Rindo da própria vida

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Rindo da própria vida

Evandro Daolio, em 1998, levou um tombo no banheiro da sua casa que o deixou dois meses de cama. Para passar o tempo, ele encheu várias páginas de um caderno universitário com as suas histórias e dos amigos. Os escritos viraram livro e quando saiu a procura de uma editora, recebeu muitos nãos até encontrar uma que topasse publicar “Ria da Minha Vida Antes Que Eu Ria da Sua”. Hoje tem quatro livros publicados, mais de 100 mil exemplares vendidos e mais de um milhão de leitores, segundo ele próprio. Morador da Lapa e sócio com dois irmãos de dois postos de combustível, Evandro aqui fala de seus livros e suas histórias.

Como surgiu o primeiro livro?
Cai no banheiro de casa e tive que ficar dois meses de cama. Para passar o tempo comecei a escrever as minhas histórias e dos amigos em um caderno universitário. Preenchi mais de 600 páginas. Passei o caderno para uma amiga que disse que riu muito das minhas histórias e achava que eu deveria transformar em livro. Foi o que fiz. Mas não foi fácil.

Por que?
Passei para um rapaz digitar, mas ele não conseguia entender minha letra algumas vezes. Acabei eu digitando a maior parte. O computador que usei não era muito avançado e de vez em quando não salvava alguns textos. Parecia que tinha vida própria.

Foi difícil achar uma editora para publicar seu livro?
Foram mais de 50 nãos até achar uma que topasse. Quando estava pronto, achei que só os amigos e parentes iriam comprá-lo e mais por dó.

E que aconteceu?
Consegui ser entrevistado no Programa do Jô. Daí fiquei conhecido e o livro vendeu muito bem. Hoje o primeiro “Ria da Minha Vida…” está na 16ª. edição e estou lançando o volume 4 com o título “Ria da Sua Vida e da Minha Ainda Mais”, pela Editora Novo Século. Já vendi mais de 100 mil exemplares dos quatro livros e calculo que tenho mais de um milhão de leitores.

Que autores você gosta de ler?
Não sou um grande leitor. Li alguns livros de J. J. Benitez, como “O Cavalo de Troia” e outros do Luiz Fernando Veríssimo porque acho que temos um estilo parecido. Mas quando estou escrevendo meus livros não leio nada para não sofrer influência.

Que método você usa para escrever?
Todas as ideias e histórias que ouço e vivo, escrevo em qualquer papel que me aparece pela frente e vou juntando tudo em um saco plástico. Quando acho que tenho material para um novo livro, espalho todas as anotações pelo quarto. Ninguém entra, ninguém varre (risos). Uso um quadro na parede para organizar as histórias por tema e conforme vou escrevendo vou dando baixa nas histórias contadas. Penso em como vou terminar, as ideias que quero passar e depois é só escrever.

Cada livro tem um tema central específico?
Sim. No primeiro contei minha história com a Débora (nome fictício), que foi um grande amor que tive. No número dois contei sobre a entrevista no Programa do Jô e a grande volta por cima. O terceiro é mais complexo e a ideia central é “em busca de um grande amor”… e no quatro, tem a volta da Débora e histórias dos amigos.

Foi lançando um atrás do outro?
Não. O um e o dois escrevi e publiquei em um período de dois anos. Do três para o quatro demorei oito anos. Depois que publiquei o três, achei que faltava conteúdo para escrever o quarto. Tudo que eu escrevo são histórias verdadeiras que aconteceram comigo. Não invento nada. A Débora que falo dela em 2000 só reapareceu em 2010… Então só quando tive material suficiente é que eu resolvi partir para o número quatro.
Seus livros são de humor ou de autoajuda?
Não… Meus livros são livros de conduta de vida. Eu passo conceitos de moral e coisas em que acredito… Escrevo de uma forma engraçada.

Você conta histórias hilárias de seus amigos. Nenhum deles já reclamou?
Não. Pelo contrário, o pessoal até reclama de não ter histórias incluídas nos livros.

E as mulheres? Também gostaram de estar nos seus livros?
Bom, aí teve reclamação. Algumas ficaram bravas até. Eu nunca uso o nome verdadeiro delas. Teve gente que achou que eu as descrevi como um monstro! A própria Débora que deu origem ao primeiro livro me falou que iria escrever a versão dela. E no número quatro, coloco um texto que ela me mandou com a versão dela.

