Duda Ribeiro, a|embaixatriz do samba

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Foto:

Duda Ribeiro

A sambista Duda Ribeiro
tem suas origens na Lapa e já completou 40 anos de carreira artística.
Sua vistosa figura sempre está presente nos vários eventos que
acontecem na região, como o último “A Lapa Somos Nóis”, onde ela se
apresentou com seu vozeirão característico e sua alegria que contagia a
plateia. Nesta entrevista, Dulcinéia Ribeiro, seu nome de registro,
conta entre outras coisas, que foi professora por 22 anos em colégios
da região e como chegou aos dias de hoje com um trabalho que se mantém
fiel às suas origens e à cultura brasileira.

Você nasceu aqui na Lapa?
Sim,
na Vila Ipojuca. Aliás, quase toda a família por parte de mãe e de pai
é daqui da região oeste, da Lapa e do Alto da Lapa. Me criei na Rua
Camboriú, antiga Rua Sérvia. Minha história é muito bonita. Minha mãe
dizia: “Vila Ipojuca, onde a gente cai, mas não se machuca” (risos).
Ela amava a Ipojuca e a Lapa e passou isso para mim. Graças à minha
mãe, me formei professora, como ela queria. E tive grandes professores
onde estudei: o Anhanguera, o Romeu de Morais. E foi na Fábrica de
Meias Titã, no Largo Tito, que tive meu primeiro emprego e com ele
ajudava minha mãe.

Quando professora, que matérias você lecionava?
Dei
aulas para o Fundamental 1 e depois Educação Musical, nas escolas
Guilherme Kulmann, Anhanguera e no Colégio Rainha da Paz. Formei muita
gente. Os alunos me chamavam de ‘Pro Duda’ e hoje encontro muitos deles
nos shows que faço. Isso é muito gratificante.

Seu nome foi escolhido como uma homenagem à Dulcinéia, a amada do Dom Quixote?
Sim,
foi dado pelo meu pai, que era compositor e um poeta do povo e gostava
muito do Dom Quixote. Minha mãe também foi pastora de carnaval. Tinha
uma voz maravilhosa. Minha família é muito musical. Na década de 1950,
meus tios formaram um trio chamado Anjos da Guarda, daqui da Lapa.

Como você iniciou com a música?
Foi
lindo. Meu pai achava lindo eu cantar e me levou em um evento chamado
“Clube do Papai Noel”, na Lapa de Baixo. Eu tinha sete anos. Com oito,
fui eleita a “rainha mirim da voz”, cantando “Se acaso você chegasse”,
de Lupicínio Rodrigues. Nas escolas que eu frequentava, sempre
participava de corais e grupos musicais.

Onde tinha música lá estava você, sempre…
As
colegas e as professoras já me incluíam. Sempre fui muito comunicativa.
Da timidez, só conheço a palavra. O significado dela e a vivência, eu
não tenho (risos). É um dom que Deus me deu.

Como você começou a cantar profissionalmente?
Comecei
com um grupo que dançava. Fiz cursos de expressão corporal, inclusive.
Eu dava aula de dança de salão, gostava de escola de samba, que conheci
através da minha irmã. Eu fazia shows com o Paulinho Japonês aqui da
Lapa e ele me levou para fazer um teste no “As Mulatas do Sargentelli”,
programa de grande audiência da época.

E como você se saiu?
Fiquei
uns seis meses. Como trabalhava na Telefônica, fiquei receosa de largar
o emprego fixo pela carreira artística. E decidi ficar na Telefônica.
Comecei em um dia que faltou uma cantora e o maestro Zezinho me deu a
oportunidade de começar a cantar. Me apresentei muito na Capitan’s Bar,
boate muito famosa que ficava no Hotel Comodoro. Só tínhamos folgas na
segunda-feira. Lá eu conheci muita gente famosa, como Geraldo Filme,
que foi meu padrinho, Roberto Ribeiro, Elza Soares me incentivou
bastante.

Qual era o seu repertório?
Cantava muitas
músicas da Maysa, que o pessoal gostava muito. Samba-canção e música
popular brasileira, Elis Regina, Doris Monteiro…

Tem preferência por algum compositor em especial?
Sempre
cantei Lupicínio Rodrigues, Vinicius de Moraes, Toquinho. Gosto muito
do Jorge Aragão, Adoniran Barbosa, Cartola. São vários.

Quem lhe influenciou?
Sempre
me disseram que eu caí um pouco para o lado da Elza Soares, por causa
do timbre da minha voz, o suingado. Eu gosto muito dela e da Alcione,
que eu amo de paixão.

Você não canta só samba…
Eu sou eclética. Gosto de samba de raiz, de música popular brasileira e até arriscava cantar alguma coisa em internacional.

