Para todos os públicos

0
1483

A Lapa foi surgindo aos poucos, primeiro com propriedades rurais. A vinda da estrada de ferro no século XIX foi fundamental para o crescimento da região: o trem fazia uma parada ligeira, próxima ao Anastácio, para atender uns poucos moradores (e uma parada maior na estação Água Branca). Logo as propriedades rurais da região foram sendo loteadas e começava a se definir o caráter urbano do bairro. Chegaram as indústrias, Vidraria Santa Marina e Frigorífico Armour, e começou uma expansão mais acelerada. Lapa de Baixo, Vila Romana, Vila Leopoldina, Vila Hamburguesa, Anastácio – o bairro crescia. O comércio também prosperou, imigrantes foram se instalando e a Lapa se tornava um dos grandes bairros da capital paulistana.

Ainda hoje o bairro tem um comércio vibrante, boas escolas, algumas indústrias, mas poucos lugares para manifestações culturais. Na década de 1940 e 1950, quando a televisão ainda engatinhava, as salas de cinemas eram muitas e ainda estão na memória de muitos moradores: o Cine Tropical, na rua Roma, o Cine Nacional, na rua Clélia (onde era o Olímpia), o Cine Carlos Gomes, na rua Doze de Outubro, o Cine Recreio, na Lapa de Baixo, o Cine Jaraguá, na rua Catão, o Cine Brasília, na esquina da rua Mercedes com rua Brigadeiro Gavião Peixoto, na década de 1960 tinha também o Cine Jacimar, na rua Nossa Senhora da Lapa – essa era a maior agitação do bairro. Atualmente, a única mas boa opção são as três salas do Shopping Center Lapa. Na falta de mais salas, é possível recorrer aos bairros vizinhos, que oferecem mais opções em shoppings e salas de cine arte.
As manifestações teatrais também ganharam algum destaque na região. As companhias têm à disposição excelentes teatros, como o Cacilda Becker (veja box), o Tendal da Lapa e o Teatro do Sesi Vila Leopoldina. O Tendal está a 18 anos em atividade, num espaço de 7.400 m2, promovendo cursos e apresentações de música e teatro. O Teatro do Sesi, inaugurado em 2005, traz montagens profissionais e bons autores.
Em antigos galpões de uma tecelagem encontramos o Tendal da Lapa e também a Estação Ciência, que oferece cursos, exibições e mostras do conhecimento científico.
O Centro Cultural Sesi Vila Leopoldina é um espaço que trouxe uma lufada de cultura à região. Ali estão reunidos, além do teatro, biblioteca, gibiteca, cineclube, laboratório de linguagem eletrônica.
A Lapa também tem duas bibliotecas infanto-juvenis muito boas: a Cecília Meireles e a Clarice Lispector, além da Mario Schenberg. Aliás, essa biblioteca também promove eventos culturais como encontro com escritores, exposições, cursos, oficinas, palestras.
Ainda encontramos o interessante Museu do Relógio DIMEP, com 800 relógios de várias épocas e lugares. Um bom programa!

Fácil acesso

Devido a sua excelente localização, entre as Marginais, também é fácil a locomoção para lugares próximos daqui, como o Pico do Jaraguá, o ponto mais alto da cidade de São Paulo, com 1.135 metros, onde fica também o Parque Estadual do Jaraguá, tombado pelo Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico. Próximo também do bairro estão os parques Villa-Lobos, da Água Branca e Cidade de Toronto, no Parque São Domingos.

Teatro Cacilda Becker

Renato de Oliveira Proença, é coordenador do teatro e trabalha com isso há 46 anos. Além de entender todo mecanismo da profissão que tem, ele fala com paixão das pessoas, das peças, das companhias que já viu atuar. Acompanhe aqui sua trajetória.

“No dia 25 de janeiro de 1988 foi inaugurado o Teatro Cacilda Becker, no governo do Jânio Quadros, pelo secretário de cultura Renato Ferrari, que foi presidente da Fundação Padre Anchieta. Fizemos uma camerata, lindíssima.
A história deste teatro tem um fundamento: a Zona Oeste e a Zona Norte não tinham teatros da prefeitura e Jânio achou de bom alvitre construir um teatro em cada região. Assim construiu o Cacilda aqui na Lapa e o Alfredo Mesquita em Santana, e outro em Cangaíba, na Zona Leste, o Teatro Flavio Império, que está fechado. Os três iguaizinhos, o mesmo projeto de construção.
Na época não tínhamos verba para divulgar o teatro, então eu saía por aí quebrando a cara e pedindo por favor. Foi quando conheci o Kazu (antigo editor deste Guia). Ele me ajudou bastante a divulgar o teatro na época. Um bom amigo.
Não fiquei direto aqui: também fui coordenador do Teatro João Caetano, Teatro Paulo Eiró e do Teatro Municipal por seis anos, num trabalho de segunda a domingo, sem hora para terminar.
Eu administro teatros desde 1966. Comecei no TBC, dia 8 de setembro de 1966, com a peça A Infidelidade ao Alcance de Todos, do Lauro César Muniz, com um elenco de primeira: Procópio Ferreira, Rodolfo Maia, Altair Lima, Francisco Cuoco, Rosamaria Murtinho, Glória Menezes, direção do Valter Avancini e cenário do Vladimir Pereira Cardoso, que era marido da Ruth Escobar.
Na verdade eu era despachante de teatro, mas já trabalhei com todas as manifestações artísticas: desde teatro de revista, balé, drama, comédia, musical, até circo. E cada um tem sua peculiaridade. O circo foi no Rio de Janeiro, em 1974, com uma peça de teatro encenada no circo, era Godspell, que tinha no elenco Wolf Maia, Zezé Motta, Lucélia Santos e Kadu Moliterno.
Eu costumo dizer que não tenho mais pecado, quando morrer vou para o céu… Só aqueles quatro meses administrando esse circo foram suficientes para pagar todos os meus pecados, porque é muito complicado, os artistas não tinham acomodações decentes, eram barracas improvisadas, já tinham gangues de rua que vinham atrapalhar. Aqui é tranqüilo e via de regra quem freqüenta é pessoal do bairro (60%).
Aqui é a menina-dos-meus-olhos, mora no meu coração, todas as vezes que saí daqui, eu pressionei para voltar. Eu gosto deste teatro, conheço desde os alicerces, acompanhei a construção. Fico aqui até morrer ou me mandarem embora.”

Cacilda Becker nasceu em Pirassununga em 1921 e morreu em São Paulo em 14 de junho de 1969. Considerada uma das maiores atrizes brasileiras, ela teve um aneurisma em pleno palco, encenando Esperando Godot, junto com o marido Walmor Chagas.

COMPARTILHE
Próximo artigoGente 296

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA