A escola de todos nós

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A escola de todos nós

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo tem no estado 5,3 mil escolas, com 230 mil professores e mais de 4 milhões de alunos matriculados. 341 dessas escolas (265 particulares e 76 estaduais) estão aos cuidados da Diretoria Centro Oeste, com sede no Sumaré. Quem dirige a unidade é a professora e pedagoga Rosangela Valim. Nascida em Monte Aprazível (SP), ela veio para São Paulo se para dar aulas de geografia e história. Foi vice-diretora da Escola Estadual Carlos Maximiliano Pereira dos Santos (Vila Madalena) e diretora da Romeu de Moraes (Vila Ipojuca). Nesta entrevista, ela fala das dificuldades de se encontrar professores e as escolas-modelos que estão sendo implantadas na região.
 
A senhora estudou em escola pública?
Sim. Entrei com 7 anos. Fiz o primário, o ginásio e o colegial em escola pública. Depois me formei em geografia e fiz pedagogia.

Por que veio para São Paulo?
Lá no interior não tinha aula, sobravam professores e por isso vim para cá. É o contrário de hoje. Temos falta de professores em algumas matérias, como física, química, geografia. Nunca imaginei viver essa situação.
 
Além de professora, a senhora também foi diretora de escola.
Como professora, lecionei na região do ABC. Depois me casei e vim para São Paulo. Trabalhei em escola particular e estadual e depois optei pelo estado. Aqui fui vice-diretora na Escola Estadual Carlos Maximiliano Pereira dos Santos, na Vila Madalena. Depois fiquei aqui na diretoria por 6 anos como assistente de diretoria. Quando engravidei, pedi afastamento. O meu sonho era ser diretora de escola. Eu pensava que como diretora eu poderia fazer muitas coisas. Depois da gravidez, fui ser diretora da Romeu de Moraes, na Vila Ipojuca. Fiquei lá por 6 anos e nove meses. Em agosto de 2011, fui nomeada para a Centro Oeste.

Foi fácil deixar a escola?
Meu primeiro dia aqui, era dia de receber os alunos lá no Romeu. Avisei que iria chegar mais tarde e fui receber os alunos. Depois de recebê-los no portão, passei em cada sala para me despedir deles. Foi muito emocionante a minha despedida no Romeu.

Como era como diretora?
Diretora pé no pátio. Ou seja, sempre circulei por toda a escola. Recebia os alunos no portão, acompanhava a atividade deles no pátio. Ficava pouco na diretoria e nunca trabalhei de porta fechada. Quando eu sair daqui, como o meu cargo é de diretora, pretendo voltar para o Romeu. Embora more nos Jardins, eu além de gostar, me identifico com a região da Lapa.
 
Qual é a área de atuação da Diretoria de Ensino Centro-Oeste?
É a maior da cidade em escolas particulares. Temos escolas no Jabaquara, no Campo Belo, Sumaré, Lapa, Perdizes e parte da Pompeia, Vila Leopoldina e outros bairros.
 
Qual é a função da Centro Oeste?
Supervisionamos as atividades das escolas particulares com os Ciclos I, II, ensino médio e cursos técnicos. A parte administrativa e a parte concluinte. Quando alguém decide abrir uma escola, é aqui que ele entrega aqui o pedido. Analisamos os documentos, vistoriamos o prédio e o pessoal, professores e diretores. 
 
É boa a qualidade das escolas da Centro Oeste?
Aqui nós não temos nenhuma escola ruim. Temos as que têm uma facilidade e outras algumas dificuldades. Mas todas são muito bem administradas. 
 
Como é feita a supervisão de todas essas escolas?
Além da equipe, temos mais 28 supervisores que são os meus olhos, meus braços e minhas pernas. Eles visitam todas as escolas da diretoria. Nessas visitas fazemos toda a orientação pedagógica necessária. Aqui também atuamos como um centro de formação.
 
Se as escolas públicas são boas, por que as pessoas se sacrificam para pagar escola particular? Há um preconceito com relação á escola pública?
A escola pública não é um inferno e nem as particulares, um paraíso. Na escola que eu dirigia, os pais matriculavam seus filhos na escola pública e com a economia investiam em cursos paralelos. A escola pública sofre preconceito também pela sua estrutura. É lógico que o estado, com suas mais de 5 mil escolas, não consegue atingir à todas de uma maneira igual. Depende do gestor local. E muitas vezes esse gestor não consegue ou não tem uma formação adequada ou incentivo. O que acontece de ruim na particular não é tão divulgada como é com a escola pública. Quando acontece alguma coisa com a escola pública, todo mundo é pedagogo e quer dar opinião. Fica parecendo que todos os funcionários são incompetentes e os alunos, bandidos. Nós temos grandes talentos dentro das escolas públicas. Agora, profissional ruim, temos em todas as áreas. 
 
Ser professor ainda é atraente?
Professores são elementos-chave na educação. Hoje, professor é um profissional raro. E o bom professor é raríssimo. Mas as coisas caminham para uma melhora. 
 
O salário ainda é o problema?
O salário está defasado se você olhar a responsabilidade que ele tem. E um bom professor custa muito caro. O estado ainda não tem condições de pagar o que realmente o professor merece. E São Paulo paga melhor do que há alguns anos. Ganham pouco? Sim. Mas não é só o professor que ganha pouco neste país, não? 
 
A escola de tempo integral é um caminho para melhorar o ensino?
São as escolas-modelo. Começamos em fevereiro com elas. Estamos em um período de ajuste. Mas só em ter um professor em tempo integral é um ganho. São 16 escolas no no estado com ensino médio integral. Duas delas ficam aqui na região. A Alexandre von Humboldt, na Vila Anastácio, e a Alves Cruz, aqui no Sumaré.
 
Como elas funcionam?
Os professores têm um regime de trabalho diferenciado. Trabalham 40 horas semanais, com horário fixo, ou seja, de 7h30 até o final do dia eles ficam em tempo integral junto com os alunos. Além das matérias normais, têm as eletivas. O aluno e os professores determinam quais matérias ele vai estudar. Nessas escolas, os professores ganham 50% a mais sobre o salário-base. O estado quer ampliar em mais 100 o número de escolas-modelo. 
 
Não corre o risco de sofrer interrupção no futuro?
Hoje temos uma política de estado. Por isso que resolvi aceitar o desafio de trabalhar aqui como dirigente de educação. Com o atual secretário, senti que estamos com uma política de estado e não com uma política partidária. Temos planejado o que faremos daqui a cinco, dez, quinze anos. Temos planos até 2030, 2040, 2050. É uma forma de pensar diferente. Se a gente continuasse a pensar só neste ano, neste governo, nós não iríamos conseguir caminhar. Precisamos pensar no futuro e que país teremos em 2030. Mas temos que começar a trabalhar hoje. E tem coisas que não dá para esperar e é preciso melhorar o ambiente de trabalho do professor e do aluno. 
 
Já dá para sentir os efeitos?
A sociedade civil não vai sentir agora. Mas ela também precisa contribuir para que isso dê certo. De que forma? Exigindo, mostrando, cobrando, participando, ajudando nas mudanças.
 
As escolas da Centro Oeste têm problemas de violência?
Nossas escolas, felizmente, não têm vandalismo. Temos brigas corriqueiras entre adolescentes. Mas você não vê nossos alunos envolvidos em gangues ou algo assim. Desde que estou aqui, não tive nenhum caso de violência. 
 
E com drogas e bebidas?
Temos vários tipos. Quando encontramos um aluno usando droga, conversamos com ele sem envolver a família, a não ser que o caso exija. Precisamos mostrar para ele que existem outras coisas na vida e se ele for por esse caminho, pode perder outras oportunidades. Quando era  diretora, fazia um pacto com o aluno. “Eu te ajudo e você vai largar isso (a droga)”. Mas quando extrapolava e percebia que não ia dar conta, chamava a família para conversar e dar apoio. O Conselho Tutelar ajuda muito nesses casos. Mas sem envolver a polícia. A escola é um lugar educativo, não punitivo. E o problema das bebidas muitas vezes começa em casa, com os pais.
 
Qual é o perfil dos alunos da região do Sumaré, Lapa e arredores?
Eu diria que é uma classe média entre média-alta e baixa. Mas temos alunos de outros bairros, que eu não vou citar, que querem estudar nas escolas da região. Os pais querem que seus filhos convivam com crianças de um bairro melhor. 
 
O que fazem os professores-mediadores?
É um professor contratado para mediar os conflitos na escola. Sejam eles entre professor e aluno ou entre professor e a comunidade. Ele faz o possível para evitar o conflito. Mas quando o conflito está instalado, ele deve ser imparcial. Ele mostra o porquê do conflito e as possíveis soluções. Um exemplo é o aluno que falta muito e a escola apesar do contato com a família não conseguiu resolver o problema. Esse professor vai saber o que está acontecendo com ele. Ele pode acompanhar a ação do Conselho Tutelar. É um trabalho recente e nesses dois anos tem dado muito certo. 
 
As escolas do estado têm a tecnologia necessária?
Todas as nossas escolas têm sala de informática com um monitor. Esse programa é aberto aos alunos e à comunidade. Agora, estamos implantando uma plataforma de estudos pela internet. Em 2011, trabalhamos como recuperação, com exercícios práticos e com um professor on-line para tirar dúvidas. Se o aluno não tem computador ele pode usar o da escola. A maioria das nossas escolas está bem equipada. Em breve o estado vai instalar novos equipamentos e uma internet mais rápida. Nas escolas-modelo serão instaladas lousas digitais em breve. E aos poucos serão instaladas em outras escolas do estado. 
 
Em matéria de tecnologia, o estado está muito defasado em relação às escolas particulares?
Tem escola particular que tem o mesmo equipamento nosso. Têm escolas particulares com uma tecnologia avançada e as escolas do estado estão aquém do ideal, mas estamos caminhando para melhorar e não estamos tão defasados.
 
Como a senhora definiria uma boa escola?
O que eu considero uma boa escola é onde as pessoas se dão bem, se sintam bem e são felizes. A boa escola tem alma, é uma coisa viva. Nela, as pessoas trabalham contentes, a estrutura é boa, e é bem administrada. O período escolar é muito importante na vida de qualquer pessoa. Quantas lembranças nós guardamos da nossa infância? A maior gratificação que eu tive como diretora e ainda vou ter muito mais é quando o aluno termina seu curso e depois de um tempo ele volta e você vê um homem ou mulher formada, às vezes com filhos e vêm até a escola para lembrar de um tempo bom que passou. Todas as escolas têm trabalhado para isso. O que acontece é que têm escolas com mais ou menos sucesso.

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