E suas teorias como a do macho-pagador? Como você as criou?
É aquele negócio, todo mundo conhece esse tipo de sujeito, o macho-pagador, que na balada paga tudo para ganhar mulher. Ninguém fala o nome desse sujeito. Então eu criei essas teorias para explicar ao leitor o meu pensamento e ponto de vista. Também faço alguns gráficos para explicar minhas teorias. É o meu lado de engenheiro eletrônico que coloco nos meus livros.

Você, antes de publicar seus livros, já escrevia?
Sempre trabalhei em área de marketing e sempre tive que escrever. Sempre gostei de anotar as histórias que aconteciam comigo ou com os amigos e namoradas.

Você teve ajuda de um escritor profissional?
Acho que para ser escritor não é preciso ser bom em gramática. O importante é ter conteúdo e não ser prolixo na hora de escrever. Escrevo livros que todo mundo consegue ler e rápido. Antes de publicar o meu primeiro livro, eu reli mais de 100 vezes antes de autorizar a impressão.

Você ainda tem o famoso Chevette verde que é um dos personagens dos seus primeiros livros?
Não. Até quero recomprá-lo, mas a atual dona ficou sabendo do sucesso dele nos livros e agora quer muito dinheiro por ele.

Parece que tudo que lhe contam acaba virando um causo. É assim?
Na verdade, eu junto o que acho interessante para colocar em um livro. Não são livros de piadas. Até morro de medo de ser classificado como livro de humor. Meu jeito de contar pode ser engraçado, mas não é uma piada. É tudo verdade. Eu, antes de escrever a história, conto ela várias vezes até achar a forma ideal. Testo com os amigos antes de escrever.

No livro quatro tem um capítulo sobre seu pai. Foi difícil escrever sobre ele e a doença dele?
É o capítulo “Jardim Sofia”. Foi difícil e sofrido escrever sobre o meu pai. Nele, eu narro o sofrimento dele com o câncer e tudo o mais.

Em seus livros você fala muito em encontrar um grande amor, essas coisas. Você é um romântico?
Sim. Sou um otimista e busco um relacionamento para dar certo e tomo como exemplo a vida de meus pais que foram casados por muito tempo e muito bem.

Que conceitos você quer passar em seus livros?
Meus valores éticos e pretendo tornar o mundo melhor. Vejo muita gente maltratando as pessoas e acham que isso é o normal. Não é. É preciso fazer algo mais na vida. O mundo está precisando disso. E eu tenho feito isso e tem dado certo na minha vida.

As mídias sociais o ajudam a divulgar seus livros e manter um contato com os leitores?
Na comunidade do Orkut Ria da Minha Vida tem mais de 5 mil seguidores. Tenho um site (www.riadaminhavida.com.br) e por ele recebo muitos e-mails dos leitores. Tem gente que pensa que tenho secretaria para responder aos e-mails. Sou eu mesmo quem responde a cada um deles. Pode demorar, mas eu respondo todos os e-mails que recebo. E tem gente perguntando de tudo.

Quem são os seus leitores?
Recebo muitos e-mails de gente que leu pela primeira vez um livro inteiro e foi o meu. Acho ótimo. Vou muito a palestras em escolas que adotam meus livros. É bom estar diretamente com o público leitor. Eles gostam de conversar pessoalmente e ao vivo. Tem gente que acha que eu não existo! Acho que meus leitores vão de 14 a 50 anos.
Já teve gente interessada em transformar seus livros em filme?
Acho que dá para virar filme. Um amigo fez um roteiro e levou para uma produtora, assinamos contrato mas até agora não rolou. Mas ainda acho que vai acontecer.

Virão outros livros em breve?
Já tenho na cabeça o “Ria dos meus filhos, antes que eu ria dos seus”. Porque meus leitores estão envelhecendo e criando família.

Nos livros, você se mostra muito fraterno com os amigos. Isso é verdade?
É isso mesmo e já quebrei a cara fazendo isso. Teve um caso recente que um amigo apareceu com uma mulher que eu achei estranha. Fiquei com pé atrás. Um dia desses vejo esse  meu amigo que está bem de vida, passando aqui na Lapa e ele mora no Alphaville. Achei estranho. Liguei para ele e perguntei “o que você está fazendo aqui na Lapa?”. Ele contou que tinha ido a uma cartomante. Me deu o endereço e eu descobri que era uma golpista que até deu cheques sem fundos aqui no meu posto. Eu fui o único amigo que disse para ele que ela era uma golpista. Acredito que a gente está na vida para fazer alguma coisa, não só figuração.

Que importância tem a Lapa nos seus livros?
Sempre morei por aqui e tem muitas histórias que aconteceram comigo e com os meus amigos aqui na Lapa.

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