Os 25 anos da vitrine da USP

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Os 25 anos da vitrine da USP

No dia 24 de junho, a Estação Ciência completou 25 anos. Idealizada pelo professor Crodowaldo Pavan, geneticista e biólogo que teve sua vida acadêmica ligada à USP para difundir a ciência para o grande público. Ocupando um prédio do século passado tombado pelo patrimônio histórico, primeiro foi uma tecelagem e depois depósito de sementes do governo, até ser passado à Universidade de São Paulo que criou a Estação Ciência. Recebe mais de 400 mil visitantes anuais, a maioria composta por crianças de 3 a 15 anos em animadas caravanas escolares que se divertem pelas experiências interativas do espaço. Para falar sobre essa data e o futuro, entrevistamos o professor José Antonio Visintin, médico-veterinário que assumiu o comando da EC em março último.

A Estação Ciência ainda cumpre o papel de difusor das ciências?
Ela foi idealizada pelo professor Crodowaldo Pavan (1919-2009), que presidiu o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) e professor da USP, para divulgar as ciências para o grande público. Queremos que ela seja uma vitrine da USP para mostrar à sociedade as pesquisas e suas profissões.

É uma forma de aproximar a ciência e o público leigo?
Precisamos desmistificar a ciência para o grande público. O desconhecido causa temor e aqui pretendemos simplificar as ciências que no fundo existem para o benefício da maioria das pessoas e do planeta.

A ciência também pode ser uma boa opção profissional.
Sim. Provavelmente em janeiro teremos a exposição de um submarino atômico. Mostraremos toda a cadeia da produção do urânio, de onde vem, como se prepara, para que serve e lá na frente teremos as profissões que envolvem essa cadeia. O visitante poderá ver que são várias profissões envolvidas, engenheiros, físicos, químicos, matemáticos…

Como mostrar toda a produção científica da USP?
Um grande problema da USP é torná-la visível e acessível. A instituição desenvolve um trabalho junto às escolas estaduais para estimular os alunos a entrar na USP. Muitos desses alunos, por serem da rede estadual acham que jamais poderão chegar a essa universidade. Isso não é verdade. Queremos mostrar que o aluno estimulado pode entrar na lá.

A nova exposição Biodiversidade tem ligação com a Rio+20? (Leia matéria na pág. 44)
A exposição tem muito a ver com a reunião que aconteceu no Rio. A pobreza se combate com comida que por sua vez tem a ver com o meio ambiente porque a produção agrícola e pecuária tem uma interferência direta com o meio ambiente. Isso tudo tem a ver com a flora, a fauna e os rios. A exposição, que tem acervo do Museu de Zoologia da USP, tem por objetivo mostrar a fauna que era mais farta.

É uma forma de conscientizar as pessoas?
A exposição serve para mostrar que a fauna existente não está totalmente perdida e precisa ser cuidada. Mas, precisamos tomar cuidado com o radicalismo. Temos animais que são carregadores de doenças, as chamadas zoonoses, que podem colocar em risco a população humana. Aí que a medicina veterinária entra firme. Hoje, a lei de zoonose fala mais alto do que a lei de preservação. A capivara, por exemplo, transmite a doença do carrapato estrela. E principalmente os pombos urbanos é uma espécie que precisa ser controlada! O mesmo acontece com os cães e gatos soltos pelas ruas. Parte deve ser sacrificada, parte deve ser castrada e incentivar a doação. Não podemos ser 8 ou 80. Hoje, pecuária e agricultura podem caminhar juntos com a preservação ambiental. Tecnologicamente hoje a área em que produzíamos certa quantidade de alimentos, estamos produzindo dez, quinze vezes mais e ocupando o mesmo espaço. E essa exposição mostra que isso é possível.

É uma bonita mostra da variedade que temos.
A exposição está muito bonita e tem uma grande variedade de animais da nossa fauna. É bom ver e rever além de ser um bom passeio para qualquer pessoa.

