Um novo bairro

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Quem chega à Lapa e à Vila Leopoldina hoje, tem uma vaga idéia de como eram estes bairros há dez anos. A região ainda mantém um ritmo diferente da agitada metrópole paulista, mas mesmo assim ganhou novos ares: as casinhas de vila cederam lugar aos grandes empreendimentos imobiliários; chegaram casas noturnas e grandes academias, redutos de gente jovem, além de centros culturais, lojas de roupas e presentes.
O que vai acontecer com o meio ambiente, com o trânsito e a segurança, enfim, com a qualidade de vida da Lapa e Vila Leopoldina são alguns pontos preocupantes. Para se ter uma idéia, a rua Carlos Weber é a vedete do processo de verticalização da Leopoldina. Ao longo dos quase dois quilômetros de extensão há anúncios de novos lançamentos imobiliários. Para incorporadores, a região atrai por ter terrenos com preços acessíveis, excelente localização e infra-estrutura. Atualmente, 10 novos empreendimentos confirmam a vocação do trecho, que já foi apelidado de a “nova Moema”.
Diferentemente da Lapa, que era industrial, a Vila Leopoldina era uma área rural com currais, chácaras e estábulos. A exploração imobiliária ficou a cargo de empreendedores alemães, incluindo dona Leopoldina. Graças a isso, até hoje a zona central tem muitas ruas com nomes de origem germânica, como Mergenthaler, Frederico Wolff, Bauman e Hayden.
Depois da chegada da ferrovia, no começo do século passado, o bairro começou a tornar-se uma área industrial. A instalação da Ceagesp foi o passo definitivo para a vocação empresarial. Hoje, grande parte dos lançamentos imobiliários se ergue de antigos galpões que foram usados por transportadoras.
Para analisar essas mudanças, o Guia Daqui conversou com o lapeano Newton Salva, delegado seccional Oeste do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci).

Como observa as mudanças pelas quais passa o bairro?
Veja mudanças na Vila Leopoldina e Alto da Lapa acontecendo de 1990 para frente. Até então a procura era maior pela Lapa e Alto da Lapa, na questão da verticalização. Isso ocorre em função das necessidades, das demandas do mercado, valores da época. Devemos levar em conta que a Lapa, Leopoldina, toda a Zona Oeste são pontos estratégicos. Vejo que esta região sempre foi atrativa por estar bem localizada, e a procura. As pessoas sempre viram o Alto da Lapa como um bom local de moradia. Estamos ao lado de uma City Lapa, com arborização. Depois disso surgiram os parques, como o Villa Lobos, que é um referencial forte na região. Isso proporcionou este crescente. A Vila Leopoldina veio suprir essa demanda.

Mudou o perfil de quem procura imóveis na região?
Sim. Procura pela classe média, por aquele casal que quer ter a sua família. Os empreendimentos construídos neste período são focados nesta busca.

Esta mudança de perfil fez com que os projetos arquitetônicos dos condomínios, por exemplo, fossem adaptados para este novo público?
Vejo a Leopoldina assim. A demanda aqui é mais por jovens. Têm pessoas até mesmo de outros bairros vindo para a Leopoldina por ter uma condição de vida melhor.

O bairro conta, hoje, com muitos bares, restaurantes, academias, e escolas de educação infantil. Como o mercado imobiliário lida com isso?
Esses empreendimentos andam em paralelo às construções. Se existo em um local que era por tradição industrial, como a Lapa e a Leopoldina, com muitas fábricas e galpões, o perfil tem que ser mudado. O comércio vem para atender essa demanda. Há necessidade disso. Chegaram os bufês. Se pegarmos a Vila Madalena como referência, vemos que houve um fluxo de verticalização, cresceu a oferta de prestação de serviços de todos os gêneros. Creio que a região aqui também seguirá este cenário.

Como o Creci trabalha para que a verticalização não seja desorganizada e que seja preservada a memória do bairro, como as vilas e casinhas antigas?
Isso é mais da área dos incorporadores, aliada a legislação municipal. Temos o Plano Diretor Estratégico. Creio que seja em cima disso que se trabalha. Este plano dá um equilíbrio a esta demanda. Antigamente tínhamos a questão do zoneamento. Mas não era com o embasamento que está sendo proposto hoje, muito embora o Plano Diretor já esteja em vigor. É uma questão de adequação até porque as próprias imobiliárias e o comércio em si têm que se adaptar para que se tenha uma condição de vida boa. A comunidade também precisa conhecer essa lei. O Plano Diretor é estratégico para cada bairro, ou seja, cada sub distrito. É isso que precisa ser observado.

E precisa ser cuidado…
Claro. Acho que na própria legislação já existe esta precaução. O que precisa é mais conhecimento da comunidade. Creio que ainda hoje isso não está muito claro para as pessoas e para o comércio. Não se sabe onde pode ou não construir prédios. No momento, temos questões sendo propostas pelas subprefeituras, encontros com a comunidade, para que se traga isso ao conhecimento público e seja debatido. Antigamente, se instituía a lei e pronto. Hoje há uma preocupação e temos que nos adequar.

Quais suas previsões para a região?
O que eu vejo é a necessidade de se manter sempre uma condição favorável de moradia. O crescimento pode atingir o sistema viário e o meio ambiente. Aqui temos a preservação da City Lapa, quer dizer, os moradores têm uma condição de vida favorável. Temos até um fluxo de poluição mais ameno, o que não quer dizer que não tenhamos poluição. É preciso ficar alerta quanto a esses aspectos para que não haja abuso. Temos que trabalhar juntos. A demanda populacional é crescente, haja visto os empreendimentos que estão sendo lançados. Tudo isso está dentro do parâmetro legal. Mas a região cresce porque ainda há algumas áreas disponibilizadas. Quer dizer, na Lapa hoje não temos mais terrenos, mas casa e vilas. Há um trabalho de se unir estas áreas para se fazer uma incorporação e isso se reflete em custos elevados. Já na Leopoldina há áreas que podem ser destinadas a empreendimentos e isso está previsto no Plano Diretor Estratégico. É uma questão de se conhecer os mecanismos. Sempre voltando lá atrás, a região proporciona esta condição.

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