E o seu CD mais recente?
É
o “Dona Duda Ribeiro canta bereré bereré”, que em urubá significa um
desejo de tudo de bom, paz, prosperidade, saúde. E quem produziu e me
deu esse mimo foi o Guga Stroeter, do Centro Cultural Rio Verde, na
Vila Madalena. O lançamento do CD foi no Grazie a Dio! Da capa ao
repertório, é um trabalho lindíssimo e fiquei muito contente com o
resultado. Eu sei que estou na boca do povo!

Tem diferença entre o samba de São Paulo e o do Rio de Janeiro?
Não
é bem diferença. O carioca canta mais despojado e em todas as esquinas
você encontra um bar e uma roda de samba. Aqui em São Paulo é mais
restrito. E tem os modismos. O samba caiu, aí veio o sertanejo, o pop.
Eu sei que tem muitos cariocas vindo para São Paulo para faturar. É
aqui que eles ganham dinheiro (risos).

Você se apresenta onde aqui em São Paulo?
Faço
muitos shows com a minha banda, a DR, que é composta por ex-alunos
meus. Há cinco anos, aos sábados, me apresento no Bar Brahma, na famosa
esquina da São João com a Ipiranga. É uma casa que oferece música
popular ao vivo na cidade. No sábado à tarde, me apresento na feijoada
do bar Torcedor que fica no Estádio do Pacaembu. Lá eu faço uma
homenagem a todos os clubes de futebol.

E no carnaval, você começou onde e como?
Foi
na Vai-Vai. Desfilei toda de dourado em uma época que a escola só saía
em preto-e-branco. Hoje minha escola é a Camisa Verde-e-Branco.

São muitos desfiles?
Sim,
muitos. E eu era muito ousada. Aqui na Lapa, pela Renascença da Lapa,
saí com os peitos nus pela Doze de Outubro. Deu matéria em jornal e
tudo. Eu e a minha irmã Angelina que bolamos as fantasias. Eu não me
conformo porque tiraram o desfile da Lapa.

E hoje, qual é a sua participação no carnaval?
Apresento
as escolas de bairro da Uesp, lá em Interlagos e no sambódromo. Acho
que o pessoal dos bairros deveria prestigiar mais. Falta apoio da
mídia. As escolas de acesso não têm a divulgação que precisam. Tirando
as escolas do grupo principal, nada mais.

Como foi ser eleita Embaixatriz do Samba?
Em
2005, fui eleita Cidadã-Samba. É para quem tem mais de 25 anos de
história com o samba. Depois que você passa o bastão para a próxima,
você fica com o título vitalício de Embaixatriz do Samba. E tem os
baluartes, que é o pessoal da velha guarda das escolas que lutou pelo
samba paulistano. Perante eles, me considero uma aprendiz. Eu me
espelho muito neles.

O que você acha das brigas entre as torcidas das escolas de samba durante o carnaval e na apuração dos desfiles?
É
inadmissível. Tanto no samba como em qualquer outro lugar. O carnaval é
cultura. Da minha Camisa Verde-e-Branco, espero que faça um bonito
desfile com o tema “Me respeite, estou no jogo”. A escola caiu? É uma
consequência, mas tem que continuar. Digo como integrante de escola: a
gente ganha sempre. Ganha porque está correndo atrás do que gosta e dos
sonhos. Sou contra a violência em qualquer segmento, principalmente no
samba.

O que você acha de festas populares, como a “A Lapa Somos Nóis”?
Graças
ao Bonelli, que não desiste, e o finado Décio Ferreira, que Deus o
tenha. Apesar das dificuldades é um marco importante e não podemos
perder este acervo. O público deveria aparecer em maior número e os
lojistas deviam apoiar mais. É uma tradição que não pode acabar. Sou
pela nossa cultura e apelo aos lapeanos que prestigiem os eventos que
acontecem em nosso bairro. Seja com chuva ou sol.

Seus chapéus são sua marca pessoal?
Adoro
chapéus. Eles são minha marca pessoal. E eu sempre procuro me
apresentar bem arrumadinha. O público gosta e merece respeito.

Você trabalha com suas irmãs…
A
Andressa é sobrinha-filha que eu criei e amo de paixão, me ajuda na
produção, no site. A minha irmã Angelita é minha estilista. A Tata,
outra irmã, é quem cuida dos meninos da banda. Ponho a família para
trabalhar (risos).

Sua mensagem final…
Peço que
todos os educadores, meus companheiros professores, parem de pensar só
no salário, sei que é pouco o que o governo paga. Mas se você é
professor, deve fazer o seu papel de educador. Precisamos educar o povo
brasileiro. É o que falta: educação, moradia e trabalho para irmos em
frente.

Isso dá um samba-enredo.
É verdade, dá samba (risos). E bereré bereré para todos os lapeanos.

duda_berereberere@ig.com.br

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