O prédio da Estação Ciência  está passando por reformas?
A Estação está um pouco deteriorada. Mas um dos nossos objetivos é recuperar toda a infraestrutura, o que não foi feito nos últimos anos. Tivemos um problema no telhado e que acabou inundando o planetário. Parte dele está sendo recuperado e em breve reformaremos a outra metade. Além disso, faremos manutenções preventivas para limpar as folhas que entopem as calhas e os rufos.

As árvores causam muitos problemas?
Isso é um problema sério aqui. Árvores são muito bonitas no campo. Temos vários ipês plantados aqui. Um deles está derrubando um muro aqui na Estação. Como não podemos tirar as árvores, estamos negociando com a prefeitura para fazer uma poda técnica. Por outro lado, no acesso à CPTM e o terminal de ônibus, as árvores tomaram toda a frente da Estação Ciência, que acabou ficando escondida. Pretendo fazer uma poda técnica para expor o prédio e estou negociando com a Eletropaulo para eles aterrarem os fios aqui na frente para expor mais o nosso prédio.

A Estação precisa estar mais visível e atrair mais visitantes?
Sim. Junto com a CPTM, quero restaurar as nossas calçadas que está um bagaço! Tudo isso deve ser feito, e vai ser bom para todo mundo. Para a CPTM, para nós, para o pessoal do Lucy Montoro e para o público. Muita gente passa pela Estação, mas não sabe o que tem aqui dentro. Falta mais informação para saberem que isto tudo aqui é da USP. Reformas serão feitas respeitando a história do prédio, que é muito bonito.

O anfiteatro terá novidades?
Nosso anfiteatro, com capacidade para 250 lugares precisa ser recuperado. Espero ter em breve uma programação diária no horário do almoço como opção para a população. Música, teatro, coral e outros tipos de eventos. Quero que os corais da USP façam ensaios abertos aqui. Serão eventos que possam mostrar as profissões, através de peças de teatro ou de filmes. Já contatei a ECA nesse sentido. Quero que mais pessoas visitem a Estação. Quanto mais gente visitar, será melhor para a USP e para a população que pode desfrutar deste espaço.
 
Como foi sua escolha pela medicina veterinária?
Nasci em Floreal, mas fui criado em Santa Fé do Sul. Minha família sempre esteve ligada à agricultura e pecuária. A escolha pela veterinária não foi por acaso. Eu seria ou veterinário ou agrônomo.

Por que o senhor escolheu a USP?
A USP era a minha única chance de cursar uma faculdade. Minha família tinha um baixo poder aquisitivo. Vim para São Paulo para trabalhar, estudar e sobreviver. Trabalhava o dia inteiro e foi difícil, mas no final deu certo e em 1977 me formei em veterinária.

O senhor esteve estudando no exterior.
Fui estudar tecnologia de sêmem e tecnologia de embriões na Alemanha e na Itália. Estudei fecundação in vitro. Fiz cursos em outros países, mas boa parte do meu trabalho de pesquisa foi feita aqui na USP. Aliás, somos referência em tecnologia da reprodução animal, e nós damos um show nos outros países. Hoje, o Brasil é o maior produtor de embriões de fecundação in vitro. E a USP tem uma grande participação neste processo.

Como recebeu o convite para assumir a Estação Ciência?
Fiz toda a minha carreira universitária na veterinária da USP. Fui, durante quatro anos, diretor da medicina veterinária. Quando a reitoria da USP me convidou para assumir a Estação Ciência, encarei como um desafio e aceitei. Meu objetivo é preservar tudo aqui neste prédio. Não podemos apagar nossa memória.

O senhor mora na Lapa?
Sou morador da Lapa. Aliás, quando aqui cheguei em São Paulo, a primeira estação de trem que desci foi aqui na Lapa. Morei em outros bairros, e voltei para cá há uns sete anos. Estou em casa!

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