O vaivém|do amor

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Julia Duarte

Julia Duarte é jornalista
e advogada, bonita, falante, simpática e observadora. Tão observadora
que escreveu um livro, lançado no final de 2009: “Relacionamento Ioiô”
(Matrix Editora, 120 págs.). Seja na novela ou na vida real, quem já
não viu (ou teve) uma relação dessas, cheia de idas e vindas? Baseado
também na vida da autora, ela entrevistou casais amigos (separadamente)
e psicólogas para entender o que leva as pessoas a esse tipo de
relacionamento. Ao longo de seis meses, sem viagens, sem finais de
semana, ela escreveu um livro cheio de casos interessantes e conclusões
para evitar esse tipo de relacionamento.
Solteira, moradora e frequentadora da Vila Leopoldina, Julia fala do livro e sua vida. Acompanhe.

Você mora na Leopoldina há quanto tempo e o que faz no bairro?
Eu
morava em São Caetano e mudei pra cá há dois anos. Não aguentava mais o
trânsito e mudei pra ficar perto do trabalho. Saio toda noite para
comer, geralmente perto de casa. Tem três padarias perto de casa e um
monte de restaurante japonês, que eu adoro. Também vou ao supermercado
a pé, à Ceagesp comprar flores. Apesar de trabalhar na Vila Madalena,
não faço nada lá, é tudo aqui no bairro. Vou ao Parque Vila Lobos – não
sou esportista, mas gosto de ficar apreciando o movimento.

Você vai pra ficar apreciando os relacionamentos?
Também!
Fico prestando atenção nas pessoas. Nem sei se as constranjo de ficar
olhando. Eu penso: ‘poxa, esses dois não conversam, que graça deve ter
essa relação?’ Eu fico prestando atenção nas pessoas o tempo todinho.

E foi prestando atenção nas pessoas que você resolveu escrever?
Não,
o livro veio de experiência minha mesmo (risos). São 13 historinhas.
Mudei o nome de todo mundo, porque todas as histórias são dos meus
amigos e todas são verídicas.

É um tratado científico!
É
um relatório, porque eu entrevistei psicólogos para falarem sobre
aquelas relações. Entrevistei as meninas, os meninos e contei as
histórias para três psicólogas, que deram um parecer final, uma
conclusão de qual era a loucura de cada um na relação. E eu fiz a parte
de como evitar e de como sair dessa relação, tipo um manual do
relacionamento, baseado em minhas experiências, porque eu tive três
relações assim.

Tipo vai e volta?
Sim, coisa que eu
não quero nunca mais. Não tem nada saudável nisso e todas as psicólogas
falaram a mesma coisa: relacionamento ioiô é falta de maturidade,
normalmente acontece na fase dos 20 aos 30 anos, e também baixa
autoestima.

Você está namorando agora?
Estava, mas acabou e acabou (risos). Não quero ficar indo e vindo. Eu dou chance só enquanto estou namorando, entendeu?

Você nunca casou?
Eu
morei junto com uns dos meus relacionamentos ioiô, mas essa história
era atípica porque ele morava no Canadá e eu no Brasil. A gente ficou
indo e vindo fisicamente mesmo.

E deu certo?
Totalmente
certo! Tudo sobre controle, mas ele estava lá e eu aqui. Eu tenho a
sensação de que, se os dois morassem lá ou aqui, talvez tivesse dado
certo, mas…

E acabou por quê?
Eu vim embora para o
Brasil porque queria estudar Jornalismo. O bizarro dessa história doida
é que depois de sete anos ele foi transferido pra cá. E voltou tudo. Aí
virou um relacionamento ioiô porque ele veio transferido e depois foi
de volta para o Canadá.

Na verdade, foi o apoio que ele encontrou aqui.
Verdade.
Mas tinha tanto país no mundo, tinha que ser aqui? Enfim… A gente
voltou e depois ele foi embora e aí não deu mais. Uma das conclusões
das psicólogas é que, para uma relação funcionar, os dois têm que estar
no mesmo lugar. Funciona por um tempo desde que o objetivo final seja
que os dois estejam no mesmo lugar. A distância causa esse frisson,
tipo ‘eu quero você’.

