Vivendo em condomínios

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Sustentabilidade no condominio

Marcelo Amorim é engenheiro mecânico formado pela USP e trabalhou na área de projetos e de qualidade em empresas como Unibanco, Credicard e Hawlett Packard. Sempre participou da vida do Condomínio Quatro Estações, onde mora. Interessado em melhorar as relações de moradores, funcionários e prestadores de serviço, criou uma empresa, a Viva Condomínios, e desenvolve projetos de sustentabilidade e comunicação interna e busca criar uma maneira mais agradável de viver em comunidade. Ele, o sócio Saulo Valente e Lucas Battistetti, do setor de vendas, falam de como estão propondo uma nova maneira de viver em condomínios.

Você se tornou síndico por vocação ou por acaso?
Quem vive em condomínio precisa participar. É bacana ter alguém que faça parte de uma comissão (de obras, de meio ambiente) dentro do condomínio. Eu já participava da vida do condomínio. Fui conselheiro, sub-síndico e depois síndico. Sempre participei ativamente. Meu condomínio tem 352 apartamentos e cerca de 1.500 moradores. É uma pequena cidade.

Que experiências você adquiriu como síndico?
É preciso criar condições para que as pessoas se envolvam nas atividades do condomínio. E a comunicação é “o rabo que balança o cachorro”. Um pouco de estímulo ajuda as pessoas a participarem.

E como surgiu a empresa?
A proposta da Viva Condomínio é que os moradores vivam o seu condomínio. Somos uma empresa de relacionamento. Estimulamos a integração entre os moradores. Eu trabalhava no setor de Satisfação de Qualidade na HP. Lá, conheci o Saulo. Sentia que nos condomínios faltava comunicação sobre o que acontece internamente, como era dentro da HP. Quando assumi como síndico, fiz uma proposta ao Saulo para ele pensar em uma forma de melhorar a comunicação. O meu condomínio foi o primeiro cliente dele. Foi um projeto-piloto. Depois abrimos a nossa empresa com mais outros sócios.

Como vocês atuam? Basicamente é através da comunicação?
Além de um painel, a nossa empresa envolve os moradores nas atividades que promovemos dentro do condomínio. São três as maneiras de envolver o morador. Quando um morador chama outro morador é o mais eficiente. O segundo, chamamos de fora para dentro. Por exemplo, sugerimos uma pizzada, e vamos atrás de um patrocinador, com custo zero para os moradores. A terceira opção é fazermos a pizzada e os moradores pagarem pelo serviço. Aproveitamos a presença dos moradores para promover uma roda de diálogo sobre vários temas que envolvam o condomínio.

Esses eventos acontecem nas áreas gourmets dos condomínios?
Sim. Mas quando o condomínio não tem a estrutura, temos parceiros muito bons que têm as soluções.

Essas festas costumam atrair muitos moradores?
A primeira festa junina que promovemos, no meu condomínio, reuniu mais de 300 pessoas. Daí em diante, o número em cada evento aumentou e muito. E o bacana é que mesmo depois que deixei de ser síndico, as coisas continuaram a acontecer no prédio. Hoje, tem uma jornalista fazendo o trabalho que fazíamos.

E a comunicação interna nos prédios, como acontece?
Através de painéis. Eles têm de ser bonitos. As pautas são atualizadas com frequência. E refletem o que acontece no prédio. Isso gera credibilidade. Sejam informações sobre eventos, festas ou obras. O importante é que as informações levem os moradores a participar da vida do condomínio.

O trabalho de vocês ajuda na interação entre os moradores?
Sim. Nós ajudamos aos condomínios a construir uma relação familiar.

Incluem os funcionários do condomínio e os moradores?
Naturalmente eles devem ser envolvidos.

Como funciona a coleta seletiva de lixo?
Reunimos os funcionários do prédio e as empregadas dos apartamentos para uma dinâmica de grupo para conscientizá-los sobre isso. Os síndicos e gerentes dos prédios também são envolvidos neste trabalho. Sempre fazemos uma festinha para o pessoal. E o interesse das cooperativas de recicladores depende do preço dos materiais.

E com os moradores?
Sim. Fazemos o lançamento do projeto com coquetel e alguma coisa mais, como um coral, como já aconteceu. Informamos aos moradores da coleta seletiva e eles garantem a participação dos seus colaboradores.

Além do planejamento, qual é a participação da empresa de vocês?
Nós somos um meio. Não somos nós que iremos fazer a coleta seletiva. Temos e conhecemos pessoalmente as lideranças de algumas cooperativas de reciclagem. A credibilidade é fundamental.

