educadora. Parte da missão de uma educadora é cuidar, ensinar valores, ajudar na formação do caráter e fazer outras pessoas felizes. Quando tive meus filhos, o Artur, que hoje tem 21 e o João, que tem 18, eu me senti muito feliz. Ainda sou hoje e só agradeço a presença deles na minha vida. Porém, ser mãe é um desafio pessoal enorme porque a mulher fica num processo de amadurecimento permanente. Você tem de educar seus filhos, tem de se educar constantemente para se tornar menos egoísta e mais disponível. Claro que é uma escolha pessoal, nem todas as mulheres têm essa disponibilidade. Através da maternidade e por conta da convivência com crianças, hoje eu consigo entender mais a diversidade humana. Sendo assim, minhas preocupações se concentram na desvalorização constante das profissões dos cuidadores, como professores, enfermeiros, etc., que lidam com os valores humanos, com a formação de caráter (no caso dos educadores infantis) e também na desvalorização de coisas simples, como cuidar de uma criança e de um idoso, amar uma planta, um animal, passear na praça com o avô, levar o filho para brincar no parque. Nossa felicidade, de acordo com o FIB (Felicidade Interna Bruta)*, advém de pequenas coisas. Não é preciso consumir, comprar e gastar para ser feliz. Esse é o maior engano da atual sociedade, que está em completa desconexão com a natureza, essencial para todos. É espantoso ver a quantidade de gente grande que tem nojo de pisar ou pôr as mãos na terra e que passa essa repulsa para seus filhos. Também é impressionante ver o quanto a publicidade massacra as crianças, que estão em idades de formação de caráter, para que elas se tornem consumidoras vorazes de todos os alimentos calóricos, todos os brinquedos e coisas inúteis lançadas. Nossa tarefa, como Instituto, é mostrar que isso está incorreto, mas com bons exemplos, nunca através de imposições. Digo que é um trabalho de formiguinha, mas persistimos. *FIB (Felicidade Interna Bruta). Ao contrário do PIB (Produto Interno Bruto), o conceito do FIB baseia-se no princípio de que o verdadeiro desenvolvimento de uma sociedade humana surge quando o desenvolvimento espiritual e o desenvolvimento material são simultâneos. Seus pilares são: Promoção de um desenvolvimento socioeconômico sustentável e igualitário; Preservação e promoção dos valores culturais; Conservação do meio ambiente natural e Estabelecimento de uma boa governança.

O que representa o Instituto 5 Elementos para você?
É um sonho que concretizei 20 anos atrás e que não imaginava acontecer. O Instituto nasceu de um grupo de educadoras, que montou um grupo de estudos, cresceu, se profissionalizou e hoje está enraizado. O trabalho que desenvolvo é, para mim, o cerne da sociedade, mas vejo que ainda é tratado como “perfumaria”. É algo que, se fosse levado mais a sério pelos gestores e cidadãos, resolveria muitas questões importantes para o país. Eu gostaria que a educação ambiental se tornasse uma política pública forte, que mantivéssemos mais convênios com secretarias de educação, saúde e assistência social para trazer essa questão de sustentabilidade à tona, sensibilizar e potencializar pessoas a agir em prol de sua comunidade. Vejo que estamos passando por um momento de transição, no qual a questão de educação ambiental para a sustentabilidade com foco na relação humana para com o ambiente tende a se tornar um eixo transversal de políticas públicas, de currículos escolares e de procedimentos das empresas. Estamos trabalhando muito para que isso aconteça.

Fale sobre o lançamento da nova coleção de livros didáticos.
A primeira versão da atual coleção “Consumo Sustentável e Ação” era da época da prefeita Erundina, quando a reciclagem começou a ser discutida e quando ela implantou a primeira coleta seletiva, no bairro de Pinheiros. O Instituto estava no início e nós acompanhamos todas as etapas da Política de Resíduos, que demorou 19 anos para ficar pronta porque, a verdade, é que ninguém quer cuidar do que sobra. Em 2009, mudamos a versão da coleção, mas em 2010, com a implantação dessa Política, tivemos de atualizá-la. Foram dois anos refazendo os dados para agora lançar esse material, que está inteiramente alinhado com a Política de Resíduos Sólidos atual. A coleção é composta do livro do professor e de seis outros volumes que abordam a destinação do vidro, do metal, dos orgânicos, do plástico, dos resíduos perigosos e do papel. Nosso objetivo com a coleção é atuar junto às secretarias de educação para formar professores engajados com a educação ambiental e aliar esses conhecimentos a uma política pública correta de resíduos. O Instituto 5 Elementos está participando atualmente de oito audiências públicas na cidade de São Paulo, levando informações sobre a implantação da política municipal de educação ambiental, de um programa de educação ambiental na gestão de resíduos sólidos com a compostagem incorporada, além de nossa plataforma dos orgânicos, que tem como objetivo modificar a merenda escolar, hoje totalmente industrializada. As informações sobre a coleção didática estão no site: www.colecaoconsumosustentavel.org.br (ND)

Instituto 5 Elementos
Telefone 3871-1944
www.5elementos.org.br

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