E tem uma idealização.
Também. Eu falo isso no livro, mas na hora que está tudo junto mesmo, não é essa maravilha.

Ninguém fala sobre coisas simples e ruins nos relacionamentos.
Verdade,
e ainda mais quando se está distante. Você sofre muito também porque
quer ver a pessoa e não pode pegar um carro e fazer isso, porque tem
que ter dinheiro para poder pegar um avião e ir a Vancouver (Canadá),
que foi meu caso. Eu levava 17 horas voando. Cheguei a passar um final
de semana com ele e fiquei mais tempo dentro do avião do que com ele.
Fui jantar com ele e voltei. Meus amigos falaram ‘você é insana’. A
gente jantou, eu dormi, levantei e fui para o aeroporto e ele foi
trabalhar. Loucura!

E quanto tempo você demorou escrevendo o livro e ouvindo as histórias das pessoas?
Bom,
a ideia do livro sempre esteve na minha cabeça. Sempre achei que não
estava madura suficiente. Aí conheci um editor e apresentei uma sinopse
do livro para ele, que me deu sinal verde. Mas comecei o livro em
janeiro e em agosto estava pronto.

Você só se dedicou ao livro?
Não,
ainda trabalhava. Foi uma loucura: eu namorava, trabalhava e escrevia.
Ficava o dia inteiro na agência, à noite ia fazer as entrevistas. Tudo
com bate-papo. Uma coisa engraçada era a diferença das histórias. Eu
ouvia no sábado a história dela e no domingo, a dele, e parecia que não
era o mesmo namoro.

Estavam em outro mundo, com uma percepção errada um do outro.
Totalmente diferente. Homem e mulher não falam mesmo a mesma língua, impressionante.

Os relacionamentos “entrevistados” melhoraram?
Teve
relação tão confusa que precisou de terapia. Geralmente são as mulheres
que buscam a terapia – ‘o que eu estou fazendo aqui?’, ‘por que estou
vivendo esse tipo de relação?’

Você entrevistou seus “ex”?
Caí na burrice de entrevistar todos eles também.

Como foi?
Bem
difícil. Ah, o primeiro que entrevistei, depois fiquei sete horas
deitada, convalescendo e chorando. Porque fiz minhas perguntas mesmo.
Só que à medida que ele foi respondendo, fui me vendo na história. Mas
foi muito bom porque foi esclarecedor, tinha um monte de coisa que eu
não sabia e pensava ‘puxa, como eu não prestei atenção nisso’.

Acho que todo mundo já teve uma relação dessas.
Sim,
as pessoas se identificam com isso. Depois vem a maturidade e as
pessoas não querem mais esse tipo de relação. Adolescente tem muito
isso justamente pelo momento de autoestima, querem se rasgar todo. Bom,
a gente também fica burro quando está apaixonado. (risos)

É verdade! (risos)
Você
acha que está fazendo a coisa certa e não! Mas depois que passa por
essas relações, você fala ‘opa, agora eu sei o que quero’.

Mas tem mulher que fica com alguém pra não ficar sozinha.
É
o capítulo 10 do livro, mulher carente. Porque elas dizem que estão com
35 anos, precisam ter filho, casar. Mentira! Quem falou que você
precisa disso? E aí a busca gira em torno do filho ou do casamento e
nunca pelo homem. Aí, qualquer tranqueira serve.

E o seu blog, o que você fala lá?
Falo
só de relacionamento. E tem muitos casos que as pessoas falam, anoto
tudo, é lógico, mudo os nomes, mas deixo guardado, se um dia eu
precisar. Eu adoro escrever no blog.

Qual sua mensagem final?
Sempre
falo isso: não quero estimular as pessoas a terem relacionamento ioiô,
mas quero estimulá-las a terem esperança que as relações funcionem.

juliafernandes@gmail.com
www.relationchip.com.br

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