E funciona?
Sim. Levamos a cooperativa até os condomínios, para que eles se conheçam mutuamente. O morador se compromete a participar, e a cooperativa precisa ter incentivo econômico para retirar o material. Nosso compromisso é que as duas pontas funcionem. Através dos painéis onde damos dicas, por exemplo, de como condicionar vidros quebrados para evitar acidentes na hora da coleta. E quando há problemas, a gente se encarrega de corrigir os problemas. Têm pessoas com uma consciência ecológica mais avançada e são mais engajados na reciclagem. Geralmente, os condomínios têm comissões que discutem esses aspectos.

A reciclagem ajuda a integrar moradores e funcionários?
É um excelente motivo para fazer a integração em um condomínio.

A cultura e o nível social dos moradores influenciam essas práticas?
Temos prédios mais populares e que o resultado é semelhante. Nós trabalhamos com todos de maneira igual. Não há distinção entre os condomínios. Trabalhamos a comunicação. E temos outros produtos, como festas e eventos. Aí, cobramos por evento. Buscamos patrocinadores no bairro ou os moradores assumem o custo. A nossa proposta é que a integração aconteça com ou sem patrocínio.

E as festas?
Quando fazemos eventos para os adultos, também criamos um espaço para as crianças ficarem ocupadas e os pais ficam tranquilos. Chamamos parceiros comerciais que participam e até patrocinam as rodas de discussão ou vão até o condomínio apresentar seu trabalho.

E o que acontece nestas rodas de discussão?
Não se trata de reunião de condomínio. Não é assembleia. Propomos temas como “o que é morar em condomínio”, e aí colocamos os temas em discussão. Em um dos condomínios, tivemos roda de diálogo com patrocínio de docerias, lan house para as crianças, aulas de pilates, e os moradores se integraram e participaram das discussões. No final, gravamos os depoimentos dos moradores e colocamos no site do prédio.

Quais são os assuntos mais abordados?
Um deles é morar em condomínio. Outros como convivência e sustentabilidade. É natural que outros assuntos como segurança venham a ser incluídos. Têm moradores que não gostam de ser abordados pela portaria quando chegam ao condomínio. Já temos pedidos para abordar esses assuntos ligados à segurança. E explicar o porquê das rotinas na segurança nos dias de hoje.

Temas culturais também são abordados?
Quando o condomínio tem uma programação de lazer a gente informa. E também o que acontece nos arredores dos condomínios. Caminhadas coletivas e passeios de bikes são incentivados em nossos painéis. As aulas que acontecem dentro do condomínio também são comunicadas no mural.

A responsabilidade social também é incluída na pauta?
Chamamos isso de marketing do bem. Um dos prédios da Vila Leopoldina participa com a entidade chamada Nossa Turma. São 200 crianças que são atendidas. Elas são moradoras das favelas próximas da Ceagesp. A Ceagesp contribui com um valor fixo por mês, mas mesmo assim, não cobre os custos mensais. O Manelão, que é o responsável, passa o chapéu entre os concessionários da Ceagesp para completar o orçamento. Eles promovem a Festa da Queima do Alho com renda revertida para a entidade. A gente divulga nos prédios o trabalho deles e pedimos doações de brinquedos, roupas etc. Nós, da Viva, adotamos 50 crianças, o HSBC adotou 150 crianças. A verba da Queima do Alho garante a sobrevivência da Nossa Turma por quatro meses. Nós organizamos e divulgamos a festa.

Defina o viver em condomínio.
É contar com o próximo. E aí vai um depoimento pessoal. Meu pai, Candido Amorim, era um dos meus sócios e faleceu em novembro. Recebi no meu condomínio o amparo e o carinho de 30 ou 40 moradores tanto para mim como para minha tia que morava com ele. Eles fizeram doação de sangue. Quando um outro morador teve enfarto, eu e os outros moradores fomos visitá-lo no hospital. Nós criamos uma cidade de interior, com um lado humano diferente dos outros prédios da cidade. E precisamos levar isso para a cidade grande.

Vocês querem mudar a maneira de viver em condomínios?
Nós queremos mudar a maneira de viver na cidade. Temos parceria como a Green Mobility, que trabalha pensando na mobilidade das pessoas nas grandes cidades, por exemplo. Eles criaram um site para que as pessoas pensem na mobilidade. De carona ou em parceria em um mesmo meio de transporte. E através dos condomínios isso pode ser mais fácil. Mas isso ainda é para o futuro.

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